“É difícil ter um panorama de fim de ano porque muita empresa ainda está fechando orçamento. Mas uma mudança tributária pode incentivar antecipações até dezembro”, avalia Marco Saravalle, sócio-fundador e estrategista-chefe da MSX Invest.
Um levantamento exclusivo de Einar Rivero, CEO da Elos Ayta Consultoria, para o E-Investidor, identificou 13 empresas que distribuíram proventos religiosamente em todos os quartos trimestres de 2020 a 2024, sinal de que podem repetir o movimento agora se seguirem essa tendência.
O estudo considerou todos os dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) anunciados e informados à B3 em todos os quartos trimestres desde 2020, ou seja, proventos que já passaram pela data com (direito de recebimento) e data ex, e tiveram o valor descontado do preço das ações.
Mesmo assim, o anúncio não significa que o dinheiro já saiu do caixa da companhia. Em alguns casos, o pagamento ocorre bem depois, até no ano seguinte. Um exemplo, segundo Rivero, é a Petrobras (PETR4), que anunciou dividendos em dezembro no passado, mas só desembolsou os valores em fevereiro e março do ano seguinte.
Foram analisadas ações que integram o Ibovespa, o Índice de Dividendos (IDIV) e o índice Small Cap. Rivero explica ainda que, embora os proventos costumem ser anunciados entre outubro e dezembro, nem sempre pertencem ao exercício corrente de 2025, alguns podem ser referentes a lucros de anos anteriores.
Para o recorte do E-Investidor, foram consideradas apenas as companhias que anunciaram proventos em todos os quartos trimestres entre 2020 e 2024, com mediana de dividend yield acima de 2% nesse período. A lista traz 13 empresas.
Rivero reforça que, com a temporada de balanços do terceiro trimestre de 2025 em andamento, a relação pode mudar de posição e até de nomes. “Petrobras, Itaú e o próprio Banco do Brasil costumam anunciar proventos junto aos seus resultados”, destaca. Veja lista:
O que o estudo revela?
Para o CEO da Elos Ayta, distribuir proventos de forma consistente nos quartos trimestres entre 2020 e 2024 mostra a força de empresas com políticas de remuneração estáveis, mesmo em cenários econômicos desafiadores.
Um dos destaques é a BrasilAgro (AGRO3), com mediana de dividend yield de 8,61% para um quarto trimestre. A companhia atua no desenvolvimento e venda de fazendas e, segundo Rivero, se consolida como uma das mais generosas do período. “A BrasilAgro se beneficia dos ciclos favoráveis de commodities e da valorização de terras agrícolas, o que reforça sua posição entre as líderes em distribuição de lucros.”
Na sequência aparecem Bradespar (BRAP4) e Copel (CPLE6), com medianas de dividend yield de 7,13% e 5,58%, respectivamente. Rivero destaca que a Bradespar segue como uma representação indireta da Vale (VALE3), refletindo os ciclos de valorização e desvalorização do minério de ferro. A mineradora, inclusive, avalia a possibilidade de distribuir dividendos extraordinários ainda neste ano, caso a incerteza sobre a nova tributação seja resolvida.
No caso da Copel, Rivero ressalta que a estabilidade do setor elétrico garante resultados operacionais sólidos, mesmo após a privatização. “Unipar (UNIP6) e Ambev (ABEV3) também figuram entre as mais constantes do quarto trimestre, com medianas de dividend yield acima de 4%, demonstrando resiliência em setores cíclicos e de consumo essencial”, completa.
Entre as surpresas da lista estão companhias mais nichadas, e até fora do radar do grande público, como Ferbasa (FESA4) e Tegma (TGMA3), que mantêm histórico regular de distribuição no período. “É um indicativo de que a cultura de dividendos não está restrita apenas aos grandes bancos e elétricas”, afirma Rivero.
Na avaliação do CEO da Elos Ayta, essa constância reforça a atratividade do Índice de Dividendos (IDIV) como referência para encontrar empresas boas pagadoras e mostra que há oportunidades de retorno previsível muito além do tradicional Ibovespa.
Para os analistas, as favoritas são outras
Apenas uma ação da lista de Rivero figura entre as maiores pagadoras parciais de 2025 até 27 de outubro: a Unipar (UNIP6). Contudo, quando consultados, os analistas têm outras queridinhas como candidatas a liderar os rankings de proventos deste ano.
O E-Investidor ouviu agentes de mercado que apontam 9 ações com potencial para liderar em dividendos neste ano e com espaço para bons pagamentos em 2026.
Um dos grandes destaques é a BB Seguridade (BBSE3), a ação mais citada entre os analistas. A maioria tem recomendação de compra, com projeção de dividend yield entre 9,5% e 12,50% para os próximos 12 meses. O preço-teto indicado para compra vai de R$ 34 a R$ 38,30, faixa considerada segura para garantir boa remuneração e não pagar caro.
Para Sergio Biz, analista e sócio do GuiaInvest, a BB Seguridade oferece um dos melhores dividend yields da Bolsa de forma sustentável. A companhia costuma pagar proventos em agosto e fevereiro. A próxima distribuição, referente a 2025, deve ocorrer em fevereiro de 2026. “Existe expectativa de desaceleração dos resultados no segundo semestre de 2025, mas sem impacto relevante na remuneração dos acionistas”, diz.
Ele lembra que a queda da taxa Selic pode reduzir o resultado financeiro, mas esse componente representa apenas 20% do total. “À medida que a Selic cair, o resultado operacional deve evoluir, embora leve alguns trimestres.” Aparentemente o preço atual da ação já embute essa redução dos dividendos.
O CFO da BB Seguridade, Rafael Sperendio, afirmou recentemente à coluna Dividendo à Vista que 2025 será um ano de distribuições robustas, podendo até superar o payout (parcela do lucro destinada a proventos) tradicional de 90%. Em 2026, o volume total de dividendos pode diminuir temporariamente, mesmo com o payout mantido. Declaração que foi reforçada nos resultados do terceiro trimestre, quando CFO, manifestou que a seguradora terá dificuldades para elevar o lucro em 2026.
Biz calcula que, com ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) acima de 80% e payout de 85% a 90%, a companhia pode pagar entre R$ 3,20 e R$ 3,50 por ação em 2026, mesmo diante da desaceleração dos dividendos.
Milton Rabelo, analista da VG Research, também recomenda BBSE3. Ele lembra que a crise no agronegócio impactou o Banco do Brasil, controlador da seguradora, o que pressionou as ações, apesar da resiliência dos resultados. “Mesmo com deterioração operacional em curso, os resultados financeiros compensam quase plenamente essa queda. A companhia mantém alto payout, o que sustenta o dividend yield elevado”, avalia Rabelo.
Na visão do analista da VG, a BB Seguridade continuará entre as melhores pagadoras da Bolsa nos próximos meses. “A compressão dos múltiplos foi exagerada e oferece boa margem de segurança para investir. Se voltarem à média de múltiplos, há espaço para valorização da ação”, afirma. Rabelo estima que o preço-justo de BBSE3 seria R$ 45,10 e recomenda compra até R$ 38,30, com potencial de garantir alta de 15%. O dividend yield projetado pelo analista é de 12,5% para os próximos 12 meses.
A BB Seguridade não deve anunciar novas distribuições em novembro e dezembro, salvo ocorram extraordinárias, o que ainda não foi sinalizado pela companhia. A próxima está prevista para fevereiro de 2026, com base nos resultados de 2025.
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