Investidores do Cartesia Recebíveis Imobiliários ficaram insatisfeito com a reprecificação dos ativos do FII (Foto: Adobe Stock)
Os cotistas do Cartesia Recebíveis Imobiliários (CACR11) convocaram uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para retirar o Banco Daycoval da função de administrador do fundo imobiliário e substituí-lo pela BRL TRUST Distribuidora. O prazo de votação começou nesta terça-feira (4) e segue até o dia 24 de novembro.
A proposta surge em meio ao descontamento dos investidores com a queda de R$ 60,7 milhões no valor de mercado de quatro certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) que financiam projetos imobiliários nos estados de São Paulo e da Bahia. Os ativos respondem por 56,87% do portfólio do FII.
Procurado pelo E-Investidor, o Banco Daycoval não quis comentar o assunto. O espaço segue aberto.
O episódio trouxe volatilidade para as cotas do Cartesia Recebíveis Imobiliários. Na época, as cotas apresentaram perdas de 16% nas primeiras horas do primeiro pregão após a nova avaliação dos ativos.
Em fato relevante divulgado no dia 19 de setembro, o Banco Daycoval comunicou que o corte no valor dos CRIs veio após mudanças na estrutura de garantias dos títulos de dívidas e reorganizações societárias das empresas responsáveis pelos empreendimentos. Com isso, o atual administrador do CACR11 concluiu que houve uma deterioração da qualidade de crédito dos CRIs.
Veja os CRIs que foram reprecificados pelo Banco Daycoval
CRI
Representação da carteira do CACR11
Valor em 18/09/2025
Valor após reprecificação
CRI Itaparica
18,91%
R$ 82,2 milhões
R$ 59,4 milhões
CRI Real Park
6,78%
R$ 29,5 milhões
R$ 20,3 milhões
CRI Santo André
20,09%
R$ 87,3 milhões
R$ 73,3 milhões
CRI Savoie
11,07%
R$ 48,1 milhões
R$ 33,4 milhões
Total
56,87%
R$ 247,3 milhões
R$ 186,65 milhões
Fonte: Banco Daycoval
“Contribuíram para essa conclusão as incertezas em relação à capacidade de geração de caixa dos Empreendimentos, e o entendimento de que houve redução da capacidade de pagamento das SPEs (Sociedades de Propósito Específico – organizações empresariais criadas para o desenvolvimento de um único projeto, atuando no financiamento das obras do empreendimento) e fragilização das garantias das Notas”, argumentou o Daycoval.
Na época, a Cartesia Capital, gestora responsável pelo FII, reagiu à medida e negou qualquer deterioração dos ativos que compõem o portfólio do CACR11. A asset contratou ainda uma auditoria independente para reavaliar os CRIs mencionados pelo Daycoval a fim de comprovar a capacidade econômica dos empreendimentos. O resultado da nova análise foi apresentado pela gestora em seu último relatório gerencial, divulgado no fim de outubro.
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No documento, a gestora destaca que os projetos imobiliários, nos quais são financiados pelos CRIs investidos, possuem um valor geral de vendas (VGV) projetado — responsável por indicar o potencial econômico do negócio — de R$ 1,295 bilhão, enquanto o terreno onde os empreendimentos estão sendo construídos são avaliados em R$ 271,7 milhões.
Avaliação da Cartesia Capital dos empreendimentos financiados pelos CRIs
Empreendimento
VGV Projetado
Avaliação Terreno
Santo André
R$ 625,2 milhões
R$ 155 milhões
Itaparica
R$ 461,4 milhões
R$ 87 milhões
Savoie
R$ 89 milhões
R$ 18,7 milhões
Real Park
R$ 59,8 milhões
R$ 10,8 milhões
Fonte: Cartesia Capital
Para Carol Borges, head e analista de FIIs da EQI Research, os números em si não reduzem os riscos apontados pelo Banco Daycoval. Isso porque a análise apresentada pela Cartesia mostra a projeção econômica futura do empreendimento, enquanto a instituição financeira observou o risco atual de crédito das operações.
“No fim das contas, há o risco de crédito no curto prazo. Já no longo prazo, se a tese da gestora se confirmar, o pagamento dos CRIs será realizado com a materialização dos projetos. Se surgir novos atrasos ou eventos, o fundo pode ter outras remarcações nos seus ativos”, diz Borges.
Às 16h30 (de Brasília) desta terça-feira (4), as cotas do Cartesia Recebíveis Imobiliários (CACR11) operavam com perdas de 1,31%, sendo negociadas a R$ 74,31%. Em 2025, os papéis acumulam avanço de 1,41%.