Junho tem mostrado queda dos criptoativos – em movimento indicado com uma realização após o bom momento de maio. Ainda assim, o bitcoin está se mantendo acima da importante marcas dos US$ 100 mil dólares e os sinais macroeconômicos dos Estados Unidos são observados atentamente.
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O grande gatilho para as oscilações positivas são os dados que indicam que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) pode começar a cortar as taxas de juros. A queda dos juros é vantajosa para os ativos de risco, como moedas digitais.
“O bitcoin se beneficia diretamente de momentos em que o dinheiro volta a circular com mais fluidez. Quanto menor o custo do capital, maior o fluxo para ativos com alto potencial de valorização. Foi exatamente o que vimos nos ciclos de alta passados, especialmente entre 2020 e 2021”, aponta Luísa Pires, líder de análise e fundadora da LP Crypto. Ela indica ainda que a queda dos juros nos EUA não suscita dúvidas: a questão é quando é que vão recuar e em que ritmo.
Na última sexta-feira, 6, os dados de emprego (Payroll) de maio nos Estados Unidos vieram acima da mediana das estimativas do Projeções Broadcast, com 139 mil postos de trabalho criados. O número significa que a economia americana segue forte, e portanto os juros podem ficar altos por mais tempo.
A reação direta aos dados econômicos reforçam que bitcoin e o mundo cripto tem uma crescente exposição às condições financeiras tradicionais e ao desenvolvimento político global, aponta a Tagus Bites. A correlação se fortalece ao passo que o mercado cresce e mais investidores institucionais entram. A adoção dos fundos de índice (ETFs, na sigla em inglês) de cripto spot nos EUA, no ano passado, aumentou muito essa associação de cripto e o mercado convencional.
Para Theodoro Fleury, gestor e diretor de investimentos da QR Asset Management, os juros americanos são importantes, mas não o único fator macro direcionador dos preços. Ele avalia que o aumento de oferta monetária total, designada pela sigla M2, é um fator talvez até mais importante. O total de moedas circulando tem uma correlação direta com o preço do bitcoin. Conforme análises gráficas, quando a liquidez global aumenta, há um atraso de cerca de 80 dias para a principal moeda digital se valorizar em proporção parecida. O aumento da M2 nos últimos anos tem correlação com a elevação da oferta de crédito, assim como com as políticas monetárias expansionistas e a emissão de títulos privados de instituições financeiras.
Ainda, este ano tem sido marcado pela profusão de novas empresas anunciando o bitcoin como ativo estratégico de reserva. Alguns adotam estratégias agressivas de acumulação como a americana Strategy, de Michael Saylor. No Brasil, a Méliuz é o destaque nesta tendência. “O volume total previsto de compra por essas empresas é relevante, e tem influência significativa no preço do bitcoin”, afirma Fleury.
Maio positivo
A segunda gestão de Donald Trump como presidente dos EUA, com destaque para a guerra comercial travada com a China e suas inúmeras reviravoltas, tem contribuído para o avanço de cripto ao longo de 2025. Em maio, o bitcoin bateu a sua máxima histórica, aos US$ 111.970,17 com o Congresso americano aprovando a proposta de reforma tributária de Trump. Temores de que o endividamento dos EUA pode se descontrolar fizeram investidores buscarem alternativas ao dólar.
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Ao longo do ano, a principal moeda cripto sobe cerca de 13%. Uma correção ocorre em junho, sobretudo numa realização de lucros recentes. Já ethereum, segunda maior moeda em capitalização, cai cerca de 25% em 2025, mesmo com o salto de 40% nos últimos 30 dias. Neste caso, o avanço do último mês foi impulsionado por um renovado interesse institucional, de acordo com a gestora especializada Hashdex.
E junho?
Para junho e o restante do ano, a analista técnica Ana de Mattos, da Ripio, enxerga que o mercado cripto dá sinais de desaceleração. “Junho começa com forte expectativa, mas o mercado está claramente comprimido entre US$ 105 mil e US$ 111 mil. A continuidade da valorização dependerá, principalmente, de uma combinação entre narrativa pró-cripto, fluxo institucional e dados macro favoráveis.”
Para ela, o momento é favorável para quem quer construir uma posição estratégica em bitcoin, com aportes mensais feitos com disciplina, em especial durante fases de consolidação dos preços.
A casa de análise cripto Mercurius aponta que há chances de uma realização nos preços que leve o bitcoin aos US$ 90 mil no curto prazo. Isto não indica um fim do bull market – mas evidencia que ” o caminho até os US$ 120 mil (ou mais) pode não ser tão direto quanto alguns esperavam”, afirma relatório assinado por Gabriel Bearlz, diretor de análise da Mercurius.