O ano em que o bitcoin andou de lado e a memecoin de Trump disparou; veja o top 5 das criptos em 2025
Bitcoin viveu uma montanha-russa diante do tarifaço e a guerra comercial iniciada pelo presidente americano, mas, no geral, as criptos têm ganhado mais força; entenda
Memecoin ligada a Trump virou marco do ano. Bateu US$ 10 bi no lançamento e quase quadruplicou de valor em 2025. Foto: AdobeStock
O ano de 2025 foi de alegria e frustração para o mercado de criptoativos, com início promissor e novos topos ao longo dos meses, mas decepção no final. O bitcoin, principal referência do mercado, iniciou janeiro rompendo a barreira dos US$ 100 mil, caiu forte em abril devido ao tarifaço de Donald Trump e voltou a subir com força até chegar perto dos US$ 125 mil em outubro. Apesar da recuperação extraordinária, termina o ano numa baixa melancólica, andando de lado na marca dos US$ 90 mil.
Na maior parte desse tempo, as decisões de Trump determinaram os movimentos dos mercados e, no caso dos criptoativos, sua atuação foi ainda mais relevante. O ano começou embalado pela visão “desregulatória” do presidente americano sobre as criptos, depois de um governo Joe Biden considerado hostil e burocrático.
“A sinalização de mudança foi muito significativa, era difícil admitir um mercado que se propõe global sem a participação de 25% do PIB mundial”, observa Fabricio Tota, VP de Cripto Affairs no Mercado Bitocoin e colunista do E-Investidor.
Memecoin de Trump entre as barbadas de 2025
Esses sinais funcionaram como gatilho para o capital institucional acelerar projetos ligados à blockchain, através dos ETFs que haviam sido regulamentados em 2024 pela SEC, “apesar de Gary Gensler”, lembra Tota. Gensler foi presidente da Securities and Exchange Commission (SEC), o órgão regulador do mercado de capitais nos EUA, durante o governo Biden, e só aprovou os ETFs de cripto após decisões judiciais.
O episódio mais simbólico da virada de chave ocorreu três dias antes da mudança de governo nos EUA, com o lançamento de uma memecoin associada ao próprio Trump, que chegou a bater US$ 10 bilhões em valor de mercado no dia da posse em 20 de janeiro.
A iniciativa foi alvo de críticas pelo conflito de interesse, mas se tornou um marco da guinada e uma das melhores apostas do ano do mundo cripto, com mais de 260% de retorno. Veja abaixo o top 5 dos criptoativos em 2025.
Além da retórica pró-cripto, o governo Trump atraiu nomes de peso do setor financeiro, e com experiência em blockchain, para compor uma espécie de gabinete dedicado ao tema.
A agenda incluiu ainda o perdão a um personagem emblemático da comunidade “bitcoiner”, Ross Ulbricht, condenado anos antes à prisão perpétua por sua operação na Silk Road, marketplace dark web que usava bitcoin como moeda anônima.
Trump moveu o mercado
O desenrolar do segundo mandato de Trump, no entanto, guardava surpresas desagradáveis. As primeiras medidas econômicas de seu governo, relacionadas às tarifas de importação, adicionaram volatilidade ao ambiente geopolítico e interromperam a expectativa de uma queda mais acelerada dos juros nos Estados Unidos.
Nesse ambiente, a lógica do capital prevaleceu. “O dinheiro não tem moral”, resume Tota. “Ele não migra apenas porque a regulação ficou favorável; ele vai onde há oportunidade.” Em abril, mês do chamado Liberation Day, o bitcoin bateu sua pior marca no ano, US$ 75 mil.
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A queda também evidenciou a correlação crescente dos criptoativos com o mercado financeiro tradicional. A entrada do investidor institucional alterou de forma estrutural os ciclos que marcavam a fase em que o varejo dominava o mercado. Um dos efeitos foi o fim da lógica clássica do pós-halving.
A altcoin season esperada para 2025 não se materializou. Com instituições concentrando posições em bitcoin e sem mandato para girar carteira em direção às altcoins, o fluxo que historicamente alimentava essa segunda etapa do ciclo não ocorreu.
Grandes gestores passaram a ditar preços
E a mudança não ficou só nisso. A entrada do capital de grande porte trouxe um novo player capaz de mover preços. Os ETFs spot de bitcoin, que bateram recordes históricos de captação e chegaram rapidamente à marca de US$ 100 bilhões sob gestão, também passaram a exercer um peso determinante sobre o preço.
E o mesmo fluxo que fez a criptomoeda bater os US$ 124 mil em outubro, em questão de dias também puxou seu preço para baixo. Na terceira semana de novembro, o bitcoin caiu para US$ 84 mil, um recuo de mais de 30% em quase 30 dias, reflexo de um mercado global que buscou posições mais defensivas.
Paulo Aragão, host do podcast Giro Bitcoin, avalia que esse movimento, embora desconfortável, é típico de um mercado que amadureceu e hoje incorpora o comportamento de grandes gestores. “O bitcoin hoje é muito mais relevante do que em ciclos anteriores, mas continua sendo um ativo jovem, com movimentos naturalmente amplificados.”
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A opinião é compartilhada por Valter Rebelo, head de criptoativos na Empiricus. Ele acredita que a correlação tende a crescer, principalmente em momentos de aversão ao risco. “Em abril houve o medo das tarifas e agora em novembro tem essa discussão sobre incerteza de cortes de juros, fazendo small caps e cripto sofrerem juntas.”
Bitcoin como reserva de tesouraria
No campo corporativo, 2025 também marcou a expansão do modelo inaugurado pela MicroStrategy (MSTR), que transformou sua estrutura em uma Bitcoin Treasury Company, empresa cuja principal atividade é acumular bitcoins como estratégia de alocação. A abordagem, antes vista como uma ousadia de Michael Saylor, passou a ser replicada em outras jurisdições e ganhou destaque no Japão.
No Brasil, duas companhias adotaram o mesmo roteiro. A Méliuz (CASH3), que ajustou seu modelo de negócios para ter o bitcoin como ativo central de tesouraria, e a OranjeBTC (OBTC3), que realizou um IPO reverso (adquiriu a Intergraus, uma companhia de educação já listada na B3) para se tornar uma empresa dedicada exclusivamente à acumulação de bitcoins.
Nos Estados Unidos, a tendência começou a se expandir para outros ativos digitais. “Se a gente tem uma Bitcoin Treasury Company, por que não uma Ether Treasury Company, uma Solana Treasury Company?”, questiona Tota.