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A cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para decidir se mantém, eleva ou reduz a taxa. O objetivo central desse ajuste é atuar como um “freio da inflação” para guiá-la de volta à meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Na decisão mais recente, na quarta-feira (10), o Copom manteve a Selic em 15% ao ano e divulgou um comunicado mais duro, sem indicar seus próximos passos — o que dividiu as expectativas do mercado. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a principal métrica de inflação do país, acumulou alta de 4,46% nos últimos 12 meses, ligeiramente abaixo do teto da meta de 4,50%.
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A decisão do Copom sobre a Selic é sempre bastante aguardada pelo mercado porque a taxa influencia inflação, crédito, investimentos e o ritmo da atividade econômica no Brasil.
A estratégia de usar a Selic para conter a inflação — que encarece produtos e serviços em todo o país — parece simples à primeira vista. Mas seus efeitos na economia vão muito além desse objetivo e merecem atenção.
Como explica André Perfeito, economista-chefe da Garantia Capital, elevar a taxa Selic significa reduzir a circulação de dinheiro na economia. O crédito — isto é, a possibilidade de usar recursos emprestados de bancos e outras instituições — fica mais caro e menos disponível, o que faz o consumo desacelerar e ajuda a segurar os preços. “Quando isso acontece, porém, pode haver um aumento da desigualdade social, porque o crédito fica mais caro e as famílias consomem menos”, afirma.
Na prática, financiar um imóvel ou um carro, em um cenário de Selic alta, faz com que o valor final pago por um bem fique muito superior ao preço original, justamente pela incidência dos juros elevados. “Quem tem patrimônio financeiro costuma se beneficiar mais dos juros altos, enquanto quem está endividado sofre”, observa Pablo Spyer, conselheiro da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (ANCORD).
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A Selic elevada também reduz o poder de compra da população. Com a economia mais lenta e o crédito mais caro, as famílias consomem menos, e isso se reflete diretamente no faturamento das empresas.
Nesse cenário, as companhias passam a investir e contratar menos, o que pode pressionar o desemprego. Como explica Bruno Perri, economista-chefe da Forum Investimentos, juros altos esfriam a economia, enfraquecendo a demanda por mão de obra e, em última instância, impactando tanto a taxa de desemprego quanto os salários.
No sentido oposto, quando a Selic cai, o crédito fica mais acessível, a circulação de dinheiro aumenta e as empresas se sentem mais confortáveis para investir. Com isso, a atividade econômica acelera e o consumo se fortalece.
No áudio a seguir, o professor e economista Alexandre Chaia, do Insper, faz um resumo dos mecanismos por trás da política monetária e por que o ajuste dos juros tem efeitos tão amplos sobre a atividade econômica.
A “Selic boa”, em tese, é aquela que mantém a inflação sob controle, o crédito funcionando, as empresas investindo e as famílias consumindo sem desequilíbrios. Chamada de taxa neutra de juros, ela não acelera a inflação e nem trava a atividade.
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Não há um consenso sobre o valor exato da taxa neutra de juros hoje, mas estimativas apontam para uma Selic nominal em torno de 9%. Ouça mais sobre esse indicador no áudio de Larrisa Frias, planejadora financeira do C6 Bank.
No cenário corporativo, alguns ramos sentem o crescimento da Selic com maior intensidade. Os setores mais cíclicos, ou seja, sensíveis ao ritmo de crescimento econômico, como varejo, construção civil e pequenas e médias empresas, que dependem de crédito para operar, são especialmente afetados.
“Setores como o agro — faça chuva, faça sol — você vai ter que fazer a colheita, enquanto o setor de serviços já é mais sensível ao aumento ou redução da taxa Selic“, afirma o economista Perfeito.
Já bancos e financeiras tendem a atravessar esse período com mais facilidade. “Mas até para estes há um limite, pois crédito caro demais favorece inadimplência e requer provisões maiores por parte das instituições, impactando os lucros”, reforça Perri.
Entre as pessoas físicas, famílias com maior patrimônio financeiro, que aplicam recursos a taxas mais altas, costumam ser beneficiadas com altos juros. Já a população mais pobre pode enfrentar um declínio social, com maior restrição de crédito e menor poder de compra, como explica o profesor Chaia no áudio a seguir.
A Selic é o grande parâmetro da renda fixa, impactando o retorno de títulos públicos e privados. Além dos ganhos, há a questão de segurança, já que títulos atrelados ao governo tendem a sofrer menos riscos de perda se comparados a ações de empresas da B3, bolsa de valores brasileira.
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Já quando os juros estão menores, o investidor consegue assumir mais riscos para elevar seu retorno financeiro, voltando olhares novamente à Bolsa. Veja a explicação de Frias, do C6 Bank, sobre o fluxo de investimentos entre renda fixa e Bolsa no áudio a seguir.
Porém, vale considerar também que juros altos elevam o custo de capital das empresas (taxa mínima de retorno que ela precisa gerar sobre seus investimentos para compensar o dinheiro usado no financiamento) e reduzem o valor presente dos lucros futuros (cálculo que determina quanto o dinheiro que uma empresa espera gerar no futuro).
Segundo a Spyer, da ANCORD, na hora de investir, o brasileiro deve considerar: o horizonte de tempo do título, perfil de risco, expectativa de ciclo de juros, e a diferença entre o retorno real (ganho financeiro de um investimento após o desconto da inflação do período) e a inflação.
Para o investidor estrangeiro, juros altos tornam o Brasil mais atrativo, pois ampliam o retorno potencial aplicado em reais. Esse movimento tende a trazer mais dólares ao país, fortalecer o câmbio e reforçar a percepção de credibilidade do Banco Central no combate à inflação.
Como reforça Perri, da Forum Investimentos, o mercado internacional aproveita o momento para se beneficiar do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos no chamado “carry trade”.
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Por outro lado, a Selic elevada também pode sinalizar fragilidade econômica ou risco fiscal, o que leva parte dos investidores externos a adotar cautela. Nesse caso, o retorno maior não compensa a incerteza, e o fluxo para o Brasil pode arrefecer.
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