Em meio a juros altos e incertezas fiscais, Ágora Investimentos vê cenário ainda construtivo para ativos brasileiros em 2026, com foco em seletividade. (Foto: Adobe Stock)
O cenário traçado pela Ágora Investimentos para 2026 parte de um pano de fundo global mais desafiador, combinado a um Brasil com crescimento contido, juros ainda elevados e o peso adicional de um ano eleitoral. A leitura central é de que, apesar da desaceleração da atividade econômica, o ambiente segue construtivo para ativos brasileiros, desde que o investidor seja seletivo e atento à dinâmica fiscal.
No plano internacional, a expectativa é de uma desaceleração moderada da economia global. Os Estados Unidos devem continuar liderando o crescimento entre os países desenvolvidos, com expansão estimada em 2,1% em 2026, mas já inseridos em uma dinâmica mais incerta.
A Ágora observa que o ciclo de política monetária americana tende a ser mais brando, refletindo um cenário de inflação mais controlada e menor impulso econômico.
Na Europa, o crescimento deve permanecer anêmico, ao redor de 1,1%, pressionado por fatores estruturais e demográficos.
Já a Ásia emergente segue como o principal motor global, ainda que em ritmo inferior ao de ciclos anteriores, com a China projetando crescimento de 4,5%, em meio a desafios no setor imobiliário e tensões geopolíticas.
Cenário externo: o que deve ser o foco do investidor
Um dos vetores estruturais mais relevantes do cenário externo é o comportamento do dólar. Segundo o relatório, a moeda americana enfrenta um ambiente “estruturalmente mais complexo”, pressionada pelos déficits fiscal e em conta corrente dos Estados Unidos, além do movimento de diversificação das reservas globais.
Esse enfraquecimento do dólar tende a abrir espaço para ciclos mais positivos em mercados emergentes selecionados, como o Brasil, ainda que episódios de volatilidade não estejam descartados.
Ao mesmo tempo, os mercados acionários americanos operam em máximas históricas, o que eleva o risco de correções táticas.
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A Ágora destaca que os múltiplos de valuation já incorporam grande parte do otimismo em torno da inteligência artificial e da inovação tecnológica, tornando a relação entre risco e retorno mais assimétrica.
Nesse contexto, os analistas avaliam que “o potencial de correção aumenta à medida que os lucros corporativos tendem a crescer em ritmo mais fraco”.
Commodities estão em equilíbrio e ouro chama a atenção
No universo das commodities, o cenário é descrito como equilibrado. A demanda asiática sustenta preços relativamente estáveis, o que garante termos de troca neutros a positivos para o Brasil.
O destaque fica para o ouro, cuja demanda segue elevada, impulsionada por compras de bancos centrais e pela percepção de fragilidade fiscal nos Estados Unidos, movimento que o relatório associa ao chamado debasementtrade.
Brasil: o que esperar para 2026?
No Brasil, o pano de fundo é de desaceleração moderada, mas sem ruptura. A projeção da Ágora é de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,5% em 2026, abaixo dos 2,3% estimados para 2025. A economia deve demonstrar resiliência, ainda que o consumo perca força gradualmente com juros elevados apertando o crédito.
Parte desse enfraquecimento, no entanto, tende a ser compensado por estímulos pontuais, como a isenção da tabela do Imposto de Renda e medidas de financiamento imobiliário, além da manutenção dos investimentos em setores como infraestrutura, energia e agronegócio.
A política monetária entra em uma fase de transição. A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve convergir para 4,0% ao final de 2026, abrindo espaço para cortes graduais na taxa Selic, que deve encerrar o ano em 12%, partindo do patamar atual de 15%. A Ágora ressalta, porém, que esse movimento será cauteloso.
“O Banco Central deve manter uma postura conservadora”, diante do cenário fiscal incerto, do ambiente externo heterogêneo e das incertezas inerentes ao ano eleitoral.
Ainda assim, a taxa média de juros ao longo do período deve permanecer acima de 13%, nível considerado altamente atrativo para retornos reais na renda fixa.
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No câmbio, a projeção é de que o dólar encerre 2026 em R$ 5,50. Embora o enfraquecimento global da moeda americana favoreça fluxos para o Brasil, o relatório alerta que o ruído eleitoral possa gerar picos de volatilidade, especialmente no segundo semestre do ano.
É justamente a questão fiscal que aparece como o principal condicionante do comportamento dos mercados em 2026. A sustentabilidade do arcabouço fiscal e as diretrizes econômicas dos candidatos à Presidência serão decisivas para a trajetória dos ativos.
A Ágora observa que a percepção de um ajuste fiscal é viável, ainda que implementado apenas no início de 2027. Isso pode destravar uma reprecificação relevante dos preços.
E o Ibovespa?
Esse diagnóstico está no centro da projeção para o Ibovespa. O alvo-base para o índice ao fim de 2026 é de 192 mil pontos, resultado da ponderação de três cenários fiscais. No cenário considerado mais provável, com 50% de chance, um ajuste fiscal relevante permitiria a convergência do juro real para 12,5%, levando o Ibovespa a 241 mil pontos, com múltiplo preço/lucro estimado em 11,7 vezes.
Em um cenário de ajuste mínimo, com probabilidade de 35%, o índice ficaria em 158 mil pontos. Já no cenário adverso, sem ajuste fiscal e com deterioração das contas públicas, o Ibovespa poderia recuar para cerca de 103 mil pontos.
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Apesar da volatilidade esperada, a visão para a renda variável é descrita como construtiva. O Ibovespa negocia a aproximadamente 8 vezes o lucro projetado para dois anos à frente, abaixo da média histórica de 10 vezes e da média dos mercados emergentes, de 12 vezes.
Além disso, o dividend yield estimado para 2026 está próximo de 6%, reforçando a atratividade do mercado brasileiro para investidores de longo prazo, especialmente em um ciclo de queda gradual da Selic.
Fundos na mira!
No segmento imobiliário, a Ágora projeta o IFIX em 4.200 pontos ao fim de 2026, o que representa potencial de valorização de cerca de 15%, além de um retorno via dividendos estimado em 10,75%, equivalente a IPCA mais 6,49%.
O relatório destaca que historicamente os fundos imobiliários tendem a se valorizar entre seis e doze meses após o primeiro corte da Selic. Fundos de tijolo devem se beneficiar da valorização dos imóveis e da compressão das taxas decapitalização, enquanto os fundos de papel seguem atrativos pela previsibilidade de fluxo de caixa e proteção inflacionária.
O que privilegiar nas ações?
Nas ações, a recomendação para 2026 privilegia o stock picking, com foco em empresas defensivas e boas pagadoras de dividendos. Em um ambiente de crescimento moderado e volatilidade eleitoral, a seleção individualizada de ativos é vista como a melhor estratégia.
Setores como financeiro, utilitiese telecomunicações devem manter características de resiliência, preservando resultados e políticas consistentes de remuneração aos acionistas.