O movimento que fez uma gestora reacender o apetite por ações e atrair quem fugiu da Bolsa
Gestora lançou novo fundo de dividendos, com liquidez e pagamento mensal aos cotistas; uma estrutura pensada para ser atrativa e ajudar no retorno gradual à Bolsa, da pessoa física aos institucionais
Fernando Tendolini, head de renda variável, e Isabel Lemos, gestora de renda variável da FAR. (Arte de Victoria Fuoco / Foto: Divulgação/FAR)
A Fator Administração de Recursos (FAR) está estreando no mercado um novo fundo de ações com foco em empresas pagadoras de dividendos: o Fator Div Ações. O objetivo é investir em ações que integrem o índice de dividendos da B3, o IDIV, cujo track record (histórico de desempenho) nos últimos anos se mostrou mais rentável que a Selic e outras estratégias de renda variável em muitas janelas longas.
A gestora multiestratégia com R$ 6 bilhões em ativos sob gestão não quer “inventar a roda”, mas colocar à disposição do mercado um produto com características que podem atrair para a Bolsa investidores que andam sumidos. A participação de pessoa físicas na B3 caiu de 21,4% do todo em 2020 para 12,6% do total este ano.
Como mostramos nesta outra reportagem, apesar do Ibovespa estar na máxima nominal da história, boa parte dos investidores não embarcou na “festa”. Aqueles indicadores tradicionais de um bull market – onda de operações de abertura de capital, captação positiva nos fundos de ações e multimercados – também não têm dado as caras.
Com a taxa Selic estacionada em 15% ao ano, o investidor ainda exige motivos melhores que o recorde do IBOV para voltar para a Bolsa. E é nisso que a Fator acha que seu novo fundo pode ajudar.
Primeiro, porque o histórico do IDIV mostra que a estratégia de dividendos foi bem sucedida ao longo dos últimos anos, com retornos sólidos nos momentos de alta no mercado e quedas mais amenas nos ciclos de baixa.
“O Fator Div Ações não é um fundo de timing. É uma estratégia voltada ao compounding de longo prazo, com foco em empresas com grande capacidade de conversão de resultados em geração de caixa e que, portanto, pagam dividendos robustos, independentemente do ciclo macroeconômico”, explica Isabel Lemos, gestora de renda variável da FAR.
O desafio é reeducar o investidor em relação à estratégia de dividendos, deixando de lado aquela história muito utilizada no mercado que diz que são produtos conservadores, defensivos; uma ideia que também passaria por retornos mais modestos em ciclos de bull market. Lemos quer desmistificar isso. Ela prefere o termo “qualidade” para se referir à estratégia.
“É importante reolhar esse produto e escutar um pouco dessa análise quantitativa de resultados. Nos últimos 20 anos, o IDIV bate todos os outros índices, mesmo aqueles de maior beta”, destaca a gestora.
Além do histórico de performance, o fundo foi estruturado para ser mais atrativo que os tradicionais veículos de dividendos. O Fator Div Ações oferece liquidez D+3 e distribuição mensal de proventos, combinação que, segundo a gestora, conversa diretamente com o que o investidor busca: renda e acesso rápido ao capital.
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O IDIV já funciona como uma primeira peneira qualitativa, pois seleciona, dentre o universo de empresas listadas na B3, aquelas que se destacam pela distribuição de proventos nos 24 meses anteriores à seleção da carteira. A partir dessa seleção, a Fator faz a própria peneira, selecionando, dentro desse grupo, aqueles nomes que passam no crivo da análise fundamentalista da casa. O fundo tem hoje cerca de 20 papéis na carteira.
Unir liquidez, pagamento mensal de dividendos aos cotistas e a expertise da gestão ativa é uma forma também de fazer frente às estratégias indexadas, que vem se popularizando no Brasil pela eficiência de custos em relação aos fundos, que tradicionalmente cobram do investidor o “2 com 20”. O novo fundo da Fator tem taxa de administração de 1%, além de taxa de performance de 20% sobre o que superar o IDIV.
Para Fernando Tendolini, head de renda variável da FAR, os Exchage Traded Funds (ETFs) que replicam a estratégia do IDIV, o principal concorrente do novo fundo da casa, não têm a liquidez suficiente para acomodar a volta de um outro grupo de investidores, que também continuam fora da Bolsa. Os institucionais. O foco da casa é promover um “retorno suave” para a renda variável, com um produto que abarque todos os públicos. Para que eles voltem, mas, sobretudo, permaneçam independentemente do ciclo.
“Criamos um fundo com critérios rigorosos, mas sem viés conjuntural. A classe de ações deve estar sempre presente no portfólio dos investidores, em maior ou menor proporção. O investidor não precisa tentar acertar quando o BC vai subir ou cortar juros, ou se o dólar vai subir ou cair”, diz Tendolini. “É um produto para manter em carteira, tanto para pessoa física quanto para institucionais.”