O dólar hoje terminou o pregão em sua décima queda seguida, finalizando janeiro com perdas de 5,56% em relação ao real, cotado a R$ 5,8366. Foi a maior queda mensal da moeda americana desde junho de 2023 (quando recuou 5,59%). A moeda americana passou por um mês de correção, depois de acumular alta acima de 27% contra a divisa brasileira em 2024, quando chegou a atingir o maior valor nominal de sua história, a R$ 6,2707.
A reviravolta que atingiu o mercado de câmbio teve componentes internos e externos. Por aqui, a agenda mais tranquila, em meio ao recesso parlamentar, contribuiu para melhorar o humor do mercado. Já nos Estados Unidos, o entendimento de que Donald Trump iniciou seu mandato com um tom mais brando do que o esperado na parte econômica favoreceu o desempenho positivo do real.
Agora a dúvida que fica é a seguinte: esse movimento deve continuar em fevereiro? Para agentes do mercado, a resposta depende de eventuais mudanças no cenário fiscal brasileiro.
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“O real pode voltar a sofrer. Não significa que o ano de 2025 já está ganho. Pelo contrário, tem desafios a serem enfrentados, especialmente se o governo não apresentar medidas adicionais de contenção de crescimento dos gastos públicos. A gente viu um movimento importante de valorização do real, mas não dá para comemorar um dólar a R$ 5,80″, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Vale lembrar que a questão fiscal teve grande impacto no processo de alta que fez a moeda americana superar os R$ 6 ao final de 2024. Na época, o mercado considerou o pacote de corte de gastos do governo incerto e insuficiente. A proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil mensais, apresentada junto às medidas, também não agradou e lançou dúvidas sobre o real comprometimento da equipe econômica com as contas públicas.
Para Matheus Massote, sócio da One Investimentos, qualquer nova decepção com a política fiscal pode impulsionar uma outra onda de valorização do dólar. “Como a escalada de alta em dezembro se deu, principalmente, por conta da delicadeza da situação fiscal, é sempre importante lembrar que, qualquer engasgo novamente nesse assunto, que sequer está resolvido, tem potencial pra depreciar o real mais uma vez”, diz.
Com um cenário de incertezas para fevereiro, Massote reforça que a decisão de investir diretamente em dólar deve se basear muito mais na estratégia de diversificação do portfólio do que no preço atual do câmbio. “Dada a volatilidade, tentar acertar um ou outro movimento da moeda pode ser ruim para a tomada de decisão do investidor. Claro que há aqui uma janela de oportunidade frente ao preço passado, mas não há nada que garanta que o dólar vai tomar o rumo de alta novamente, assim como não há garantia de mais queda”, explica.
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Na hora de comprar a moeda, o especialista destaca a importância de realizar remessas de forma periódica ou conforme a disponibilidade de liquidez do investidor. Ao fazer esses investimentos em intervalos regulares, independentemente das oscilações do mercado, é possível reduzir o impacto das variações cambiais.
O que pode mexer com o câmbio em fevereiro?
Em fevereiro, certos indicadores podem movimentar a moeda americana. Um deles, na visão de Elson Gusmão, diretor de operações da Ourominas, é o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. “Ele pode influenciar as expectativas sobre os próximos movimentos do Federal Reserve (Fed). Se a inflação continuar desacelerando, isso pode reforçar a tendência de queda do dólar globalmente“, indica.
Indicadores de atividade econômica, como o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da China e dos Estados Unidos, também podem afetar o apetite por risco nos mercados emergentes e, consequentemente, impactar o câmbio.
Segundo Gusmão, vale ficar de olho no desempenho de commodities como o petróleo e o minério de ferro, importantes para a balança comercial brasileira. Outro fator fundamental é o cenário fiscal doméstico. “Qualquer sinal de deterioração nas contas públicas ou aumento de incertezas políticas pode pressionar o real“, reforça.
Para Massote, da One Investimentos, as decisões econômicas do governo Trump também devem continuar mexendo com o dólar. “A política de tarifas certamente influencia os preços por aqui, visto que essa retaliação pode impactar nossas exportações para os EUA ou levar outros países a redirecionarem temporariamente seus fluxos comerciais para o Brasil.”
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