Segundo um levantamento da Decolar, apesar do cenário econômico brasileiro não estar dos mais tranquilos e promissores, as buscas por viagens nacionais e internacionais para as férias de julho não caíram. Muito pelo contrário. “As buscas por viagens para as férias de julho seguem crescendo. Registramos aumento de 107% na busca por pacotes, em comparação ao mesmo período de 2023”, diz Daniela Araujo, diretora de Produtos em Destino da Decolar.
Em relação ao turismo doméstico, o levantamento não surpreendeu ao mostrar destinos do Nordeste, como Recife (PE), Maceió (AL) e Porto Seguro (BA), no topo das pesquisas. Olhando para fora, Orlando, cidade da Flórida (Estados Unidos) que é ideal para viagens em família por abrigar os principais parques temáticos do mundo — estão lá Disney, Universal e SeaWorld, entre outros — aparece atrás de dois destinos da Argentina e um do Chile. Confira, abaixo, os destinos internacionais mais buscados para as férias de julho.
E essa preferência pelos destinos latino-americanos tem sido apontada justamente em função da alta da moeda americana, que já chegou a ultrapassar a barreira dos R$ 5,50, enquanto o real está mais valorizado que o câmbio dos nossos países vizinhos. No entanto, as viagens internacionais costumam ser planejadas com meses de antecedência e pode ser que quem iniciou os preparativos no final do ano passado, quando o dólar estava abaixo dos R$ 5, esteja preocupado com os valores que serão desembolsados durante as férias.
A educadora financeira Aline Soaper lembra que, para quem está com as passagens e hospedagem em mãos, vale reavaliar o planejamento dos passeios, restaurantes e compras para ficar dentro do orçamento. “Para gastar menos com taxas, o ideal é usar dinheiro em espécie, cartão de conta global ou cartão pré-pago”, sugere.
Viajar com dinheiro em espécie ou cartão de crédito?
Para Carlos Eduardo de Andrade, diretor executivo de Câmbio do Banco BS2, de todas os métodos de pagamento a se adotar em uma viagem internacional — seja para os EUA ou Europa, cujas moedas estão mais valorizadas que a nossa —, a escolha menos vantajosa é o dinheiro em espécie. “Naturalmente é mais caro, devido ao custo da sua operação. Além de ser mais arriscado: se você perder a sua carteira ou tê-la roubada por algum ‘pick pocket’, corre o risco de ficar sem recursos durante a viagem. Talvez seja possível economizar com a moeda em espécie em relação ao cartão de crédito, mas será um gasto menor que não compensa o risco”, explica.
No entanto, é preciso lembrar que se de um lado a moeda em espécie pode apresentar um custo elevado assim que ela é adquirida, no caso do cartão de crédito os gastos serão embutidos ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Embora o governo trabalhe para zerar esse tributo até 2028, neste ano a sua alíquota está em 4,38% sobre as compras internacionais com o cartão. E é justamente esse percentual que faz muito viajante torcer o nariz para o cartão de crédito.
Apesar disso, Marcelo Scarpa, diretor executivo do Digio, banco digital que pertence ao Bradesco, esclarece que o IOF é um tributo do governo e que não é destinado à instituição financeira. “Só haverá juros do banco sobre o cartão de crédito se a fatura não for paga em dia ou houver o parcelamento dela”, afirma. Isso significa que, se a compra em si foi parcelada, não há encargos bancários sobre o valor. Porém, se o valor total da fatura não for pago, incidirão os juros.
“Há uma série de benefícios ao usar o cartão de crédito nas viagens internacionais. Caso haja algum tipo de fraude, é possível contestar o valor junto ao banco e às bandeiras [marca das empresas responsáveis pelas transações]. Os cartões ainda podem contar com programas de recompensa, como cashbacks e acúmulo de pontos”, explica Scarpa.
O executivo acrescenta que, seja qual for o destino e moeda local, todas as transações são ancoradas no dólar. Por um lado, isso facilita porque as duas principais bandeiras presentes no Brasil, Mastercard e Visa, têm uma boa aceitação na maioria dos países. Por outro, haverá a incidência da taxa de câmbio devido à conversão de uma moeda para outra. “Por exemplo, você está em um restaurante no México e tudo custou 100 pesos mexicanos. O cartão de crédito vai fazer a relação desse valor em peso mexicano para o dólar e cobrar por essa transação.”
Cartão de crédito ou conta internacional?
Outras modalidades que podem facilitar para quem vai fazer uma viagem internacional são os cartões pré-pagos e contas internacionais. No primeiro caso, que já chegou a ser a principal escolha dos viajantes, ocorre a cobrança do IOF quando o cartão for carregado.
Mas alguns bancos oferecem aos seus clientes a possibilidade de abrirem uma conta internacional, em que é possível fazer as transferências em real e convertê-la na moeda desejada. As taxas de uso podem variar, conforme a instituição financeira, sendo que algumas são isentas para os clientes.
No caso do Banco BS2, é oferecida uma função multimoeda que, além do dólar americano, permite que os aportes feitos em real sejam convertidos para euro, libra, dólar canadense e australiano. “Assim como é possível comprar a passagem aérea e a hospedagem parceladas, dá para ir depositando e convertendo aos poucos a moeda que será usada no destino”, explica Carlos Eduardo de Andrade, diretor executivo de Câmbio.
“E se o viajante estiver em Paris, gastando em euro, e resolver ir para Londres, em que a libra é a moeda, basta apenas ele converter o saldo que tem para o câmbio desejado. E se no meio das férias a família perceber que precisa de mais dinheiro para a viagem, basta transferir mais recursos para a conta e fazer a conversão para a moeda desejada”, completa Andrade.
Vale a pena escolher o destino internacional pelo câmbio?
Embora os nossos vizinhos latinos estejam no topo das buscas para as viagens internacionais, escolher um destino cuja moeda está mais barata que a brasileira não é sinônimo de economia. “É importante avaliar o perfil de viagem, porque em viagens de luxo, mesmo em países com moeda mais fraca pode sair mais cara. O segredo para economizar será o planejamento” aponta Aline Soaper, educadora financeira.
Já Carlos Eduardo de Andrade, do Banco BS2, lembra que nem todo país que tem uma moeda “fraca” é sinônimo de custos baixos. Ele dá como exemplo o Japão, que a cada US$ 1 representa cerca de 160 ienes japoneses. “No entanto, o Japão é um dos países mais caros do mundo para viajar. O que acontece é que o valor expresso na moeda não é tão relevante em relação a quanto daquele dinheiro você precisa para comprar naquele país.”
Não por acaso, muitos usam o Índice Big Mac para fazer a estimativa da diferença entre o poder de compra em diferentes localidades do mundo. Isso porque ele compara o preço do famoso lanche de fast food de um determinado país com o valor dele em dólar americano. Dessa forma, é possível analisar a valorização de cada moeda: quanto mais barato o produto estiver, mais desvalorizada a divisa está em relação à moeda americano e menor é o custo das despesas locais.
E para quem vai viajar para algum dos destinos internacionais mais buscados, conforme a pesquisa da Decolar, o E-Investidor levantou o preço do Big Mac nesses países (tabela abaixo). Vale lembrar que, em média, o lanche custa R$ 23,90 no Brasil.