- "As fintechs que dependem de mais capital devem ser desafiadas no atual cenário, dada a redução de apetite do investidor", considerou a agência
- A Selic subiu 0,5 ponto na quarta-feira, para 13,25% ao ano, após ter tocado a mínima de 2% anuais no começo do ano passado
- A pandemia do Covid-19, o PIX e o open banking aceleraram a migração dos clientes bancários para serviços online, destacou a Fitch
A deterioração acentuada das condições macroeconômicas pode levar a uma consolidação no mercado brasileiro de plataformas digitais de serviços financeiros, as chamadas fintechs, afirmou nesta sexta-feira (17), em relatório, a agência de classificação de risco Fitch. Ao considerar o ciclo de alta dos juros no País e a menor disposição de investidores de venture capital para seguir com aporte de recursos em negócios num ambiente econômico mais hostil globalmente, a Fitch afirmou que o foco do setor deve mudar de crescimento da base de clientes para uma busca por receitas.
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A taxa básica de juros da economia, a Selic, subiu 0,5 ponto na quarta-feira (15), para 13,25% ao ano, após partir da mínima de 2% ao ano em janeiro de 2021. “As fintechs que dependem de mais capital devem ser desafiadas no atual cenário, dada a redução de apetite do investidor”, considerou a agência, frisando que repassar custos de financiamento maiores para o mercado pode ser um desafio dadas as estratégias das fintechs orientadas por preço e pelo compromisso relativamente fraco dos clientes com suas marcas.
Além disso, o alto custo de aquisição de clientes limitarão os gastos de marketing, fundamentais para os objetivos de expansão acelerada da base, diz o relatório da Fitch. “Isso tem o potencial de mudar a indústria para ser mais orientada para a retenção de clientes, com base em vendas cruzadas”, afirmou a agência, adicionando que fintechs com negócios mais desenvolvidos e que já atuaram para resolver questões de capital provavelmente manterão o ritmo de crescimento, aumentando a participação de mercado ou comprando rivais menores.
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Após quase uma década de ascensão acelerada no Brasil, apoiada em arcabouço regulatório mais flexível do Banco Central e em grandes volumes de investimentos do exterior, bancos e carteiras digitais como Nubank, PicPay e outros formaram bases de dezenas de milhões de clientes, criando plataformas muito mais baratas do que as dos tradicionais bancos de varejo.
A pandemia do Covid-19, o Pix e o open banking aceleraram a migração dos clientes bancários para serviços online. O Pix, lançado pelo Banco Central em 2020, permitiu que mais de 50 milhões de pessoas fizessem sua primeira transferência bancária. No fim de março, havia 124 milhões de usuários do serviço, com transações de cerca de R$ 780 bilhões mensais.
“Mas a piora do mercado nos últimos meses, combinada com o aumento dos juros, pode desafiar a postura de financiamento e liquidez das fintechs, especialmente para aquelas que dependem de produtos de financiamento estruturado e de investidores institucionais por limitações regulatórias”, diz o relatório.