

A inflação que o mercado projeta para os próximos três anos – e que está embutida nos preços dos títulos públicos – vem oscilando com força nos últimos dias. A volatilidade reflete a instabilidade nos mercados globais após o anúncio de novas tarifas comerciais nos EUA e a percepção de que a medida pode desacelerar a atividade econômica global. “Se a atividade cai, a inflação também tende a recuar. Isso abre espaço para juros mais baixos no mundo todo”, explica Jonas Chen da B. Side.
Na prática esse é o efeito da inflação implícita, a diferença entre a taxa de um título prefixado de juros nominais (Tesouro Prefixado ou LTN) e a taxa real de um título atrelado à inflação com vencimento próximo (Tesouro IPCA+, ou NTN-B). Ela mostra a expectativa do mercado sobre a inflação futura, embutida nos juros dos títulos.
Nesta terça (8), as LTNs, prefixadas, mais curtas com vencimento em 2028 iniciaram o dia pagando 14,01% ao ano, contra a NTN-B com vencimento em 2029 pagando 7,63% + IPCA, numa diferença de taxas, ou inflação implícita de 5,92% (veja neste artigo como calcular). Antes do tarifaço de Trump, essa diferença era de 6,2%.
Tesouro IPCA+ ficou caro
A correção reflete a interpretação dos investidores que o Tesouro IPCA ficou mais caro. Ou seja, para esse título bater o retorno do prefixado, a inflação precisa efetivamente atingir aquela marca embutida, algo que, na interpretação de quem investe, ficou ainda mais improvável diante, de uma previsão de desaquecimento da economia.
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Basta pensar que a projeção de inflação para 2025 foi mantida em 5,65%, de acordo com o último Boletim Focus. Esse título IPCA + 7,63 por sua vez, dá um retorno nominal de 13,71%, um pouco abaixo aos 14,01% que o prefixado estava pagando. “É por isso que, nesses momentos, o mercado perde o apetite pelas NTN-Bs, que acabam ficando para trás nos movimentos de fechamento de juros”, explica Ian Lima, gestor de Renda Fixa do Inter.
O atual movimento dos juros é diferente do cenário de dezembro, quando o câmbio foi para R$ 6,30 por causa dos ruídos provocados pelo próprio governo com o anúncio do pacote fiscal que projetava mais pressão nas contas do governo com a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Neste momento, o mercado começou a apostar na disparada da inflação e as NTN-Bs (Tesouro IPCA+) conseguiram proteger melhor o investidor, abrindo mais juros.
Nos últimos dias, os papéis de IPCA+ com maior prazo de vencimento, por outro lado, têm apresentado uma oscilação menor. “Essa parte mais longa depende muito de reformas estruturais do país. Então, esses balanços de curto prazo, provocados por notícias como as tarifas dos Estados Unidos, influencia menos em relação à situação fiscal”, comenta Chen.
Como prazo reflete a volatilidade
Tiago Ranalli, sócio da CX3 Investimentos, chama atenção para o impacto do prazo sobre a volatilidade dos investimentos. “Para o investidor de varejo, é importante entender que, quanto mais curto o vencimento do título, menor a oscilação de preço na carteira”, diz. Já nos papéis mais longos, a sensibilidade à variação de juros é muito maior, o que pode gerar ganhos ou perdas expressivas no curto prazo, mesmo sem vender o título.
Na simulação feita por Ranalli, uma NTN-B com vencimento em 2029 e taxa de IPCA+ 6%, caso sofra uma queda de 1 ponto percentual na taxa real (passando a pagar IPCA + 5%), teria uma valorização modesta, algo em torno de 4%. Já uma NTN-B 2050, com vencimento em mais de 25 anos, se tivesse uma redução parecida — de IPCA + 7,14% para IPCA + 6,14% — poderia subir até 26% em valor de mercado.
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Júlio Ortiz, CEO e cofundador da CX3 Investimentos, reforça que a recente volatilidade dos juros reflete o clima de incerteza global provocado por Donald Trump. “Ele bagunçou o tabuleiro do mercado internacional”, diz. Na sua visão, mesmo com a economia americana sólida, as medidas protecionistas surpreendem e alimentam o temor de uma desaceleração global, impactando diretamente a inflação e os preços dos ativos.
Veja a diferença dos títulos pré e pós fixados do Tesouro Direto:
Data | Título | Taxa | Título | Taxa | Diferença | |
Dia 2 de abril | Tesouro Prefixado 2028 | 14,50% | Tesouro IPCA+ 2029 | IPCA + 7,86% | Inflação implícita | 6,16% |
Dia 8 de abril (manhã) | Tesouro Prefixado 2028 | 14,01% | Tesouro IPCA+ 2029 | IPCA + 7,63% | Inflação implícita | 5,93% |
Dia 8 de abril (tarde) | Tesouro Prefixado 2028 | 14,08% | esouro IPCA+ 2029 | IPCA + 7,67% | Inflação implícita | 5,95% |