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Criptomoedas

Inflação de moedas pode sumir em 20 anos, diz professor da Duke University

Para Campbell Harvey, as finanças descentralizadas devem “democratizar” o sistema financeiro

Inflação de moedas pode sumir em 20 anos, diz professor da Duke University
(Foto: Duke University’s Fuqua School of Business)
  • Com as finanças descentralizadas, as pessoas terão a oportunidade de utlizar ativos digitais como forma de pagamento
  • A mudança deve trazer mais competitividade para as moedas fiduciárias que são emitidades pelos Bancos Centrais
  • No entanto, essa realidade só deve acontecer com o amadurecimento do mercado de criptomoedas

Com o despertar do interesse dos investidores institucionais, as criptomoedas ganham ainda mais relevância no mercado financeiro. O bitcoin (BTC) por ter sido a pioneira e por possuir o maior valor de mercado entre os ativos digitais se torna uma vitrine para essa nova classe de ativos.

Mas por trás do BTC há uma infinidade de moedas digitais atreladas a novas tecnologias que prometem revolucionar o sistema financeiro atual. As finanças descentralizadas são uma delas.

É claro que esse movimento ainda deve sofrer os muitas altas e baixas nos próximos anos. Essas variações, segundo Campbell Harvey, professor de finanças da Duke University, fazem parte do processo de amadurecimento das novas tecnologias. Trata-se de um “filtro” das soluções com os melhores fundamentos.

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“Se você estudar o que aconteceu com a internet no final da década de 1990, é um exemplo do que está acontecendo hoje com as finanças descentralizadas“, explica Harvey em entrevista ao E-Investidor.

No entanto, as finanças descentralizadas prometem mudar por completo a forma como enxergamos o sistema financeiro. Para ele, o amadurecimento da nova tecnologia deve permitir que as pessoas tenham mais de uma opção de “moedas” de pagamento, além das tradicionais (as moedas fiduciárias emitidas pelos Bancos Centrais).

“Você poderá ter tokens diferentes que representam ativos, como tokens lastreados em dólares americanos”, afirma. “Você poderá escolher com o que deseja pagar. Isso oferece uma competição para as moedas nacionais fiduciárias”, acrescenta.

A competitividade poderá trazer nas próximas décadas a redução da inflação das moedas fiduciárias. “Em 15 a 20 anos, vamos olhar para a inflação das moedas fiduciárias como uma curiosidade histórica”, acredita.

Confira os principais trechos da entrevista:

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E-Investidor – Se as criptomoedas têm caráter descentralizado e nasceram com a intenção de se tornar uma alternativa ao mercado financeiro tradicional, por que os preços são pautados pelo mercado tradicional?

Campbell Harvey – No início de 2020, houve uma mudança dramática na correlação entre bitcoin e ethers e nos retornos do mercado de ações em geral. Historicamente, a correlação estava perto de 0. Agora, é uma correlação muito alta e isso é uma indicação de que há um perfil diferente de investidor especulando em criptomoedas, do investidor de varejo.  A mudança ficou muito evidente em março de 2020, quando o mercado de ações dos EUA caiu 35%.

Quando as vacinas se tornaram uma realidade, o mercado acionário subiu e as criptos atingiram o seu pico máximo. O mesmo movimento se repetiu. Isso significa que quando as incertezas (macroeconômicas) aumentam, as pessoas descartam seus ativos de risco, como ações e as criptomoedas. Ou seja, o benefício da diversificação diminuiu.

A especulação sobre o potencial de retorno financeiro no mercado de criptomoedas atualmente é alta entre os investidores. Quais são as características de um projeto de cripto que deve sobreviver nos próximos 5 a 10 anos?

Harvey – O mercado de criptomoedas é um espaço muito diversificado, mas a maior parte da atenção da mídia se concentra em moedas como o Bitcoin. Mas há uma diversidade de oportunidades em termos de quais realmente terão sucesso e falharão.

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Não posso nomear empresas em particular porque não dou conselhos de investimento, mas as características básicas que procuro são: quais problemas são problemas importantes? A tecnologia blockchain é a melhor maneira de resolver esse problema?  Eu vejo também para a competitiva e para a qualidade das pessoas (envolvidas no projeto), juntamente com a capacidade de dimensionar a ideia e aplicá-la em diferentes contextos. Então, essas são algumas das características que eu observo quando estou avaliando um novo empreendimento.

Os recentes casos de solvência envolvendo plataformas de criptomoedas é um alerta para os investidores?

Harvey – Como estamos no início dessa inovação, haverá altos e baixos e altos e baixos severos, e não acabou, vai continuar. Isso é muito típico de qualquer nova tecnologia. Se você estudar o que aconteceu com a Internet no final da década de 1990, é um exemplo do que está acontecendo hoje com as finanças descentralizadas.

O mercado de criptomoedas traz para a sociedade muitas inovações como as NFT’s. Em que direção as criptomoedas estão indo com essas inovações?

Harvey – Há muitas aplicações diferentes de NFTs que são positivas, como o uso para a indústria da moda. A privacidade é uma característica do NFT. Então, não teremos cartões de crédito e débito, passaportes ou carteiras de motorista. Você terá apenas uma identidade, como um NFT, que será exclusivo e individual. Vejo que há muitas aplicações interessantes.

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Como serão as inovações e a vida cotidiana da sociedade daqui a cinco anos?

Harvey – Hoje pagamos por produtos em uma loja com a moeda fiduciária. No futuro, na sua carteira que é o smartphone, você poderá ter tokens diferentes que representam ativos, como tokens lastreados em dólares americanos, ou ouro, um título e talvez em ações. Você pode escolher com o que quer pagar. Isso oferece uma competição para as moedas nacionais fiduciárias. Faço uma declaração meio provocativa para as pessoas em seu país (no Brasil), que, entre 15 e 20 anos, vamos olhar para a inflação das moedas fiduciárias como uma curiosidade histórica.

Por que a inflação pode se tornar uma curiosidade histórica?

Harvey –A inflação é medida em moeda fiduciária. Vamos imaginar que uma bicicleta custe R$ 8,5 mil ou aproximadamente o preço de uma onça de ouro. Agora, imagine que o governo dobre a circulação de dinheiro ao enviar mais dinheiro para a população. As pessoas irão gastar mais e os preços praticamente dobram. Essa bela bicicleta passa a custar R$ 17 mil reais, ou seja, uma inflação de 100%. No entanto, você ainda pode comprar a bicicleta por uma onça de ouro sem nenhuma inflação em seu token lastreado em ouro.

Atualmente, estamos experimentando um pouco sobre o que queremos que todo o sistema financeiro se torne?

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Harvey – Estamos vivendo uma popularização e amadurecimento das finanças descentralizadas. Nesse universo, você precisa de um telefone celular e ele será o seu banco e todo mundo estará bancarizado. Em termos de democracia, seremos todos pares em finanças descentralizadas. Não haverá banqueiro e cliente. Não haverá investidor institucional ou de varejo. Todos serão tratados igualmente. Isso é muito importante para o avanço do nosso sistema financeiro atual.

Temos o poder do mercado exercido pelos bancos centrais, monopolizando a moeda fiduciária. Temos o poder de mercado exercido pelos bancos comerciais. Eles têm um enorme poder de mercado em quase todos os países. Estamos passando por uma transformação e tenho muita esperança de que as finanças descentralizadas possam nos colocar no caminho de um crescimento maior.

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