A assessoria que quer duplicar de tamanho unindo o PIB do interior de SP à Faria Lima
3P Capital quer capturar alto potencial financeiro dos investidores do interior de SP; braço de wealth foi lançado há poucos meses para atender os super ricos
Quando Felipe Chad resolveu deixar a carreira que tinha construído em casas tradicionais como XP, Genial Investimentos e outros bancos para empreender no mercado financeiro com a 3P Capital, o plano era continuar na Faria Lima, mas ter uma segunda posição no interior do estado para abranger mais clientes. A cidade escolhida foi Bauru, que, pelo posicionamento central no território paulista, permitiria que o executivo circulasse por outras praças.
Mas logo essa lógica se inverteu. Cinco anos após a fundação e com mais de 2,5 mil clientes, a 3P se considera hoje uma empresa “no” interior e “para” o interior – e é assim que acha que pode duplicar de tamanho até o final do ano e atingir R$ 2 bilhões sob custódia. “O interior de São Paulo é uma região rica, mas o empresário do interior ainda é carente de alguns serviços financeiros. Se a riqueza está aqui, começamos a achar que não fazia sentido depender da Faria Lima”, diz Chad.
O posicionamento como uma empresa no interior deu vantagem competitiva ao negócio para conquistar empresários e famílias ligadas a segmentos importantes do PIB brasileiro, como o agronegócio, que estão no radar dos bancos e gestoras tradicionais para a originação e estruturação de títulos de dívida, por exemplo, mas, no geral, acabam desassistidos pelo “economês” da Faria Lima.
Credenciada ao BTG Pactual, a 3P mantém o pé na capital, mas consegue brigar por um mercado mais amplo. E sem tanta concorrência das grandes assessorias de investimento da metrópole. “A combinação de PIBs robustos, capital humano qualificado, infraestrutura moderna e interesse crescente por diversificação faz do interior paulista um dos ambientes mais férteis para o crescimento da indústria de investimentos nos próximos anos”, destaca o executivo.
A assessoria compartilhou com o E-Investidor um estudo que fez para mapear o perfil do investidor do interior de SP. Os dados mostram o potencial da região: cerca de 1,5 milhão de pessoas já investem em renda variável e o fluxo de novos recursos investíveis nas cidades-polo, como Campinas, Ribeirão Preto, Jundiaí, Bauru e São José dos Campos, ultrapassa dezenas de bilhões de reais por ano, diz o levantamento. A maior parcela dos investidores é relativamente jovem, entre 31 e 40 anos, com média de patrimônio de R$ 272 mil. Mas, entre homens entre 61 e 70 anos, o volume de patrimônio investido chega a R$ 1,8 milhão em investimentos.
Pensando em capturar esse segundo grupo, a 3P lançou oficialmente há poucos meses um braço de family office, a 3PW. Trata-se de uma evolução natural dos negócios, explica Chad, para atender a clientes de patrimônio elevado – acima dos R$ 10 milhões – que a empresa já assessorava. Agora, vão receber o aconselhamento de alocação de investimentos, mas também tributário e sucessório, no modelo fee fixo, sem comissão ou repasses.
“A 3PW hoje conta com apoio jurídico e contábil, área de offshore, e toda a estruturação feita com pessoas de nossa confiança para o nosso cliente. É simples de falar, mas difícil de fazer”, destaca o fundador.
Publicidade
O novo negócio nasce com a mesma mentalidade que fez a 3P Capital ir direcionando a atuação para o interior: encontrar investidores do tamanho “da Faria Lima”, mas desassistidos pelos negócios focados na capital paulista. E sem se restringir ao estado de SP, abarcando também alguns clientes em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Graças à localidade central de Bauru, onde está o escritório, a 3P não fica muito distante do interior dos estados vizinhos.
“Um cliente do interior de Goiás, ultra bem-sucedido no ramo imobiliário e no agronegócio, que tem perfil para ser atendido por qualquer grande family office do Brasil, estava na agência local do banco da cidade dele. Quando olhamos a carteira, tem produtos que não são ótimos perto do que ele poderia acessar com o nível de patrimônio, sem benefício fiscal ou otimização tributária”, conta Chad. “E estava super pronto para essa conversa. Na maioria dos casos, os clientes não conseguiam ir além por falta de assistência.”
Investidor quer estabilidade
O cliente potencial da 3P – um empresário com milhões investidos no interior dos estados brasileiros mais ligados ao agronegócio — está no centro de algumas discussões importantes. Tanto em termos de impostos, com projetos que prometem tributar os super ricos e dividendos, mas também de geopolítica, agora que o Brasil foi retaliado com tarifas de exportação para os Estados Unidos.
Além do que uma pauta A ou B, o que tem pesado nas decisões de investimento dos clientes da assessoria é a instabilidade, afirma Felipe Chad. “Assim como na pandemia tivemos momentos de instabilidade institucional que nos atrapalharam, nos últimos meses isso também foi um problema.” O momento, segundo ele, é de entender quais serão os próximos passos do País, incluindo em relação ao processo eleitoral do próximo ano. Com a esperança de que não haja até lá nenhum desarranjo grave entre o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Lula e o presidente americano Donald Trump.
“Já estamos caminhando para o final de 2025, um ano que já está meio precificado. O mundo inteiro taxa dividendos, em algum momento o Brasil vai taxar também. Mas precisa ter uma troca para não inviabilizar os negócios, se não ninguém vai continuar empreendendo”, diz o fundador da 3P. “Ninguém sabe ler o cenário para frente, o que significa certo compasso de espera.”
Esse “compasso de espera” se traduz em um pé no freio na frente dos negócios, dado a desaceleração da economia real e as incertezas que ainda rondam o cenário. Mas, no mundo dos investimentos, a estratégia de alocação não parou. “O empresário que está acostumado a fazer negócio aproveita desse momento para fazer boas compras, seja na Bolsa ou na renda fixa. Um título soberano da dívida brasileira pagando quase 7% de juro real dobra o seu capital em 10 anos.”