O dólar conseguiu romper a barreira dos R$ 5 nesta quarta-feira (27) e fechar o dia no maior nível desde junho, cotado agora a R$ 5,05.
A moeda norte-americana ganhou fôlego após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sinalizar que a taxa de juros deve continuar elevada nos próximos meses para conter a inflação no país. Com a preocupação no radar do mercado, cria-se uma pressão que reflete na cotação do câmbio.
“O Fed sinaliza que a economia do país pode estar entrando em um novo ciclo, com uma taxa de juros neutra mais alta, o que significa que haverá um aperto monetário por um período mais prolongado do que o inicialmente esperado. Isso está atraindo investidores para títulos de renda fixa nos Estados Unidos”, diz Diego Costa, head de câmbio para Norte e Nordeste da B&T Câmbio. O movimento já refletiu no rendimento das Treasuries de 10 anos, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, considerados um dos mais seguros do mundo, que subiu para 4,56% nesta quarta, o maior nível desde 2007.
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A alta global do dólar hoje se destaca especialmente em relação às moedas de países emergentes, com investidores evitando exposição devido à incerteza gerada pelos indicadores que serão divulgados até sexta-feira (29). Trata-se do Relatório Trimestral de Inflação e do Índice de Preço ao Produtor (IPP), que serão divulgados dia 28, e da Taxa de Desemprego no Brasil, a ser divulgada dia 29.
“A agenda econômica estará repleta de indicadores importantes, especialmente relacionados à inflação, tanto no Brasil quanto no exterior. Esses indicadores podem confirmar as preocupações do mercado ou esfriar as expectativas no câmbio”, afirma Costa.
As bolsas globais ensaiaram uma recuperação hoje, em resposta às indicações do governo chinês de um maior apoio à sua economia e o acordo no Senado dos EUA para evitar os riscos de uma paralisação econômica. “Esta é uma preocupação que foi enfatizada pela agência de classificação de risco Moody’s ontem, incluindo um alerta sobre o possível impacto na classificação de crédito do país”, diz.
Na segunda (25), a Moody’s afirmou que uma paralisação do governo federal dos Estados Unidos resultaria em fraqueza no crédito do país, já que “demonstraria os constrangimentos significativos que a intensificação da polarização política impõe à elaboração de políticas orçamentárias numa altura de declínio da força do orçamento”.
Investimentos em dólar
O ciclo de queda dos juros no Brasil também interfere nos investimentos em dólar. A tendência para os próximos meses é que a moeda norte-americana continue se valorizando frente ao real, na contramão do cenário que predominou durante o primeiro semestre, quando o dólar chegou a bater R$ 4,77 em junho.
Depois do recente corte da Selic, agora em 12,75% ao ano, os investidores devem estar atentos às movimentações na taxa básica de juros, que pode cair para 11,75% ao ano até o fim de 2023, segundo projeções do Banco Central. Nessa toada, os juros mais baixos tornar as alocações em dólar mais atraentes.
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De acordo com Felipe Garran, professor na FIA Business School, são dois fatores que melhor direcionam o retorno financeiro dos investimentos em dólar: valorização dos ativos e da própria moeda. Para ele, a melhor estratégia para surfar na onda de alta da moeda americana é fazer aplicações em investimentos sem hedge cambial, isto é, sem proteção contra as variações de câmbio. “Daqui para frente esse tipo de investimento será muito bom, principalmente se o mercado acionário americano seguir com uma boa performance”, diz.
Além disso, Garran indica aplicações em BDRs, que são recibos que equivalem às ações americanas. Quando o papel americano sobe, o BDR também se valoriza. “Se o investidor não for aquele perfil de fazer cálculos e ficar acompanhando o mercado a todo momento, é uma boa ideia ter pelo menos 10 BDRs diferentes na carteira”, ressalta.
Uma outra opção viável para os investimentos em dólar é a aplicação nos Treasuries (títulos públicos), visto que o governo dos Estados Unidos têm aumentado os leilões do Tesouro americano para conter a inflação. “Colocando mais desses títulos no mercado, a tendência é que a remuneração fique maior”, diz Garran.
/COLABOROU JENNI NEVES