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- Os estrangeiros aumentaram suas apostas de baixa do real em US$ 3 bilhões na primeira semana de 2023, tornando-a uma das moedas com pior desempenho nos mercados emergentes
- Os investimentos estrangeiros esperados após a vitória de Lula no segundo turno, prometendo restaurar a imagem do Brasil no exterior, até agora não conseguiram aumentar de forma considerável
Os ativos brasileiros, que já estão sendo evitados pelos investidores, recuaram ainda mais na segunda-feira, depois que uma insurreição liderada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro reacendeu os temores de instabilidade política na maior economia da América Latina. Estrategistas do Citigroup ao UBS Global Wealth Management, assim como do JPMorgan Chase, dizem, no entanto, que a recente queda talvez dure pouco, conforme o governo restabelece a ordem.
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Mas é pouco provável que as cenas caóticas de golpistas invadindo edifícios públicos estimulem o otimismo com os mercados locais, que estão ficando para trás dos pares globais neste novo ano, pois os investidores se preocupam com as políticas de Lula.
Os fundos de hedge brasileiros abandonaram em grande parte os ativos domésticos em meio a sinais de que o novo governo talvez reverta medidas favoráveis ao mercado adotadas nos últimos anos e prejudique as contas fiscais com gastos excessivos. Os estrangeiros aumentaram suas apostas de baixa do real em US$ 3 bilhões na primeira semana de 2023, tornando-a uma das moedas com pior desempenho nos mercados emergentes.
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O índice MSCI Brasil caiu 1,3% no acumulado do ano, em comparação com um avanço de 6% para o benchmark dos países em desenvolvimento.
Lula está montando uma frente unida com os legisladores e o judiciário do País. O presidente reuniu-se com representantes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e de vários membros de seu gabinete num Palácio da Alvorada em ruínas. Autoridades enviaram reforços policiais para Brasília, determinaram o afastamento do governador local e prenderam centenas de golpistas.
“A ação decisiva do governo e o apoio dos líderes do Congresso ajudarão, mas, no fim, a situação nas ruas e em Brasília precisa continuar sob controle”, disse Gordian Kemen, chefe de estratégia soberana de mercados emergentes do Standard Chartered Bank.
Esta não é a primeira vez que os investidores se mostram otimistas com as turbulências políticas no país latino-americano. Os traders ignoraram os protestos a favor de Bolsonaro após o segundo turno das eleições no final de outubro, mesmo enquanto o ex-presidente alimentava os temores de a eleição ter sido fraudada ao permanecer em silêncio depois de sua derrota.
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Contanto que os investidores percebam que os tumultos não vão alterar o panorama geral e a agitação social não piore, os ativos brasileiros têm chances de se recuperar dos ocorridos, de acordo com Brendan McKenna, economista e estrategista de câmbio de mercados emergentes, do Wells Fargo, em Nova York.
“No fim, Lula tomou posse e é muito improvável que a democracia do Brasil seja afetada”, disse ele.
O real enfraqueceu 0,7% na segunda-feira, liderando as perdas entre as 16 principais moedas do mundo acompanhadas pela Bloomberg, enquanto o benchmark de índice de ações Ibovespa oscilou entre ganhos e perdas. As quedas ocorrem em meio a um dia positivo nos mercados globais, com os indicadores de moedas e ações de mercados emergentes subindo pelo menos 1,1%.
Entretanto, os investidores estão longe de estarem otimistas. Os investimentos estrangeiros esperados após a vitória de Lula no segundo turno, prometendo restaurar a imagem do Brasil no exterior, até agora não conseguiram aumentar de forma considerável.
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A Verde Asset Management, gestora de fundos de hedge com sede em São Paulo, disse na semana passada aos seus clientes que o País corre o risco de perder uma grande oportunidade de se destacar entre os seus pares. Uma pesquisa do Bank of America com gestores financeiros latino-americanos que supervisionam US$ 79 bilhões divulgada no mês passado mostrou que os investidores estão mantendo os níveis de caixa próximos de máximas recordes. Mais da metade deles está tomando medidas de proteção contra uma queda brusca nos mercados de ações da região, acima da média histórica de 35% da pesquisa.
“Por si só, os eventos do fim de semana não são um divisor de águas. Mas acontecem num momento em que as dúvidas em relação ao Brasil estão um pouco maiores do que antes”, disse Guillaume Tresca, estrategista de mercados emergentes globais na Generali Insurance. “Há muito prêmio de risco relacionado com o novo governo, riscos relacionados com a transição de poder. Os acontecimentos do fim de semana, não ajudaram mesmo a diminuir o prêmio de risco.”
Davison Santana, da Bloomberg, contribuiu para esta matéria./ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA