Contudo, o volume de emissões do Banco Master chamou a atenção e levantou preocupações. Até o final do ano passado, o estoque era de R$ 50 bilhões em “depósitos a prazo”, nome técnico para títulos como os CDBs, com as taxas mais altas do mercado, de até 140% do CDI.
Somente os CDBs do Master equivalem a cerca de 50% da liquidez do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), instituição que cobre o prejuízo de investidores em até R$ 250 mil em caso de falência das instituições financeiras e possuía R$ 107,8 bilhões em recursos livres até o primeiro semestre de 2024, dado mais recente.
Agora, uma das principais dúvidas é não só se o banco de economia mista BRB arcará com o pagamento desses títulos e suas taxas, mas se a transação terá desfecho. Uma decisão publicada na terça-feira (6) pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (DF) impede que o negócio seja fechado antes de serem avaliados questionamentos levantados pelo Ministério Público do DF, que vê irregularidades no negócio (entenda nesta reportagem).
De qualquer forma, o Master não é o único banco de porte médio ou pequeno que possui CDBs com taxas altas. Um levantamento feito pela Quantum Finance, a pedido do E-Investidor, identificou quem são as instituições que emitiram títulos com as taxas mais altas do mercado em 2025 (até o final de abril). Foram considerados todos os CDBs com prazo de pelo menos 12 meses e que tenham sido distribuídos a clientes pessoas físicas ou jurídicas.
Saiba mais sobre os bancos que emitiram os CDBs com as maiores taxas do mercado em 2025:
“Haitong”: o rei dos CDBs atrelados ao IPCA
O banco que dominou os CDBs atrelados à inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025 é um nome pouco conhecido no país: Haitong Banco de Investimentos do Brasil. A instituição financeira de pequeno porte tem certificados que pagam até IPCA + 9,6%, com vencimento em 10 de abril de 2026. No prazo mais longo, de 36 meses, o rendimento mais alto é de IPCA+ 8,9%. Procurado, o Haitong não respondeu às solicitações do E-Investidor.
O Haitong é uma subsidiária do Haitong Securities, uma das maiores corretoras da China. “No Brasil, o Haitong atua principalmente no segmento de banco de investimento, oferecendo serviços como assessoria financeira, fusões e aquisições, mercado de capitais e tesouraria”, afirma Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos.
A agência de classificação de risco S&P (Standard & Poor’s) atribuiu em fevereiro uma nota “BrAAA” ao perfil de crédito da operação brasileira do Haitong, com perspectiva estável. Essa nota significa que a instituição tem uma capacidade alta de honrar com seus compromissos financeiros em comparação a outros bancos.
“Como um braço de uma instituição internacional, o Haitong é visto como uma opção sólida para investidores que buscam diversificação em renda fixa, especialmente em CDBs atrelados ao IPCA”, afirma Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos. “O risco do Haitong é mais ligado à baixa familiaridade da marca do que à solidez financeira em si”, diz Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital.
No segundo semestre de 2024, o Haitong tinha R$ 976 milhões em “depósitos a prazo”, que incluem títulos como os CDBs e Recibos de Depósito Bancário (RDB). O número representa uma queda de captação na categoria – no segundo semestre de 2023, o Haitong detinha R$ 1,07 bilhão em depósitos a prazo.
Banco Original: 110% do CDI
O Banco Original emitiu, em 2025, o segundo CDB mais rentável do mercado entre os títulos cujo rendimento é calculado em porcentual do CDI (%CDI). O certificado com prazo de 12 meses da instituição oferece retorno de 110% do CDI, só inferior aos retornos oferecidos pelos CDBs do Banco Master, de 120% do CDI. Procurado, o Original não respondeu às solicitações do E-Investidor.
A instituição financeira foi lançada em 2013 pelo grupo J&F, que controla a JBS, a partir da união entre o Banco JBS e o Banco Matone. Nasceu com foco no agronegócio e no varejo, mas expandiu para operações com grandes empresas e conglomerados. Em 2016, foi pioneiro em abrir contas 100% digitais, e em 2023, transferiu as operações de varejo para o PicPay. Em 2024, apresentou um resultado líquido de R$ 18 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 1,5 bilhão de um ano antes. Em 2022, o prejuízo líquido foi de R$ 1,6 bilhão.
“Após enfrentar prejuízos significativos nos anos anteriores, o Banco Original apresentou sinais de recuperação em 2024, impulsionado pela reestruturação de suas operações e foco no segmento corporativo”, diz Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos. Entretanto, ele chama a atenção para a nota de crédito do Original.
Em fevereiro deste ano, a agência S&P Global Ratings reafirmou os ratings de crédito do banco em “B-” na escala global e “brBBB” na escala nacional, classificações que indicam que a capacidade de pagamento é adequada, mas pode ser afetada pela deterioração do ambiente econômico e de negócios. “Quanto aos CDBs é fundamental que os investidores considerem os riscos associados. O Índice de Basileia do banco (indicador que mede a solidez da instituição financeira) chegou a 9,6% em setembro de 2024, abaixo do mínimo de 11% exigido pelo Banco Central, indicando uma capitalização pressionada”, afirma o especialista. Em dezembro, o indicador subiu para 13,97%.
No final de 2024, os depósitos a prazo somavam R$ 15,4 bilhões, alta de 33% em 12 meses.
“Sinosserra Financeira”: o maior entre os “CDBs DIs”
A Sinosserra Financeira é uma instituição de menor porte no sistema financeiro nacional, classificada como uma sociedade de crédito, financiamento e investimento. Ela é responsável pelo CDB DI+ mais rentável do mercado em 2025. Este tipo de CDB paga a variação do CDI, taxa próxima à Selic – que hoje está em 14,15% ao ano –, mais uma taxa prefixada. No caso da Sinossera, é possível encontrar certificados com essa taxa prefixada em 1,6% ao ano. Procurada, a Sinosserra Financeira não respondeu às solicitações do E-Investidor.
“Importante pontuar que a Sinosserra não tem nenhuma classificação de crédito”, afirma Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos. “A Sinossierra Financeira oferece oportunidades de retornos mais elevados, na minha opinião, acompanhadas de um perfil de risco alto.”
No site da Sinosserra Financeira, as últimas demonstrações publicadas são referentes ao ano de 2022. Contudo, no site do Banco Central, é possível colher números mais recentes. Até o segundo semestre de 2024, a financeira tinha R$ 129,3 milhões em depósitos a prazo. Em 2022, os depósitos a prazo somavam R$ 66,1 milhões.
Banco ABC: rendimento de 15,11% ao ano
O Banco ABC Brasil reinou entre os prefixados de 2025, oferecendo um CDB com prazo de 12 meses e que paga até 15,11% ao ano. Para Lages, da Valor Investimentos, é o banco mais estável da seleção, já que possui uma classificação de risco AAA+ pela Fitch Ratings, a melhor nota possível dentro da tabela de classificação da agência. Procurado, o ABC não se pronunciou.
“Reconhecido por uma solidez e uma atuação no segmento corporativo, o Banco ABC é uma opção atrativa para investidores interessados em produtos prefixados devido à sua gestão conservadora e foco em empresas de grande porte”, afirma Lages. Essa também é a visão de Patzlaff. “Ao avaliar os CDBs emitidos por essas instituições é importante considerar o perfil de cada banco, e a melhor classificação de crédito dentro da seleção é do ABC”, diz.
Até dezembro de 2024, o ABC tinha R$ 10,4 bilhões em depósitos a prazo, alta de 13% em relação ao mesmo período do ano anterior. Contudo, o banco não possui a estratégia de captação baseada na emissão desses títulos. Do total captado no final do ano passado, 17,9% ocorreu via CDBs, uma queda de representatividade em relação à dezembro de 2023, quando 18,8% do capital vinha desses certificados. Acompanhe aqui mais notícias sobre o Banco Master.