Dólar fecha julho com alta mensal de 3,07%; o que esperar da moeda em agosto?
Alta mensal da moeda, maior do ano, foi influenciada por juros nos EUA, incertezas no Brasil e tarifas anunciadas por Washington contra produtos brasileiros
Entenda se vale a pena "correr" para comprar dólar com possibilidade de aumento do IOF. Foto: Adobe Stock
O dólarconseguiu se valorizar frente ao real em julho deste ano, encerrando o mês com alta acumulada de 3,07 %, o maior desempenho mensal deste ano. A moeda norte-americana oscilou entre a mínima de R$ 5,40, registrada no início do mês, e a máxima de R$ 5,60, alcançada no fechamento desta quinta-feira (31). No ano, porém, a moeda norte-americana acumula queda de 9,36%.
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No mercado internacional, o índice do dólar (DXY, que mede o desempenho da moeda dos Estados Unidos frente a uma cesta de moedas fortes) subiu 2,7 % em julho. Foi o primeiro avanço mensal deste ano, beneficiado por uma leitura mais cautelosa do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) quanto ao início do ciclo de cortes na taxa básica de juros. A perspectiva de juros elevados por mais tempo tornou os ativos norte-americanos mais atraentes, o que reforçou a valorização do dólar e pressionou outras moedas, como o real.
No plano doméstico, incertezas ligadas à condução da política fiscal e à relação entre o governo federal e o Congresso Nacional contribuíram para um ambiente de maior instabilidade. Notícias sobre interferências do Supremo Tribunal Federal (STF) em pautas econômicas e os ruídos políticos aumentaram o desconforto de investidores estrangeiros. Ainda assim, houve momentos de alívio com entradas pontuais de dólares via exportações, especialmente do setor agrícola, que limitaram movimentos mais bruscos da moeda.
A preocupação com o comércio exterior também voltou ao radar após os EUA anunciarem a aplicação de tarifas de 50 % sobre produtos brasileiros. Com a confirmação do decreto pelo governo norte-americano na última quarta-feira (30), o dólar encerrou o dia em alta de 0,38 %, cotado a R$ 5,59. Durante o pregão, chegou a R$ 5,62, mas reduziu o ritmo de alta após a divulgação de uma lista com cerca de 700 exceções, que inclui itens dos setores de combustíveis, aviação, veículos e produtos agrícolas.
O dólar pode romper R$ 5,60 caso haja escalada nas tensões comerciais, diz Ourominas
A medida entra em vigor em 6 de agosto e foi justificada pela Casa Branca como resposta a ações do STF, citando diretamente o ministro Alexandre de Moraes. “Caso essas tensões avancem ou se ampliem para outros setores, o real pode continuar pressionado”, diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.
A influência dos juros na moeda
No mesmo dia do tarifaço, a moeda americana também foi influenciada pelas decisões de política monetária. O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) manteve os juros entre 4,25 % e 4,50 % ao ano, assim como o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileiro, que também decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano.
O efeito da política monetária dos Estados Unidos sobre o câmbio brasileiro, por sinal, tem sido moderado, em parte devido ao aumento do diferencial de juros entre os dois países, segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad. Com a Selic em patamar elevado, ele explica que o o custo de manter posições compradas em dólar subiu, reduzindo o apetite por esse tipo de operação no mercado local.
Ao mesmo tempo, diz ele, o patamar mais alto de juros no país tem atraído investidores estrangeiros interessados em estratégias de carry trade, que buscam lucrar com o rendimento superior oferecido por moedas de países com taxas mais elevadas. “Esse diferencial elevado reduz o interesse de posições locais compradas em dólares devido ao custo de carrego e, ao mesmo tempo, estimula fluxos externos atraídos por operações de carry trade. Portanto, a divergência dos ciclos monetários tem dado sustentação ao real até o momento”, explica Shahini.
O que esperar do dólar em agosto
Agosto deve ser marcado por um clima de cautela nos mercados, diante de riscos que continuam no exterior e incertezas fiscais no Brasil, avaliam os especialistas. No país, as atenções estão voltadas para as negociações sobre o orçamento deste ano, a evolução da dívida pública e os sinais emitidos pelo Banco Central sobre a direção da política monetária.
No âmbito internacional, investidores acompanham indicadores-chave de inflação e emprego nos Estados Unidos, as decisões do Federal Reserve (Fed) e os desdobramentos das disputas comerciais entre os EUA e seus parceiros. Além disso, a tensão geopolítica global segue como um fator de preocupação para o mercado.
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“O dólar pode romper R$ 5,60 caso haja escalada nas tensões comerciais ou revisão negativa do risco fiscal doméstico. Por outro lado, pode recuar abaixo de R$ 5,30 se houver melhora no cenário fiscal brasileiro, avanço nas expectativas de corte de juros nos EUA e retomada do apetite ao risco global”, projeta Gusmão
Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, recomenda atenção às notícias e uma avaliação criteriosa dos fatos, sobretudo em relação a governos que não tornam claras suas políticas econômicas. “Tivemos algumas declarações de Fernando Haddad [ministro da Economia] e da ministra Simone Tebet, do Planejamento, onde mencionam um pacote de medidas para subsidiar empresários caso não haja sucesso nas negociações. Isso afetaria ainda mais o teto de gastos, visto que a arrecadação versus gastos já estaria acima do orçamento”, contabiliza.
Para investidores, a recomendação dela é buscar conhecimento, diversificar a carteira e escolher parceiros confiáveis para evitar riscos desnecessários envolvendo a moeda norte-americana.