Piada da Dogecoin ficou séria depois da última febre de criptomoedas

Este é quase o valor do token digital em dólares, depois de dar mais um salto nas negociações na última semana. Inútil ou não, a moeda foi tomada pela criptomania que vem dominando os mercados inundados pela generosidade dos bancos centrais.

É o mais recente marco num ano de excessos especulativos para um mercado que Nouriel Roubini já descreveu como “a mãe de todas as bolhas”. Se, no passado, trilhões de dólares em estímulos de governos e bancos centrais talvez tenham empurrado os mais intrépidos para uma corrida do ouro em ações arriscadas, um dilúvio de dinheiro desta vez está inundando o nascente mercado de criptografia.

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Poucos ilustram isso melhor do que a Dogecoin, um chamado memecoin que virou o destino de uma horda de day traders instigados pelo burburinho da internet e por um frenesi de compra autopropulsora. Um potencial gatilho para a última etapa: Elon Musk, cofundador da Tesla e entusiasta das criptomoedas, vai aparecer no ‘Saturday Night Live’ deste fim de semana, gerando especulações de que ele pode voltar a falar sobre a Dogecoin no programa de comédia.

“Quando você pensa em todo o espírito do que é essa revolução cripto, vê que tem alguma coisa muito pura ali na Dogecoin”, disse Mike Novogratz, fundador da Galaxy Digital Holdings, na CNBC. “Minha preocupação é: quando a febre começa, não tem mais nenhum desenvolvedor, nenhuma instituição. Mas está na boca do povo agora e pode ficar perigoso”.

A valorização da noite para o dia levou a Dogecoin a subir 118% em uma semana e seu valor para US$ 87 bilhões nas negociações de quarta-feira (5), de acordo com dados da CoinMarketCap.com, eclipsando o maior fundo de ouro negociado em bolsa e até mesmo ações como Fedex Corp. e Snap Inc. Um ano atrás, o ativo valia apenas US$ 315 milhões.

Os números ficam ainda mais notáveis quando se nota que outros queridinhos do varejo, desde as opções de ações de alta até o fundo de tecnologia de Cathie Wood, viram a atividade cair em relação às altas no início deste ano.

Agora a criptomania pode até prejudicar o ouro, de acordo com alguns analistas. O metal precioso sofreu quedas nos últimos meses, mesmo com um dilúvio de estímulos monetários que elevou o valor do mercado mundial de criptomoedas a um recorde de US$ 2 trilhões.

“Em certa medida, é simplesmente uma coisa real”, disse Sam Bankman-Fried, CEO da FTX crypto exchange em Hong Kong. “Se a Dogecoin fosse meio boba e sem valor, não deveria valer US$ 90 bilhões. E o ouro, o Bitcoin, o euro? Nossa imaginação coletiva deu valor a essas moedas e agora simplesmente achamos que elas têm valor”.

Sobre o Dogecoin

A Dogecoin, criada em 2013 como uma brincadeira inspirada na raça de cães Shiba Inu, talvez se torne tão aceita pelo público que pode evoluir para uma opção de pagamento nos varejistas, disse Bankman-Fried. Na Blockfolio, uma empresa de propriedade da FTX que ajuda os usuários a gerenciar seus portfólios de criptomoedas, os volumes de negócios estão aumentando a cada ganho da moeda, sinal de que ela se tornou essencial para todo o ecossistema.

A compra de Dogecoin ficou tão febril na terça-feira que o aplicativo de negociação da Robinhood travou por um breve momento. Outras das chamadas altcoins também subiram, com o Dash saltando 11% num período de 24 horas durante a manhã de Nova York na quarta-feira e o Ethereum Classic aumentando 25%.

Embora seja difícil atribuir razões claras para a ascensão da cripto, alguns fatores impulsionaram os ganhos. Em 20 de abril, um dia normalmente associado à maconha, alguns usuários se valeram da #DogeDay para elevar o preço da criptomoeda. Várias celebridades – de Musk ao dono bilionário do Dallas Mavericks, Mark Cuban – também aderiram ao movimento. A plataforma de troca de criptomoedas Gemini, dos gêmeos Winklevoss, anunciou na terça-feira que em breve disponibilizará a negociação da moeda.

“Com a reabertura da economia, muitos desses movimentos relacionados à covid em vários ativos passarão por alguma volatilidade”, disse Tony Bedikian, chefe de mercados globais do Citizens Bank. “Mas acho que eles vão se tornar uma parte permanente dos mercados de moedas, já que os bancos centrais continuam imprimindo dinheiro em níveis astronômicos”.

Yakob Peterseil, Vildana Hajric, Claire Ballentine e Anchalee Worrachate da Bloomberg contribuíram para esta reportagem.

(Tradução de Renato Prelorentzou)

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