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A deflação no Brasil vai continuar? Veja o impacto na bolsa

A Bolsa se torna mais atrativa tendo em vista o ciclo de juros mais avançado no Brasil do que em outros países

A deflação no Brasil vai continuar? Veja o impacto na bolsa
Alvo da inflação para este ano é de 3,50%, com tolerância superior de até 5%. Enquanto, para 2023, a meta é de 3,25%, com banda até 4,75%
  • IPCA mensal de setembro ficou em -0,29%
  • O impacto do corte de impostos e dos preços de combustíveis deve ter um efeito mais diluído
  • Christopher Galvão, da Nord Research, acredita em aumento da inflação na próxima divulgação do IBGE

O Brasil registrou o terceiro mês seguido de deflação com a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, que ficou em -0,29%. No entanto, a deflação – queda generalizada dos preços de produtos e serviços em um determinado período – não está no radar do mercado para o futuro.

O dado negativo reflete o reajuste nos impostos relacionados aos combustíveis. O ICMS foi cortado em pelo menos 20 Estados e as alíquotas de Cide-Combustíveis e Programa de Integração Social e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) foram reduzidas a zero, por exemplo. Especialistas entrevistados pelo E-Investidor afirmam que o impacto do corte de impostos e preços deve ter um efeito mais diluído.

Ricardo Macedo, economista e professor da Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), diz que, na última divulgação, a desaceleração do IPCA já foi menor, dando um indicativo de que esse movimento tende a não se sustentar. Em setembro, o grupo dos transportes (-1,98%) exerceu o maior impacto negativo sobre o índice geral, contribuindo com -0,41 ponto percentual (p.p.).

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“Os combustíveis e a gasolina têm um peso muito grande dentro do IPCA. Em julho, o efeito foi maior por conta da fixação da alíquota máxima de ICMS, mas temos observado reduções no preço médio do combustível vendido para as distribuidoras, o que tem contribuído para a continuidade da queda dos preços”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, em entrevista à agência de notícias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Petrobras passou por uma temporada de anúncios de reduções nos preços de combustíveis. Em julho, por exemplo, ocorreu uma queda de R$ 0,15, ou 3,88%, no preço do litro da gasolina. Porém, essa medida também não foi mais anunciada pela companhia.

Christopher Galvão, analista da Nord Research, acredita que ocorrerá um aumento da inflação na próxima divulgação do IBGE. “Isso deve ocorrer porque as deflações não estiveram relacionadas a uma dinâmica de atividade baixa e uma economia desaquecida”, explica. Além disso, para o especialista, a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) de reduzir a produção de áreas de barris de petróleo pode diminuir a oferta e afetar os preços internacionais e no Brasil.

Vale destacar que esse movimento de alta nos preços já foi apontado no Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas (FGV). O dado apresentou um avanço de 0,42% na segunda quadrissemana de outubro.

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O analista da Nord Research diz também que o Banco Central não pode ficar dependente dos cortes de impostos para atingir a meta da inflação. “O BC precisa continuar uma postura mais dura para desacelerar [o IPCA] e tornar as expectativas do mercado mais ancoradas com as metas”, afirma.

O alvo de inflação para este ano é de 3,50%, com tolerância superior de até 5%. Enquanto para 2023, a meta é de 3,25%, com banda até 4,75%. Hoje, a inflação acumulada nos últimos 12 meses é de 7,17%.

O professor da Facha declara também que apesar da economia estar desacelerada em alguns segmentos, em função de incentivos por parte do governo, como o Auxílio Brasil, “ela (economia) pode acelerar, o que ocasionará uma alta dos preços em função do final de ano”, diz, em referência ao período que concentra Black Friday (última sexta-feira de novembro), Natal e o ano-novo.

Dúvidas sobre os cortes dos impostos

De todo modo, a grande dúvida do mercado é se haverá a volta da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico para petróleo, gás natural, etanol e derivados (Cide-Combustíveis).

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Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, afirmou que se o imposto for retomado, haverá uma alta de aproximadamente 0,5 ponto porcentual no acumulado do ano. “Não ter o Cide-Combustíveis seria um efeito que obrigaria o Banco Central a substituir as projeções da inflação e dos juros ao longo de 2023.”

Apesar da desoneração para o ano que vem estar inclusa na Proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA), o texto ainda precisa passar na mão dos senadores e dos deputados. “Não temos certeza de como será a eleição”, diz, ao indicar que o cenário vai depender de como o próximo governo conduzirá as relações com o Congresso e os Estados.

 

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“Mas é fato que a medida [de redução dos impostos sobre os combustíveis], por ter grande apelo popular, tem boas chances de passar”, declara Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos.

Para ele, a questão fica de lado por mais que haja incerteza com as eleições. Pacheco diz que os maiores riscos parecem ser mais externos do que internos, como a persistência da inflação e uma recessão nos Estados Unidos, a guerra na Ucrânia e a crise econômica na Europa. “Por isso, por mais que o viés local seja mais positivo que lá fora, ainda ficaremos dependentes de como irá evoluir a economia global nos próximos meses”, diz.

A redução do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) para o limite de 18% sobre os combustíveis virou lei, portanto, não deverá ocorrer um aumento nos próximos anos. Antes da sanção da lei, a maior parte dos Estados brasileiros cobravam alíquotas de ICMS nas faturas que variavam entre 25% e 30%.

Impacto na Bolsa

A bolsa brasileira costuma antecipar o movimento dos juros, ou seja, quando o Banco Central começou a demonstrar que poderia interromper as altas, as ações já começaram a ficar mais aquecidas.

O sócio da Monte Bravo Investimentos explica que a Bolsa já sentiu o impacto da alta da inflação e da taxa Selic. “Com o fim do ciclo e principalmente com o mercado começando a precificar os cortes de juros, a Bolsa antecipa a trajetória do mercado”, afirma.

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E os papéis de consumo, construção civil, bancos e os ativos dependentes ao nível de juros começam a se recuperar conforme o cenário de inflação vai ficando mais ancorado, principalmente em 2023 e 2024. A meta de inflação do BC para os próximos dois anos é de 3,25% e 3%, respectivamente.

Para o economista da Guide Investimentos, por o Brasil estar em um momento do ciclo de juros mais avançado que outros países, a Bolsa doméstica se torna mais atrativa.

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