Operação Carbono Oculto pode bloquear até R$ 1,4 bilhão de fundos de investimentos (Foto: Foto Werther Santana/Estadão)
“O dinheiro do investidor honesto alocado em fundos de investimentos pode ser bloqueado durante os desdobramentos da operação Carbono Oculto“, disse Marcia Meng, Superintendente da Receita Federal em São Paulo e uma das responsáveis pela operação, em coletiva com a imprensa nesta quinta-feira (28). A fala é no âmbito da investigação que apura um esquema de fraudes e lavagem de dinheiro envolvendo o Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis.
Segundo Meng, a Receita identificou fundos abertos de ações, imobiliários e multimercados com aportes do crime organizado, dos quais podem sofrer bloqueios na ordem de R$ 1,4 bilhão.
“Conseguimos na Procuradoria da Fazenda Nacional cautelares fiscais já deferidas. No entanto, esperamos que esse dinheiro seja exclusivamente do crime organizado. Nesse momento, não podemos criar no mercado um pânico para as pessoas deixarem de investir”, disse.
Qual o impacto da operação na Faria Lima para os investidores?
Na manhã de hoje, agentes da PF, PM, Gaeco e Receitas Federal e Estadual cercaram a Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, na maior operação realizada até hoje para combater a infiltração do crime organizado na economia formal do País. Um total de 42 fundos foram identificados como fraudulentos. Desses, 21 fundos fechados foram bloqueados.
De acordo com Meng, a investigação busca punir os criminosos e não os investidores comuns. Ainda assim, ela não descartou a possibilidade de bloqueios de valores do investidor em fundos abertos.
“Sempre tentamos fazer a separação, mas podemos bloquear o dinheiro de quem está dentro desses fundos, inclusive, o dinheiro do cidadão honesto”, afirmou.
A Superintendente também explicou que o dinheiro do PCC entrava no sistema formal por meio de depósitos bancários em instituições financeiras com dinheiro vivo ou por meio da venda dos combustíveis com o uso de máquinas de cartão. Com o saldo, os criminosos faziam aquisição de cotas dos fundos de investimentos, o que trazia rentabilidade e ganhos com o dinheiro do crime organizado.
Procurada pelo E-Investidor, a Receita Federal de São Paulo informou que os fundos que estão sendo bloqueados na Carbono Oculto são fechados e identificados como pertencentes à organização criminosa. Os nomes desses fundos não foram informados por conta do sigilo fiscal, segundo o órgão.
“Paraíso fiscal” das fintechs
Robinson Sakiyama Barreirinhas, secretário especial da Receita Federal, reforçou a necessidade de maior fiscalização sobre as fintechs. Segundo ele, o governo já tentou equiparar a supervisão dessas empresas à dos grandes bancos, mas boatos sobre uma suposta taxação do Pix frearam o avanço da regulação.
Em relação aos fundos, Barreirinhas considerou que o Brasil pode ser visto como um “paraíso fiscal” diante das brechas regulatórias com as fintechs e fundos. Apesar disso, buscou tranquilizar os investidores. “Estamos realizando uma supervisão sistemática sobre os possíveis bloqueios. O investidor não deve se preocupar: a operação está sendo conduzida com cautela, e novos desdobramentos virão”, disse o secretário sobre a operação Carbono Oculto.