A proposta de nova regra fiscal apresentada hoje elimina o risco de crescimento forte do endividamento, mas indica que a dívida pública continuará em nível alto – e, por isso, não significa alívio relevante para o risco fiscal. A avaliação é do economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam.
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O analista se refere às simulações de relação dívida/PIB apresentadas pela equipe da Fazenda e do Planejamento na manhã de hoje, durante entrevista coletiva para apresentação da regra. No melhor cenário, o governo calcula que a razão cederia menos de 1,5 ponto porcentual, de 75,03% este ano a 73,58% em 2026.
“Se existia a conclusão de que o tamanho da dívida é um inconveniente para lidar com o risco fiscal, esse arcabouço não traz um alívio”, resume Gardimam, em entrevista ao Broadcast. “Fica a conclusão que não alteraria muito a trajetória da dívida pública e, consequentemente, o risco fiscal não alteraria muito. Ainda tem um cenário de juro de médio e longo prazo bastante pressionado, devido ao fato de o Brasil ter uma dívida muito elevada.”
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Gardimam reiterou a projeção de queda da taxa Selic, hoje em 13,75%, a 12,5% no fim deste ano, devido à inflação elevada no Brasil e no mundo.
Em contrapartida, o economista reconhece que a regra cumpre o papel de “eliminar os extremos dos cenários fiscais” – retirando do cenário o risco de uma explosão da dívida pública -, além de diminuir a incerteza no cenário. Esses fatores, segundo o analista, explicam a reação positiva do mercado à divulgação da regra.
Para o analista, a sensação de que “o pior foi evitado” pode melhorar a percepção dos estrangeiros com o Brasil, embora o arcabouço claramente não tenha sido suficiente para motivar uma onda de entrada de capital no País. “Não foi dado um grande sinal de compras para ações brasileiras, não se gerou um ‘risk on’ para as ações locais pelo anúncio da regra”, nota.