Investimentos

Fundo da Captalys tem cota mensal negativa pela 1ª vez; entenda

O resultado deriva da reprecificação no mercado secundário dos ativos com taxas pré-fixadas

Fundo da Captalys tem cota mensal negativa pela 1ª vez; entenda
Margot Greenman, CEO e cofundadora da Captalys. (Foto: Leonardo Rodrigues/Divulgação)
  • O primeiro mês com cota negativa desde a criação em 2011 aconteceu com a marcação a mercado dos ativos concentrada em setembro
  • A presidente da Captalys conta que o retorno está negativo entre 3% e 4% no acumulado do mês
  • Alguns cotistas que vão receber os resgates estão sofrendo ajuste da rentabilidade nas cotas

O retorno negativo no maior fundo de crédito privado da gestora Captalys em setembro gerou insatisfação de cotistas e rumores no mercado. O primeiro mês com cota negativa desde a criação em 2011 aconteceu com a marcação a mercado dos ativos concentrada no mês passado, segundo a presidente executiva da gestora, Margot Greenman.

Em entrevista ao Broadcast, ela afirmou que não houve um volume de perdas irreversível que justifique a cota negativa, algo que aconteceu com a reprecificação no mercado secundário dos ativos que remuneram com taxas pré-fixadas.

“As pessoas [os investidores] estão insatisfeitas. E claro que não estamos satisfeitos com isso. Mas é resultado da taxa de juros maior, que impacta de forma direta e indireta os ativos, e também da liquidez reduzida”, diz Greenman.

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A presidente da Captalys conta que o retorno está negativo entre 3% e 4% no acumulado do mês até hoje (22/09). Esse resultado afeta diretamente o valor que será embolsado pelos cotistas que pediram para sacar em março e que irão receber seus recursos no dia 30 de setembro. Segundo Greenman, eles respondem por, aproximadamente, R$ 190 milhões. O fundo tem patrimônio líquido de R$ 1,6 bilhão.

Liquidez

Por ser um fundo que compra apenas ativos ilíquidos, o regulamento possui várias travas para proteger o passivo (os investidores) e mantê-lo adequado aos prazos do ativo (os títulos de crédito privado e as cotas de fundos). Uma dessas travas é que o cotista pode pedir resgate em apenas quatro datas do ano – a próxima é 30 de setembro – e que o prazo de resgate para saques maiores de 1% do fundo é de 180 dias. Por isso, quem pediu o resgate em 30 de março vai receber no próximo dia 30. Neste fundo, só podem colocar dinheiro investidores profissionais.

“Alguns cotistas que vão receber os resgates estão sofrendo ajuste da rentabilidade nas cotas”, diz Greenman. Numa conta rápida, a presidente da Captalys afirma que esses cotistas que fizeram o pedido de resgate em 30 de março para receber em 30 de setembro, visto que o prazo de resgate é de 180 dias, receberão um rendimento de 1,5%.

Ela pontua que, mesmo com a variação negativa da cota em setembro, a rentabilidade para quem fez o pedido de resgate em março ainda é positivo. O porcentual é bem inferior ao retorno médio histórico do fundo, que oscilou entre CDI +3% a CDI +7% desde o início do fundo, segundo Greenman. No site da gestora, o objetivo do fundo é entregar CDI +6%.

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“As pessoas estão insatisfeitas. Mas esperamos voltar ao patamar histórico de rentabilidade”, diz Greenman, acrescentando que toda marcação a menor dos ativos foi feita em setembro. A executiva reforça que a gestora atua de acordo com todas as normas e regulamento e “cumprindo com o dever fiduciário”.

A marcação a mercado da carteira que provocou a variação negativa nas cotas em setembro trouxe resultado negativo porque concentrou, de certa forma, a reprecificação dos ativos da carteira que sofreram, direta e indiretamente, com a alta da Selic.

Greenman explica que, costumeiramente, é feita a revisão dos preços dos ativos que compõem a carteira – todos ilíquidos – em setembro porque é o mês que antecipa a auditoria periódica, sempre feita em outubro. “Fazemos a marcação a mercado sempre antes da auditoria. O que nem sempre acontece é uma alta vertiginosa em 12 meses da taxa básica de juros“, afirmou Greenman. “Com o aumento da Selic de 2% para 13,75%, houve uma reprecificação de ativos ilíquidos no mercado secundário muito grande.

Saques

Um receio de fontes do mercado é que os rumores que circularam no mercado sobre as perdas do fundo provocassem novas saídas. A próxima data para pedido de resgate é, inclusive, na semana que vem, em 30 de setembro. Sobre essa possibilidade, Greenman diz que não há como prever, porque a solicitação é possível somente nesse dia e o investidor não tem vantagem em pedir antes. “Nossa maior preocupação é que todo cotista seja tratado de forma igual. Mas o mercado não é muito cooperativo. Mas desenhamos o fundo para ser correto e justo com todos. Não tem como arbitrar nosso fundo”, diz.

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Além das datas para pedido de resgate e do longo prazo de pagamento, o fundo estabeleceu gatings. Como esclarece todo informe mensal, o ‘gating’ é uma limitação do quanto pode ser sacado do fundo em cada janela de resgate. “Na eventualidade de os pedidos de resgate representarem valor igual ou superior a 20% do PL do Fundo, haverá rateio proporcional do valor a ser pago entre os cotistas. O valor excedente será automaticamente processado na janela seguinte de solicitações.”

“Tive investidores que prometeram bilhões se não colocássemos o ‘gating’. Mas não abrimos mão porque entendemos que ninguém deve levar vantagem em relação aos outros por sair antes. Esse mecanismo é pouco usual no mercado brasileiro, que não é, digamos, muito cooperativo”, disse Greenman.

IPO cancelado

Com a piora das condições de mercado, a Captalys suspendeu a oferta primária de ações (IPO) que planejava fazer. A empresa foi uma das companhias que decidiram frear o plano de abrir capital na Bolsa neste ano. Com a confiança do mercado em baixa e a alta dos juros, que incentiva a migração para a renda fixa, muitos projetos de estreia na Bolsa foram adiados.

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