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Buffett comprar ativos no Japão tem tudo a ver com dinheiro

Se você for um seguidor de Buffett, deveria ter previsto essas aquisições

Buffett comprar ativos no Japão tem tudo a ver com dinheiro
Foto: Reuters/Rick Wilking
  • A Berkshire Hathaway anunciou que sua "intenção é manter seus investimentos japoneses no longo prazo", e a atração do sogo shosha não é difícil de discernir
  • Uma razão provável para essas empresas não terem atraído o interesse de Omaha anteriormente é que elas também tradicionalmente têm margens baixas, têm pouco caixa, têm dívidas pesadas e estão mais preocupadas com os interesses de seus irmãos corporativos do que com seus acionistas
  • Isso começou a mudar na última década conforme a alavancagem despencou e os planos de gerenciamento que orientavam suas atividades mudaram de promessas estratégicas nebulosas para benchmarks financeiros mais difíceis, como fluxo de caixa livre e retorno sobre o patrimônio líquido

(David Fickling/WP Bloomberg) – Vale a pena perguntar se um investidor percorrendo algumas métricas no estilo Warren Buffett poderia ter previsto a compra de participações importantes em cinco tradings (conhecidas como sogo shosha) do Japão muito antes de serem anunciadas por ele na manhã de segunda-feira (31) – o que elevou o valor das ações das empresas.

Vamos assumir que você esteja procurando o que a Berkshire Hathaway Inc. sempre buscou – dinheiro barato. Analise todas as empresas listadas no mundo e exclua aquelas que estão negociando com um prêmio em relação ao valor contábil, aquelas que têm rendimentos de fluxo de caixa livre de menos de 10% e aquelas que não estão gerando pelo menos US$ 2 bilhões em caixa livre por ano.

Vamos excluir também empresas de energia e montadoras de carros – ambas passando por turbulências importantes e imprevisíveis no momento – bem como telecomunicações, um setor pelo qual Buffett historicamente demonstrou pouco entusiasmo. Deixe de fora os serviços financeiros também, que já constituem uma boa parte do portfólio da Berkshire. O que sobrou?

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Acredite ou não, três das dez empresas em todo o mundo que atendem a esses critérios são as tradings japonesas Mitsubishi Corp., Marubeni Corp. e Sumitomo Corp. – todas empresas nas quais a Berkshire acumulou cerca de 5% de participação nos últimos 12 meses. Dos dois investimentos restantes, a Mitsui & Co. vem um pouco fraca em rendimento do caixa livre e a Itochu Corp. um pouco rica em valor contábil, mas ambas parecem próximas o suficiente para corresponder ao tema de investimento geral.

A Berkshire Hathaway anunciou que sua “intenção é manter seus investimentos japoneses no longo prazo”, e a atração do sogo shosha não é difícil de discernir. Desde suas origens no sistema keiretsu do pós-guerra de impérios de negócios vagamente conectados, eles ganharam dinheiro como a cola que mantém a economia do Japão unida, tirando uma parte de uma série de investimentos ao estilo Berkshire em matérias-primas, finanças, transporte, maquinário e produtos de consumo.

Uma razão provável para essas empresas não terem atraído o interesse de Omaha anteriormente é que elas também tradicionalmente têm margens baixas, têm pouco caixa, têm dívidas pesadas e estão mais preocupadas com os interesses de seus irmãos corporativos do que com seus acionistas. Como meu colega Anjani Trivedi escreveu, isso começou a mudar na última década conforme a alavancagem despencou e os planos de gerenciamento que orientavam suas atividades mudaram de promessas estratégicas nebulosas para benchmarks financeiros mais difíceis, como fluxo de caixa livre e retorno sobre o patrimônio líquido.

Várias dessas tradings prometeram participação nos lucros a serem pagos como dividendos que, embora baixos para os padrões internacionais, são muito maiores do que os investidores de sogo shosha esperam. Esses pagamentos também se traduzem em rendimentos decentes, dadas as baixas avaliações que o mercado colocou sobre os negócios subjacentes:

Isso representa um paralelo interessante de como o Japão corporativo evoluiu, especialmente sob a liderança do primeiro-ministro Shinzo Abe. Como meus colegas Daniel Moss e Noah Smith escreveram, a gestão do premier sofreu uma reviravolta notável para uma economia que muitos haviam considerado obsoleta. Desde que Abe retomou o cargo em 2012 após um hiato de cinco anos, o índice Topix de Tóquio superou todos os benchmarks de ações globais, exceto o S&P 500 e, nos últimos meses, o CSI 300 da China.

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Era uma vez há muito tempo, as tradings do Japão eram como a Berkshire Hathaway sem foco no retorno para os acionistas. Agora, que elas parecem ter finalmente obtido value investing; por que Warren Buffett não investiria nelas?

(Fickling é colunista da Bloomberg Opinion cobrindo commodities, bem como empresas industriais e de consumo. Ele foi repórter da Bloomberg News, Dow Jones, do Wall Street Journal, do Financial Times e do Guardian)

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