- O fundo Verde, da gestora que tem como sócio o veterano gestor Luis Stuhlberger, considera ter sido vítima de uma fraude ao investir em debêntures da Americanas
- "Fomos vítimas de uma fraude. Há quanto tempo que esta fraude existe, quem foram os principais responsáveis e beneficiários, é assunto que será amplamente discutido e explorado no Judiciário", afirma a gestora
O fundo Verde, da gestora que tem como sócio o veterano gestor Luis Stuhlberger, considera ter sido vítima de uma fraude ao investir em debêntures da Americanas. Em carta de gestão referente ao mês de janeiro, o fundo afirma que exercerá seu dever fiduciário perante a empresa para preservar os interesses dos cotistas, e que é “inacreditável” que a gestão da companhia só tenha sido trocada mais de 20 dias após o mercado ser informado sobre o rombo contábil.
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“Fomos vítimas de uma fraude. Há quanto tempo que esta fraude existe, quem foram os principais responsáveis e beneficiários, é assunto que será amplamente discutido e explorado no Judiciário”, afirma o texto. “A Verde, em conjunto com outros debenturistas, vai exercer seu dever fiduciário de preservar o melhor interesse dos cotistas.”
Como mostrou o Broadcast em 13 de janeiro, o Verde estava exposto a títulos de dívida da varejista através de um fundo veículo, o que diluía sua exposição total. Ainda assim, a queda do valor de face dos papéis gerou prejuízos. “Ao fim do mês, a posição do fundo estava marcada em torno de 13% do valor de
face e trouxe uma perda de aproximadamente -14bps na cota”, diz o Verde.
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Na sexta-feira passada, a Americanas informou que afastaria seus principais diretores para preservar a operação das investigações sobre o rombo. “Beira o inacreditável que somente 23 dias após o fato relevante, que alguém da companhia, seja na área financeira, seja na alta gestão, tenha sido afastado”,
comenta o fundo sobre este ponto. “Temos a maior fraude da histórica corporativa do Brasil, um buraco de mais de vinte bilhões de reais, e a gestão financeira da companhia (com exceção da recém empossada CFO) continuou sendo feita pelas mesmas pessoas durante todo o período seguinte”, prossegue o Verde.
A carta informa ainda que a recuperação judicial da Americanas será um processo “longo e ruidoso”, em que apenas os advogados envolvidos ganharão dinheiro. O fundo afirma que quanto mais rápido for o processo, mais chances de recuperação a empresa terá.
O Verde tece ainda críticas a Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, o trio de acionistas de referência que até 2021 controlava a Americanas. “Os três controladores (sic) da companhia, diante da escolha entre aportes para reparar um pedaço substancial da fraude, ou preservar sua reputação/legado, tem ficado silentes, mas claramente escolheram a opção financeira.”
Como tem mostrado o Broadcast, os três ofereceram aos bancos a possibilidade de aportar cerca de R$ 6 bilhões em dinheiro novo na Americanas, com os bancos aportando mais R$ 6 bilhões ao converter parte das dívidas que a companhia possui. Essa possibilidade foi rechaçada pelas instituições e as conversas travaram. Atualmente, a Americanas negocia um empréstimo-ponte em que o trio entraria com ao menos R$ 1 bilhão, como antecipou a reportagem.
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Os três bilionários estão no Brasil e teriam convidado bancos a negociar, mas há ceticismo entre as instituições sobre potenciais progressos.
Segundo o Verde, o aporte nos papéis da Americanas começou em 2020, durante a pandemia da covid-19, em uma emissão de debêntures com rentabilidade de CDI +3% ao ano. Esses papéis foram vendidos no mercado secundário por uma taxa de CDI +1,5% ao ano. Outros investimentos foram feitos posteriormente.
O terceiro aporte foi nos títulos que geraram o prejuízo com a recuperação judicial da empresa. Na emissão, a Americanas ofereceu CDI + 2,75% a um prazo de 11 anos, condições que o Verde viu como atrativas. “Como em todo investimento de crédito do fundo, analisamos o balanço da companhia (que
mostrava um endividamento líquido de menos de três vezes o Ebitda), o histórico da companhia, seus acionistas controladores, time de gestão e as perspectivas do negócio”, relata a carta.
De acordo com o texto, a alocação, feita em junho de 2022, respondia por cerca de 0,15 ponto porcentual do capital do fundo, que tem cerca de 10% de exposição a crédito.
O investimento
Segundo o Verde, o aporte nos papéis da Americanas começou em 2020, durante a pandemia da covid-19, em uma emissão de debêntures com rentabilidade de CDI +3% ao ano. Esses papéis foram vendidos no mercado secundário por uma taxa de CDI +1,5% ao ano. Outros investimentos foram feitos posteriormente.
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O terceiro aporte foi nos títulos que geraram o prejuízo com a recuperação judicial da empresa. Na emissão, a Americanas ofereceu CDI + 2,75% a um prazo de 11 anos, condições que o Verde viu como atrativas. “Como em todo investimento de crédito do fundo, analisamos o balanço da companhia (que mostrava um endividamento líquido de menos de três vezes o Ebitda), o histórico da companhia, seus acionistas controladores, time de gestão e as perspectivas do negócio”, relata a carta.
De acordo com o texto, a alocação, feita em junho de 2022, respondia por cerca de 0,15 ponto porcentual do capital do fundo, que tem cerca de 10% de exposição a crédito.
Lula
Sobre o cenário macroeconômico, os gestores da Verde argumentam que o clima no mercado externo melhorou, com a reabertura da China e a maior resistência das economias europeias e dos Estados Unidos, que agora dão mostras de perda de fôlego da inflação. O Brasil poderia se beneficiar desse cenário, mas “o novo governo não perde uma oportunidade de perder oportunidade”, comenta a carta da Verde, citando as críticas de Lula à meta de inflação e à independência do Banco Central, o que afeta a curva de juros e ações na B3.