- Pesquisa recente descobriu que aproximadamente uma em cada duas pessoas que trabalham no mercado financeiro mudaria de emprego – ou já fez isso – se seus gestores exigissem que elas passassem mais tempo no escritório
- O número de participantes da pesquisa ficou bem acima da média das consultas MLIV Pulse recentes, num sinal de que o retorno ao escritório ainda é um tema importante entre muitos profissionais
- Os governantes das cidades estão entre os maiores defensores do trabalho presencial, preocupados com o impacto que o trabalho remoto teve nos centros comerciais
A mais recente pesquisa Markets Live Pulse descobriu que aproximadamente uma em cada duas pessoas que trabalham no mercado financeiro mudaria de emprego – ou já fez isso – se seus gestores exigissem que elas passassem mais tempo no escritório. Google dá ultimato contra home office, entenda
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Mais da metade dos 1.585 entrevistados em todo o mundo, que incluíam 1.320 profissionais do setor e 265 investidores de varejo, preferem um esquema de trabalho híbrido, enquanto apenas cerca de 20% preferem trabalhar no escritório.
O número de participantes da pesquisa ficou bem acima da média das consultas MLIV Pulse recentes, num sinal de que o retorno ao escritório ainda é um tema importante entre muitos profissionais. Obviamente, é mais fácil dizer que se pretende pedir demissão a adotar o esquema híbrido, quando se faz isso sob a proteção do anonimato, do que fazer isso na prática.
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Os chefes de Wall Street estão entre aqueles que mais pressionam pelo retorno ao escritório cinco dias por semana. O JPMorgan Chase acabou com os acordos de trabalho remoto para seus diretores em abril, dizendo que agora eles devem estar no escritório todos os dias da semana. A política chega logo após os comentários do CEO do banco, Jamie Dimon, no início deste ano, de que trabalhar de casa “não funciona” para profissionais mais jovens ou chefes.
Cerca de 40% dos profissionais do mercado financeiro dizem que já trabalham no escritório quatro dias por semana ou mais, de acordo com a pesquisa MLIV Pulse – praticamente o dobro do número que disse preferir trabalhar no escritório.
Embora o setor financeiro não tenha visto demissões na mesma escala que o de tecnologia ou do varejo, um relatório da Challenger, Gray & Christmas, empresa de coaching e recolocação de executivos, mostra que o setor cortou quase 37 mil postos de trabalho nos Estados Unidos até agora em 2023, um aumento de 320% em relação ao mesmo período no ano passado.
O Goldman Sachs está trabalhando no que seria a terceira rodada de demissões em menos de um ano, já que os negócios continuam meio parados. O Morgan Stanley iniciou sua segunda rodada de cortes em menos de seis meses.
Apesar do número alto de demissões, segundo Andy Challenger, vice-presidente sênior da Challenger, Gray & Christmas, o cenário para aqueles em busca de um emprego em bancos não é tão terrível quanto talvez pareça. Os empregadores dos EUA realizaram cerca de 339 mil contratações em maio, um boom na folha de pagamento que superou bastante as expectativas e reforçou a percepção de que a situação econômica dos trabalhadores permanece relativamente forte.
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“Quando olhamos para o mercado de trabalho como um todo e analisamos o setor financeiro, o desemprego continua muito baixo, historicamente baixo”, disse Challenger. “Ainda há vagas de empregos disponíveis e as empresas ainda estão contratando. Portanto, não é um mercado de trabalho terrível para dar uma olhada em novas oportunidades.”
De acordo com a pesquisa MLIV Pulse, as demissões não influenciaram a frequência com que as pessoas frequentam o escritório. Apenas cerca de um em cada dez profissionais de Wall Street disse que as recentes demissões o motivaram a passar o crachá na portaria mais vezes.
A maior dificuldade seria encontrar outro emprego no setor com horários mais flexíveis, disse Challenger, já que muitas das grandes empresas financeiras mudaram suas políticas de trabalho remoto em conjunto. Entretanto, mais de dois terços dos bancos oferecem flexibilidade total ou um esquema híbrido, de acordo com uma pesquisa da Scoop Technologies, uma empresa que ajuda as organizações a coordenar as equipes em regime híbrido.
“Mudar a exigência de dois para três dias no escritório pode provocar algumas reclamações, mas provavelmente não seria um fator para se pedir demissão”, disse Rob Sadow, cofundador e CEO da Scoop. Mas, ao tentar ultrapassar o limite de quatro dias, os empregadores podem começar a ver a dinâmica mudar.
“Quatro dias por semana ou mais vai fazer muitas pessoas ligarem o alerta e, no mínimo, pesquisarem quais são suas opções”, mesmo se um cenário macroeconômico difícil sugerir ficar onde estão, disse ele.
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“Os funcionários estão muito apreensivos em ceder nem que seja só um pouquinho no que diz respeito à flexibilidade. Acham que se abrirem mão de um pouquinho o empregador pode continuar tirando mais”, disse Sadow sobre o número de entrevistados que afirmaram que pediriam demissão caso fosse exigido ir mais ao escritório. “Por isso, percebemos uma retórica ou resposta realmente forte a respeito da flexibilidade, porque eles acham que não vão lhe pedir apenas para irem mais um dia – parece uma deixa para que peçam um retorno total ao escritório.”
Por ora, o fator mais poderoso para quanto tempo as pessoas passam no escritório parecem ser as políticas da empresa: cerca de 86% dos profissionais do mercado financeiro estão obedecendo as exigências de trabalho presencial de seus empregadores. Aqueles que não estão acatando as exigências dizem que, na maioria das vezes, não enfrentam consequências.
Dos 1.320 profissionais entrevistados, apenas 28 disseram que foram repreendidos por seu gestor ou pelo RH por não cumprirem as exigências. Cinco entrevistados disseram que sofreram punições relacionadas com sua remuneração e dois afirmaram terem sido demitidos.
A maioria dos investidores diz que suas decisões de investimento não são impactadas pelo fato dos profissionais trabalharem de casa ou no escritório. Cerca de 22% dos investidores profissionais e 25% dos investidores de varejo afirmaram estar mais preocupados com a segurança e compliance dos investimentos quando seus interlocutores trabalham de casa.
Os governantes das cidades estão entre os maiores defensores do trabalho presencial, preocupados com o impacto que o trabalho remoto teve nos centros comerciais. A cidade de Nova York, por exemplo, está perdendo mais de US$ 12 bilhões por ano, pois os trabalhadores passam 30% menos dias no escritório e, portanto, utilizam menos os serviços dos comerciantes de Manhattan durante a semana, de acordo com uma análise da Bloomberg News. Nova York, Chicago, São Francisco e Filadélfia ainda estão vendo uma queda acentuada na movimentação na hora do almoço em comparação com antes da pandemia, de acordo com o provedor do software para gestão de restaurantes Toast – uma tendência atribuída tanto ao trabalho em esquema híbrido como à inflação que aumentou o custo de se comer fora.
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A pesquisa MLIV Pulse mostrou que mesmo os profissionais do mercado financeiro, que costumam ter rendas maiores que a média dos residentes da cidade, estão controlando os gastos durante a semana: enquanto metade afirmou que seus hábitos alimentares não mudaram nada depois da pandemia, cerca de um terço está levando o almoço de casa, comendo no escritório ou indo direto para casa sem parar em algum lugar para beber algo depois do expediente com mais frequência do que antes.
A MLIV Pulse é uma pesquisa semanal com os leitores da Bloomberg News realizada pelo terminal e on-line, conduzida pela equipe de Markets Live da Bloomberg, que também administra o MLIV Blog 24h por dia, sete dias por semana no terminal. A pesquisa sobre o retorno ao escritório, realizada entre 29 de maio e 2 de junho, atraiu respostas de gestores de carteiras, pesquisadores, estrategistas, economistas, traders, banqueiros de investimento, assim como de investidores de varejo.