O que este conteúdo fez por você?
- As vendas de veículos financiadas recuaram 9,7% no acumulado de 2022 até o mês de setembro
- O financiamento é uma opção para quem deseja ter um carro, mas não consegue comprá-lo à vista
- Cada financeira costuma seguir um modelo de avaliação para definir se o cliente terá o crédito aprovado ou não
As vendas de veículos financiadas recuaram 9,7% no acumulado de 2022 até setembro em comparação a igual período de 2021, segundo dados da B3. Em números brutos, isso representa 432 mil unidades financiadas a menos. O resultado reflete a elevada taxa de inadimplência e os juros altos que trazem dificuldades para o consumidor conseguir contratar um financiamento.
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A química Daniela Alencar, de 26 anos, é uma das pessoas que teve problemas ao financiar um carro neste ano. O processo só deu certo quando ela optou por realizar a compra através do nome do irmão. “Eu já havia financiado um carro há dois anos e não tive problema nenhum. Porém, quando fui fazer as simulações desta vez, os juros estavam bem altos e não consegui o financiamento”, diz.
Mesmo com as dificuldades, o financiamento ainda é uma opção para quem deseja ter um carro, mas não consegue comprá-lo à vista. O crédito é concedido por instituições financeiras e permite que o consumidor pague, em parcelas acrescidas de juros, por um veículo novo ou usado.
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A operação pode ser realizada diretamente pelo banco ou intermediada pela concessionária. No caso de Alencar, a segunda opção foi a escolhida. “Eu estava com bastante urgência na compra do carro, então optei por fazer todo o processo direto na loja, para tentar ser mais rápido”, explica.
Enquanto o pagamento das parcelas não for concluído, o veículo fica alienado com a instituição financeira. Ou seja, o banco ainda será dono do bem e poderá retê-lo caso a dívida não for quitada pelo cliente. Por isso, para realizar um financiamento de forma segura, é preciso estar atento a alguns detalhes.
Confira abaixo os principais pontos a serem analisados na hora de financiar um carro:
1- Tenha certeza que o valor da parcela cabe no bolso
O primeiro passo consiste em realizar um planejamento financeiro para verificar o valor máximo que poderá ser assumido em uma prestação mensal. Para Carlos Castro, sócio fundador da plataforma Super Rico e planejador financeiro CFP, o ideal é que os custos com financiamentos, créditos ou dívidas não ultrapassem 30% da renda de uma pessoa.
Nesse cálculo é importante monitorar todas as parcelas que ainda devem ser pagas, sem se esquecer de nenhuma. “O que as pessoas acabam fazendo é encaixar o financiamento do automóvel em 30% da renda. E o financiamento imobiliário, o cheque especial, o cartão de crédito. Quando se dá conta, de 30% em 30%, a divida já passou de 100%. Ou seja, se pegar todas as suas dívidas elas estarão maiores do que a renda. Aí entra o endividamento”, diz Castro.
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Caso o consumidor entre em condição de inadimplência, além de perder os valores pagos nas prestações, ele pode ficar sem o veículo, pois as instituições financeiras têm o direito de apreender o bem em situações de falta de pagamento.
2. Não se esqueça dos gastos extras com o carro
Ao adquirir um automóvel há outros custos além do financiamento. De acordo com Cíntia Senna, educadora financeira da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin), outros gastos devem ser analisados na hora de financiar um veículo.
“O IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) precisa entrar nessa conta, assim como a manutenção, combustível e o estacionamento, caso não tenha uma casa com garagem. É preciso pensar tanto nos custos com a parcela, quanto nas despesas novas pela aquisição do bem”, ressalta.
3. Pense no prazo do financiamento
O número de parcelas do financiamento deve estar alinhado ao valor mensal máximo que o consumidor pode comprometer da sua renda. Caso uma diminuição do prazo ocasione um comprometimento de mais de 30% do orçamento, é melhor evitar a redução.
Senna também recomenda pensar no tempo previsto para ficar com o carro. Ao longo dos anos, o veículo tende a se desvalorizar, o que pode comprometer uma possível troca ou venda no futuro.
Carlos Castro reforça ainda que, quanto mais longo for o prazo do financiamento, maior deve ser a importância do carro para a pessoa, indo além da vontade de ter um veículo próprio por prazer ou exposição. “Ao estender bastante o financiamento, o carro deve ter uma função mais importante, que pode ser gerar renda ou ajudar a família a ganhar tempo. Aí faz sentido se organizar para assumir um financiamento mais elástico.”
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De acordo com Nelson Dias de Aguiar, vice-presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), as instituições financeiras procuraram ampliar os prazos de financiamento de veículos a partir do início da pandemia da Covid-19.
“Nesse momento, as instituições começaram a oferecer condições de refinanciamento, com taxas, subsídios e isenções de tarifas pensando no momento em que a população estava enfrentando. O prazo se dilatou um pouco e a gente ofereceu uma maior flexibilização para as condições. Isso começou em 2020 e continua até hoje”, afirma o vice-presidente da Anef.
4. Faça um teste antes de financiar
Antes de optar pelo financiamento, realize uma espécie de “test-drive”, ou seja, separe uma parte dos ganhos como se já estivesse pagando as prestações mensais. “O ideal é que a pessoa faça isso por pelo menos 2 ou 3 meses antes de financiar o carro para que ela não corra o risco de assinar um contrato e depois não conseguir assumir o compromisso”, recomenda Senna, da Abefin.
5. Pesquise as condições exigidas pelas instituições financeiras
Cada instituição costuma seguir um modelo de avaliação para definir se o cliente terá o crédito aprovado ou não para o financiamento. É comum que a renda seja analisada para verificar se ele possui condições de pagar pelo valor do carro. Outras dívidas ou prestações também são observadas, pois outro compromisso pode comprometer a quitação do financiamento.
Há ainda o score de crédito, uma pontuação que indica qual a probabilidade de um consumidor pagar as dívidas. Se houver um caso de inadimplência no histórico, por exemplo, será mais difícil ter o crédito aprovado.
No atual cenário brasileiro, com a taxa Selic em 13,75% ao ano, os juros associados às parcelas de financiamento estão elevados, o que traz mais dificuldades para os clientes. Considerando o momento, o consultor financeiro Carlos Castro recomenda que os consumidores paguem um maior valor de entrada ao financiar um carro para diminuir a exposição aos juros embutidos nas parcelas.
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Outro fator que prejudica a aprovação do crédito por bancos é a alta taxa de inadimplência no País. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o porcentual de famílias inadimplentes atingiu 30% em setembro, patamar mais elevado da série histórica.
Mas, para Nelson Dias de Aguiar, vice-presidente da Anef, mesmo com a elevada taxa de inadimplência, a tendência é de crescimento nos recursos liberados para financiamentos de veículos. “As carteiras de crédito já foram muito impactadas com o Covid-19. Agora, no momento de mercado em que nós estamos, há uma possibilidade de expansão de crédito, com condições bem interessantes para fomentar a indústria”, diz.
6. Compare as taxas
O primeiro passo é consultar a tabela Fipe, que indica os valores de mercado dos carros. Há também comparadores que sinalizam as taxas de juros cobradas por cada banco. A lista liberada pelo Banco Central, por exemplo, ranqueia, em ordem crescente, os juros praticados por instituições financeiras. Para se ter uma ideia, a BMW Financeira oferece taxa mais baixa, de 12,61% ao ano, enquanto a mais alta da lista, da SF3 CFI, atinge 60,31% ao ano.
Segundo Senna, a diferença nas taxas acontece, em parte, pela análise de riscos feita por cada banco. “Quando é uma instituição maior, que possui mais facilidade para oferecer esse crédito, ela acaba cobrando menos. Aquelas que não possuem tanta tradição nesse tipo de mercado, ou que possuem um menor público dentro desse universo, acabam cobrando mais porque possuem maior risco de inadimplência”, explica.
Depois de realizar a pesquisa, é interessante entrar em contato diretamente com uma instituição financeira para verificar se não é possível realizar uma negociação das taxas.
7. Fique de olho no Custo Efetivo Total (CET)
Nas parcelas do financiamento, o cliente não arca apenas com os juros. De acordo com Carlos Castro, também há custos com a administração. “A instituição que está fazendo a análise de crédito e está cuidando de toda a parte relativa à documentação cobra um valor para fazer essa checagem. Esse custo vai para dentro da parcela.”
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Há também seguros que podem ser incluídos no valor das prestações para que as instituições não sejam prejudicadas caso aconteça algum incidente com seus clientes. Esses outros custos, somados aos juros, compõem o custo efetivo total (CET), que deve ser analisado na hora de financiar um carro.
8. Consulte novas possibilidades de financiamento
Novas opções de financiamento também têm aparecido no mercado. Um exemplo é o da Chevrolet Serviços Financeiros, que lançou o Plano Zero + Chevrolet para a aquisição do Novo Bolt EV, o modelo recém-lançado e primeiro 100% elétrico da marca no Brasil. O plano conta com dois pagamentos ao longo do contrato, sem parcelas mensais.
É necessário dar uma entrada de 50% do valor do veículo e o saldo restante deve ser pago em duas vezes, sendo 25% no 12º mês e os outros 25% ao final do contrato, no 24º mês. “É uma proposta flexível, com uma configuração diferente, ainda não disponível no mercado”, diz Paulo Noman, Presidente da Chevrolet Serviços Financeiros.