Poupança apresenta rentabilidade mais baixa que a de outros produtos de renda fixa. Foto: Adobe Stock
O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou nesta quarta-feira (18) a Selic de 14,75% para 15% ao ano. As expectativas sobre a decisão levantavam dúvidas no mercado, com parte dos investidores acreditando na manutenção da taxa básica de juros brasileira, enquanto outra parcela apostava que o ciclo de altas ainda não havia chegado ao fim. Com exceção da poupança, produtos de renda fixa mantêm atratividade.
Segundo Alexandre Gaino, professor de economia da ESPM, a política monetária mais restritiva tem sido adotada pelo Banco Central (BC) por uma convergência de motivos internos e externos. “Entre os fatores que explicam esse cenário, estão as incertezas associadas aos efeitos da política comercial dos Estados Unidos, a elevada expectativa de inflação interna e as dúvidas relativas às metas fiscais”, diz.
As expectativas inflacionárias continuam elevadas. Segundo o Relatório Focus, a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025 ainda é de 5,25% — ou seja, 0,75 ponto porcentual acima do teto da meta, de 4,50%. Já a estimativa para a Selic no final do ano continua em 14,75% pela sexta semana consecutiva.
Qual o impacto para a poupança?
A tradicional caderneta de poupança é o produto mais utilizado por brasileiros, ainda que nos últimos anos os títulos privados, os fundos de investimento e as moedas digitais tenham ganhado espaço nas carteiras de investimento, conforme mostra a 8ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o instituto de pesquisas Datafolha.
Em 2024, a utilização da poupança recuou dois pontos percentuais, para 23%, retornando ao patamar de 2021, enquanto outros produtos financeiros apresentaram estabilidade ou alta no total de investidores. Na visão da Anbima, dois fatores ajudam a explicar as mudanças: a retirada de recursos da poupança para necessidades de consumo imediato ou, dado o baixo rendimento do produto, a troca por outros ativos mais rentáveis.
Atualmente, com a Selic a 15%, acima do patamar de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança por mês é de 0,5% mais a variação da Taxa Referencial (TR). Já se a taxa básica de juros brasileira ficar igual ou abaixo de 8,5% ao ano, o retorno da poupança passa a ser equivalente a 70% da taxa de juros brasileira mais a variação da TR.
Diego Ramiro, CEO da Miura Investimentos, explica que a poupança tem uma remuneração muito menor que a de outros produtos, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). Isso vale mesmo se as regras de tributação dos investimentos forem alteradas com as propostas do governo federal.
A ideia da pasta econômica é tributar em 5% as novas emissões de títulos que hoje são isentos, como LCAs e LCIs. Em relação às aplicações que seguem atualmente a tabela regressiva do Imposto de Renda (IR), haveria uma alíquota única de 17,5%, independentemente do tempo de investimento. A poupança, no entanto, continuaria sem a cobrança de IR.
Publicidade
“Na maioria das vezes, a poupança não entrega nem a inflação. Isso significa que não adianta ter o benefício de um ativo que não sofre tributação, se esse ativo também não corrige juros nem o ganho real da inflação”, afirma Bruna Centeno, economista, sócia e advisor na Blue3 Investimentos.
Para Ramiro, da Miura Investimentos, mesmo com a possibilidade de tributação, LCIs e LCAs continuariam valendo a pena, já que outros títulos de renda fixa passariam a ter um imposto fixo de 17,5%, acima dos 5% previstos para as letras de crédito. “A depender das taxas, comparando com CDBs, as LCIs e LCAs continuam sendo uma excelente opção para as carteiras de pessoas físicas”, avalia.
Com a Selic elevada, a recomendação continua sendo pelos ativos de renda fixa, tanto os de taxa prefixada quanto os atrelados à inflação, já que o patamar atual da taxa de juros se mantém alto por conta da pressão inflacionária. “Isso já vem se refletindo nas recomendações de mercado desde o estresse que vimos a partir de meados de 2024, quando o ciclo de corte da Selic foi interrompido e começou a sinalizar alta novamente”, diz Centeno.
Quanto rendem R$ 10 mil na poupança?
A pedido do E-Investidor, Fabio Gallo, colunista do Estadão e professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), elaborou uma análise sobre o rendimento de investimentos na poupança e em outros ativos de renda fixa considerando a atual taxa Selic. A simulação calcula a rentabilidade bruta, líquida (descontadas taxas e impostos) e real (ajustada pela inflação) de um investimento de R$ 10 mil em diferentes tipos de títulos.
O valor aplicado na poupança traria um retorno de R$ 820 em um ano. Confira os resultados a seguir: