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- Ibovespa, índice de referência que aponta a temperatura do mercado acionário brasileiro, até o momento, apresentou uma volatilidade de 25,6%
- O minério está valorizado por conta da guerra na Ucrânia - subiu 17% nos últimos dois meses - e pode valorizar ainda mais
- Em 2023, o real apresenta valorização de quase 2% em relação ao câmbio norte-americano
O Ibovespa começou 2023 abalado por acontecimentos diversos – e intensos – que impactaram diretamente na percepção de risco dos investidores e, consequentemente, nos preços das ações. Invasão das sedes dos Três Poderes por manifestantes golpistas, troca de governos federal e estaduais e a crise na Americanas que levou a empresa a um processo de recuperação judicial foram alguns dos principais episódios que geraram volatilidade no principal índice da Bolsa de Valores brasileira.
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A instabilidade ganhou força principalmente após a eleição do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em outubro de 2022. Semanas depois da definição eleitoral, foi anunciada a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de Transição, que previa estouro do teto de gastos em aproximadamente R$ 200 bilhões, o que não agradou o mercado e catalisou o período de instabilidade. Relembre a história.
A Economatica tem um cálculo para medir a volatilidade do mercado e, neste ano (de 2 de janeiro até a última sexta-feira), a da Bolsa brasileira chegou a 24,22%, patamar 5,6 ponto percentual (p.p.) acima do mesmo período de 2022.
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O term0 significa a distorção maior nos preços das ações tanto para cima quanto para baixo se comparado com o último ano. E essa instabilidade na cotação pode ser prejudicial ao investidor, pois, há maiores chances de se perder dinheiro dependendo dos ativos que possui. Dessa forma, quanto maior a distorção dos preços, mais arriscado é para o investidor.
Especialistas entrevistados pelo E-Investidor explicaram que para fugir de impactos da volatilidade, que provocam quedas repentinas na carteira, o investidor precisa ter posições em ativos isentos – ou que ao menos sofrem menor reflexo – das questões políticas e econômicas do País. Assim, tradicionalmente, em períodos de caos em uma determinada região, os investidores podem vender os ativos de maior risco e comprar aqueles que têm posição forte na economia global e, portanto, não são tão afetados por questões locais.
E as opções mais conhecidas são ouro e dólar.
A commodity aparece como opção pelo fato da cotação não estar totalmente ligada a nenhum conflito econômico e devido à escassez do minério. Na prática, dificilmente haverá excesso de oferta do produto que fará com que seu preço tombe. A moeda norte-americana, por sua vez, ocupa a classificação de ativo de hedge (proteção) por ser a moeda mais utilizada em todo o mundo. Mais de 80% dos pagamentos internacionais são feitos com a divisa e grande parte das reservas internacionais dos grandes bancos está alocada em dólar.
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No início da pandemia de Covid-19, quando o mundo não sabia o real impacto do vírus, por exemplo, diversos países a fecharem suas economias, gerando reflexos negativos, principalmente, em regiões exportadoras, tal qual o Brasil. À época, por conta da instabilidade sobre o futuro, o dólar se valorizou 37% (entre 1º de janeiro de 2020 e 31 de maio do mesmo ano) e a volatilidade do Ibovespa no mesmo período foi de 65,07%. Vale lembrar que os primeiros casos de coronavírus no mundo foram descobertos na virada de 2019 para o ano seguinte.
Assim, dado a impossibilidade de prever os movimentos da Bolsa, os entrevistados recomendaram pelo menos 25% do portfólio de investimentos seja em ativos de proteção, podendo ser apenas uma das opções, ou dividir o montante entre ouro e dólar.
Qual comprar?
Na visão de Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, a escolha por ouro ou dólar vai depender do período que o investidor quer se proteger. Segundo ele, o ouro é o ativo mais interessante no curtíssimo prazo, enquanto o dólar serve para um horizonte de tempo maior.
O minério está valorizado por conta da guerra na Ucrânia – subiu 17% nos últimos dois meses – e pode mostrar ainda mais valorização, mas também pode recuar dependendo do andamento do conflito. A alta momentânea ocorre pelo fato da região russa ser a maior produtora de ouro do mundo e, como muitos países impuseram sanções econômicas contra os russos por conta do conflito, a oferta da commodity ficou escassa.
Já a taxa Selic em 13,75%, que deve permanecer ao menos durante todo o primeiro semestre, não deixa o câmbio tão atrativo para quem quer ter a moeda norte-americana no portfólio por um curto tempo. Os altos juros domésticos atraem investidores estrangeiros para alocar capital no País. Assim, o real fica mais valorizado frente aos pares internacionais, como a moeda estadunidense.
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E se o dólar começar a depreciar, pode ir na contramão do intuito de garantir uma proteção ao investidor contra a queda nas ações, pois seguirá no mesmo caminho dos papéis. Em 2023, o real apresenta valorização de quase 2% em relação à divisa norte-americana.
Guilherme Ishigami, broker da Mesa de Renda Variável da RJ Investimentos, afirma que a escolha entre qual dos produtos ter na carteira depende da cotação do dólar, “já que a moeda é mais sensível às questões [políticas e econômicas] no curto prazo” enquanto o ouro “é afetado pela lei de oferta e demanda”.
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, por sua vez, sugere o dólar frente ao ouro, pois comprar moeda é “teoricamente mais fácil” do que adquirir ouro. Além disso, ele diz que a subida dos juros nos Estados Unidos pode valorizar o câmbio norte-americano frente o real.
A última alta feita pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) ocorreu em 14 de dezembro, quando os juros subiram 0,50 ponto percentual (p.p). A expectativa da XP Investimentos para a taxa de juros norte-americana em 2023 está em 5,1%. E, semelhante à lógica descrita anteriormente nesta reportagem, a alta nos juros norte-americanos pode atrair investidores internacionais para maior economia do mundo, valorizando o dólar nos próximos meses.
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