O Tesouro Nacional quer lançar uma modalidade de investimento voltada para mulheres em janeiro. O ativo deve ser atrelado ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), além de ter uma taxa anual de rendimento ainda a ser divulgada.
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A medida é uma tentativa do governo de atrair um maior número de mulheres para o mundo dos investimentos. Segundo dados do mais recente balanço do Tesouro Direto, o Brasil conta com 26,6 milhões de investidores cadastrados no sistema, dos quais apenas 7,1 milhões são mulheres, equivalente a 27% do total.
Para Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, essa menor participação pode ser atribuída a vários fatores culturais e históricos. “Estereótipos de gênero, falta de educação financeira abrangente e a cultura de direcionar o cuidado financeiro exclusivamente aos homens são elementos que parecem contribuir para a menor participação feminina”, afirma.
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De acordo com Acilio Marinello, professor da Trevisan Escola de Negócios, outro fator para essa discrepância é a diferença salarial. “A sociedade busca combater essa desigualdade, mas ainda assim, existem muitas mulheres que ganham até 30% menos que os homens para fazer a mesma função”, explica.
Em nota enviada ao E-Investidor, o Tesouro afirma que aumentar a participação das mulheres é algo fundamental. “Temos a missão de fomentar a educação financeira da sociedade brasileira por meio do Programa Tesouro Direto e o aumento da participação feminina no programa tem um papel fundamental diante desse objetivo”, diz a nota.
Segundo Caritsa Moreira analista da VG Research, uma maior participação de mulheres nos investimentos pode trazer inúmeros para sociedade, como o senso analítico. “Estudos comprovam que as mulheres possuem um perfil mais analítico e atencioso, o que seria até melhor para a administração dos investimentos das famílias de modo geral”, diz Moreira.
Já Marinello afirma que uma participação maior das mulheres tende a fechar o ciclo virtuoso da independência financeira feminina. “A sociedade teria excelentes ganhos sociais, pois o fato dela gerir e construir o próprio patrimônio deixa a mulher menos depende do homem, algo que ainda pode ser visto em áreas mais afastadas dos grandes centros urbanos”, argumenta.
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Ainda assim, Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax, comenta que esse novo título do Tesouro não deve surtir muito efeito se não vier acompanhado de uma boa educação financeira. “Uma campanha que convide as mulheres para o mundo dos investimentos pode ser uma estratégia interessante, desde que acompanhada por uma abordagem educacional. É crucial que a educação financeira seja abordada em todos os setores da sociedade”, detalha.
Por fim, Marinello reconhece que o governo federal segue empenhado em concluir o o ciclo virtuoso da independência financeira feminina. “Ao longo do ano passado, o governo lançou uma série de medidas para melhorar a situação financeira das brasileiras, como a lei que obriga as empresas a pagarem o mesmo salário a homens e mulheres que exercem a mesma função. Medidas como essa conjunto com o titulo do tesouro tende a mudar a situação no médio e longo prazo”, explica.