Michael Shaulov, CEO da Fireblocks, foi um dos palestrantes da Stablecoin Conference 2025, realizado na cidade do México (MX) (Foto: Stablecoin Conference 2025)
As stablecoins, criptomoedas atreladas a moedas fiduciárias, não têm a mesma popularidade do bitcoin e o ethereum entre os investidores que acompanham o universo cripto. Contudo, esse grupo conseguiu atrair a atenção de grandes bancos, como JP Morgan, e fintechs que, agora, buscam ocupar um espaço relevante nesta indústria. O motivo se deve ao potencial de transformação que esses ativos digitais podem oferecer ao sistema financeiro global nos próximos anos.
A grande virada ocorreu neste ano com os recentes avanços regulatórios, especialmente nos Estados Unidos. Em julho passado, o presidente americano Donald Trump sancionou a lei GENIUs Act, responsável por criar uma série de regras para a emissão de stablecoins e procedimentos para casos de insolvência (falência) desses ativos. A novidade reduziu a maior parte das incertezas regulatórias desse mercado que impediam a adoção massiva das stablecoins pelas instituições financeiras.
Houve uma longa lista de ordens executivas, projetos de lei e orientações emitidas por diversas agências (americanas) desde janeiro. Isso se traduziu em mais confiança para entrar nesse espaço, disse Michael Shaulov, CEO da Fireblocks, nesta quarta-feira (27), durante a sua participação na Stablecoin Conference 2025, evento promovido pela Bitso, empresa de serviços financeiros baseados em criptos, na Cidade do México (MX).
A nova realidade tende a destravar o crescimento desse mercado que já alcança números relevantes. Desde a sua fundação, em 2018, até hoje, mais de US$ 10 trilhões em ativos foram movimentados dentro da plataforma da Fireblock, responsável por fornecer serviços de custódia, acesso a DeFi (finanças descentralizadas) e compliance regulatório. Para 2025, a empresa espera uma cifra ainda mais ousada: US$ 5 trilhões em transferências.
São números enormes. E acho que o mais importante e o que mais nos empolga é que estamos fornecendo essa infraestrutura para mais de 2,5 mil instituições financeiras de vários países, que trabalham com ativos digitais, stablecoins e cripto, destaca o executivo.
Casos de uso das stablecoins
Para o CEO da Fireblocks, os avanços regulatórios permitiram uma maior adoção institucional das stablecoins (Foto: Stablecoin Conference 2025)
A adoção institucional das stablecoins se concentra, especialmente, no desenvolvimento de depósitos tokenizados e na criação de redes próprias de meios de pagamentos. Em fevereiro deste ano, por exemplo, a Stripe, plataforma de infraestrutura financeira, concluiu a aquisição de Brigde, empresa especializada em stablecoins.
Já em junho deste ano, o banco americano JP Morgan anunciou que está planejando lançar um token semelhante a uma stablecoin, chamado de JPMD. O ativo, segundo informações da rede americana CNBC, oferecerá aos clientes liquidação 24h por dia e com a possibilidade de pagar juros aos seus detentores.
Apesar dos esforços, os grandes players do sistema tradicional financeiro não estão sozinhos neste segmento. Eles vão precisar disputar espaço com outros provedores de serviços de pagamentos que já movimentam volumes de transações relevantes neste mercado. Segundo Shaulov, cerca de US$ 80 bilhões por mês são atribuídos apenas a provedores de pagamento movendo stablecoins.
A maioria das fintechs permite que stablecoins sejam aceitas como pagamentos em dólar americano dentro de seus apps, tornando isso praticamente indistinguível para o cliente final, explica o executivo.
O uso em meios de pagamentos não é a única solução explorada pelas empresas. Fundos tokenizados, que permitem converter stablecoins em aplicações lastreadas em títulos do Tesouro dos EUA, também têm ganhado destaque. O CEO da Fireblock explica que a iniciativa já cresceu 63% em 2025.
Estamos chegando perto de US$ 20 bilhões em treasuries on-chain neste momento, liderado por alguns dos maiores gestores de ativos do mundo, diz Shaulov.
O crescimento das stablecoins, porém, esbarra em novos desafios. A ausência de mecanismos de reversão nas transações com esses ativos e a entrada de players pouco familiarizados com a indústria elevaram os riscos de ataques a hackers ou fraudes financeiras. Por isso, o foco da Fireblock tem sido direcionado a investimentos em infraestrutura e em equipes especializadas para dar suporte aos clientes. Segundo Shaulov, são gastos US$ 30 bilhões por ano nestas verticais da empresa.
O que as empresas buscam são parceiros que oferecem segurança e confiabilidade na movimentação do dinheiro, conclui.