Enquanto isso, nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) cortou os juros americanos em 25 pontos-base, para a faixa entre 4% a 4,25% ao ano. A decisão não foi unânime. O diretor Stephen Miran, indicado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, votou por uma redução de 50 pontos-base. O gráfico de pontos do comitê, que reúne as projeções de seus membros, sugere agora mais um corte acumulado de 50 pontos-base nos juros em 2025.
Se por lá o ciclo de relaxamento monetário já teve início, por aqui o Copom destacou que o cenário atual exige cautela na condução da Selic. O BC afirmou que seguirá vigilante, avaliando se a manutenção dos juros altos é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. “O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, disse em comunicado.
O Copom ainda ressaltou que acompanha os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos ao Brasil, além dos desenvolvimentos da política fiscal doméstica, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. O BC não forneceu projeções claras para as próximas reuniões, mas sinalizou que o momento exige uma política monetária em patamar significativamente contracionista por “período bastante prolongado”.
Para o mercado, o comunicado veio em tom mais duro do que o esperado, indicando poucas chances de corte de juros em 2025. Veja as primeiras impressões sobre a decisão do Copom:
Caio Megale, economista-chefe da XP
Dois pontos do comunicado vieram mais duros do que a média do mercado esperava. O primeiro foi a sinalização, ao final do texto, de que os juros podem voltar a subir se necessário. O segundo ponto, talvez ainda mais relevante, veio nas projeções: o comitê estimou a inflação do horizonte relevante – 18 meses à frente, no primeiro trimestre de 2027 – em 3,4%, acima dos 3,2% que o mercado projetava. O texto deixou claro que a possibilidade de flexibilizar a política monetária fica para o primeiro trimestre do ano que vem, e não para o curto prazo.
Cláudia Moreno, economista do C6 Bank
Houve muito pouca mudança no comunicado em relação à reunião anterior. O Copom tinha espaço para adotar um tom mais dovish (flexível), mas optou por manter a postura dura. Nesse cenário, um corte de juros em dezembro, que chegou a ser precificado pelo mercado, parece muito pouco provável. Considerando as reuniões de novembro e dezembro, a sinalização é de que eventuais cortes devem ficar mais para frente, possivelmente apenas em 2026.
Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg
O comunicado não trouxe surpresas: o texto ficou muito parecido com o anterior, indicando a preocupação do BC em relação à desancoragem das expectativas e à resiliência do mercado de trabalho. O tom do texto seguiu indicando poucas chances de cortes de juros no curto prazo.
Gabriel Lago, sócio da The Hill Capital
Na minha visão, o comunicado deixou claro que não haverá redução na próxima reunião e que existe, sim, a possibilidade de uma alta, caso o cenário piore — especialmente com uma desancoragem da inflação em serviços ou no câmbio. Isso mostra que o Banco Central não descarta voltar a subir os juros e reforça sua preocupação e compromisso em manter a inflação controlada por mais tempo.
Acredito que a repercussão nos mercados amanhã deve ser de uma forma imediata com os juros subindo. O dólar pode ganhar um pouco de força com essa percepção de risco externo e geopolítico.
Lucas Constantino, estrategista-chefe da GCB Investimentos
O comunicado manteve tom cauteloso, reiterando o compromisso com a estabilidade de preços. Nesse contexto, a política monetária deve permanecer em território contracionista por tempo suficiente para assegurar a convergência da inflação e preservar a credibilidade da instituição.
Em relação à inflação, o quadro recente trouxe algum alívio, refletindo a valorização cambial e a queda nos custos ao produtor. O elevado diferencial de juros em relação às economias avançadas, especialmente com a retomada do ciclo de cortes pelo Federal Reserve, favorece a entrada de capital estrangeiro e contribui para a apreciação do real, ampliando o efeito desinflacionário. Ainda assim, a inflação segue acima da meta, núcleos permanecem pressionados e as expectativas continuam desancoradas.
Marco Noernberg, head de renda variável da Manchester Investimentos
Novamente, me parece que o tom do Copom continua muito linear, sinalizando que pretende manter a taxa básica elevada pelo máximo de tempo possível. A ideia é estabilizar a inflação e conter riscos, inclusive os fiscais. Embora o tema fiscal não esteja tão em destaque agora, o mercado acompanha de perto. Manter os juros mais altos por mais tempo é, na visão do Copom, uma forma de evitar fuga de capitais e preservar a confiança. Ou seja, o discurso está em linha com as últimas comunicações do comitê.
Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos
O Copom entregou um comunicado bastante hawkish (duro). No conjunto, a decisão veio na cauda mais dura do espectro de possibilidades: manteve a projeção de inflação em 3,4% para o primeiro trimestre de 2027 apesar da melhora do câmbio, não suavizou a avaliação do cenário e reforçou o risco fiscal como motivo de cautela.
Na sinalização, seguiu em modo de avaliação do nível adequado de juros, sem descartar nova alta. Para o mercado, trata-se de um comunicado duro, sem concessões, que dificulta uma mudança rápida de tom. Dada a comunicação de hoje, flexibilizações em 2025 só ocorreriam diante de melhora relevante de cenário.
Pablo Spyer, conselheiro da Associação Nacional das Corretoras de Valores (ANCORD)
O comunicado veio mais duro do que o mercado esperava, mantendo o tom cauteloso, sem abrir espaço para cortes no curto prazo. O Banco Central deixa claro que prefere cautela a arriscar um movimento prematuro que comprometa a credibilidade da política monetária. Essa postura contrasta com o cenário internacional. Enquanto o Fed cortou os juros nesta quarta-feira (17), dando início a um ciclo de afrouxamento nos Estados Unidos, o Brasil opta por segurar firme sua taxa básica, reforçando a mensagem de disciplina no combate à inflação.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter
O tom ainda foi bem hawkish, sem dar espaço para discussão sobre corte de juros no curto prazo, apesar da melhora recente no cenário externo, com o corte de juros pelo Fed e a valorização do câmbio desde a última reunião. Sobre a economia doméstica, o Copom manteve sua avaliação de dinamismo no mercado de trabalho e desaceleração moderada do crescimento. Com expectativas desancoradas e mercado de trabalho robusto, o Comitê indica que não deve ter pressa em iniciar a discussão sobre redução na Selic.
Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval
Consideramos que a mensagem foi conservadora, baseada em um diagnóstico que faz algum reconhecimento da melhora, mas muito leve e com bastante ressalva. Portanto, no final das contas, o Banco Central vê isso como argumentos para reforçar a estratégia e seguir mantendo a Selic estável, em nível contracionista, durante período prolongado.