Consórcio imobiliário é investimento? Entenda como usar a modalidade para organizar e ampliar patrimônio
Especialistas explicam pontos de atenção, oportunidades de negociação e o papel dos simuladores para organizar o patrimônio e tomar decisões mais conscientes
Como comprar um imóvel com consórcio imobiliário?
Foto: Adobe Stock
O consórcio imobiliário costuma aparecer como uma alternativa ao financiamento na hora de comprar um imóvel, mas será que ele pode ir além e funcionar como estratégia para ampliar patrimônio? Mais do que planejar a aquisição de um apartamento ou casa, alguns investidores enxergam nessa modalidade uma forma de organizar recursos e se preparar financeiramente para o futuro.
Com parcelas que geralmente são mais baratas do que os juros de um financiamento, o consórcio chama a atenção de quem quer economizar e manter o controle das finanças a longo prazo. A liberação do crédito, no entanto, não acontece de imediato: ela depende de sorteio ou de lances estratégicos, que podem exigir ofertas altas, avisam os especialistas. Além disso, o valor da carta de crédito acompanha índices como o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), o que torna ainda mais importante conhecer bem o contrato e calcular o custo total antes de entrar no plano.
Profissionais como Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, apontam que o consórcio não gera rentabilidade sobre o dinheiro aplicado. E o motivo é que as parcelas vão para um fundo comum e são atualizadas periodicamente, sem multiplicar o capital investido, funcionando mais como uma poupança programada do que um investimento financeiro.
Patzlaff lembra que o recebimento do crédito não é garantido no início do plano, e lances altos podem reduzir o valor líquido disponível, enquanto taxas e correções continuam incidindo sobre o total.
“Muitos consumidores entram no consórcio com a ilusão de estar contratando algo sem juros e de conseguir comprar um bem com parcelas baixas, o que pode mascarar o real custo da operação, que inclui taxas, correções, falta de liquidez e incerteza quanto à contemplação. Embora o consórcio possa ser útil para quem tem disciplina e objetivos de médio ou longo prazo, ele está longe de ser um investimento”, diz.
Por outro lado, alguns profissionais como Marcelo Lucindo, CEO da Evoy Consórcios, veem um potencial estratégico na modalidade. Para ele, quando a carta de crédito é usada para adquirir um imóvel com possibilidade de valorização ou para diversificação de patrimônio, o consórcio passa a ser um mecanismo para acumular patrimônio de maneira organizada e previsível porque elimina os juros de um financiamento tradicional e impõe disciplina na programação financeira, oferecendo ao participante a chance de crescer o patrimônio de forma planejada, desde que conheça bem as regras, taxas e índices envolvidos.
Outro diferencial importante, diz Lucindo, é a liberdade de negociação. Ao ser contemplado, o consorciado ainda ganha poder de compra à vista, o que amplia as chances de negociação e permite aproveitar oportunidades de preço que dificilmente surgem em operações financiadas. “O consórcio atende tanto quem está conquistando o primeiro imóvel quanto o investidor que busca diversificar o patrimônio e gerar renda com locação. É uma forma de investir com estratégia, segurança e propósito”, defende.
Riscos de usar consórcio como estratégia de alavancagem patrimonial
Enquanto especialistas em consórcios e seguros como Robinson Assis, sócio da The Hill Capital, alertam para os riscos de usar o consórcio como estratégia de alavancagem de patrimônio, outros profissionais enxergam possibilidades de retorno para quem entende a dinâmica da modalidade. Assis lembra que muitos participantes entram esperando uma contemplação rápida, mas a liberação da carta de crédito depende de sorteio ou de lances bem planejados, o que pode levar meses ou anos. Ele também ressalta a necessidade de disciplina financeira, já que parcelas reajustadas por índices como o INCC exigem comprometimento de longo prazo e não permitem resgates imediatos.
“A inflação também é vista como um inimigo e pode diminuir o poder de compra. É imprescindível escolher um bom consórcio e com boas taxas de administração. Uma outra preocupação também é a inadimplência do grupo, que pode atrasar as contemplações ou usar o fundo de reserva, afetando a saúde financeira do consórcio todo”, alerta Léa Saab Faggion, advogada imobiliária e gerente da OMA, empresa especializada em administração condominial.
Por outro lado, Bruno Borges, CMO do Mycon, mostra que o mesmo momento de contemplação que preocupa especialistas pode ser explorado como oportunidade. Participantes mais estratégicos usam a carta de crédito para negociar à vista ou revender cartas contempladas, aproveitando um ágio de até 30% sobre o valor original. Além disso, o uso planejado do lance, incluindo ofertas de bens já quitados, pode antecipar a contemplação e tornar o retorno mais previsível, transformando o consórcio em uma ferramenta de gestão de patrimônio.
Como planejar e escolher o consórcio com segurança
Para ajudar na tomada de decisão, um simulador de consórcio surge como ferramenta prática. Ele permite comparar cenários e avaliar se a modalidade faz sentido dentro do planejamento financeiro, testando diferentes valores de crédito, prazos e percentuais de lance. Com essas simulações, Patzlaff diz que o investidor consegue entender quanto capital ficará imobilizado, qual será o custo total do plano e como o consórcio se compara a outras alternativas, como financiamentos ou aplicações financeiras. Dessa forma, a decisão deixa de ser apenas emocional e passa a se basear em dados e estratégia patrimonial.
“Também é importante comparar o mesmo valor aplicado mensalmente em investimentos de renda fixa, como Tesouro Direto ou CDBs, para verificar se o rendimento não compensaria mais. O simulador ajuda a enxergar o consórcio de forma racional, sem se deixar levar apenas pela promessa de ‘juros zero'”, explica Patzlaff.
Caio Canez de Castro, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, lembra que escolher uma administradora confiável é fundamental para quem considera o consórcio de imóvel como ferramenta de planejamento financeiro. Segundo ele, empresas com idoneidade e presença consolidada no mercado nacional oferecem maior segurança de que o crédito será entregue quando chegar a hora do desembolso. A escolha do plano de consórcio também é determinante, e contar com uma assessoria especializada ajuda a avaliar opções, organizar pagamentos e definir a estratégia mais adequada para cada objetivo.