É o que conta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. “Nós temos notado dois movimentos. Não só quem já tem uma conta no exterior querendo mandar mais dinheiro, como também o pessoal perguntando sobre como fazer a abertura pela primeira vez”, diz. Na casa, esse fluxo foi mais forte principalmente nas duas primeiras semanas após o segundo turno.
O mesmo movimento também foi visto na Avenue. “Em uma janela de 30 dias, voltamos a bater recorde de captação. Tem muito investidor que estava esperando o resultado das eleições para mandar dinheiro para os Estados Unidos”, afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da corretora.
Nesta entrevista, o chefe da área de investimentos do C6 Bank, Igor Rongel, relata que também notou um aumento do interesse dos clientes do banco digital por ativos internacionais.
O motivo principal que geralmente leva investidores a buscarem mercados internacionais é a diversificação, que permite não só acesso a uma variação maior de produtos de investimento, mas ajuda a proteger os portfólios das movimentações no mercado doméstico. E é esse último fator que tem feito muita gente pensar em tirar parte da carteira do País.
“A eleição foi o empurrão para o pessoal querer lastrear uma parte do patrimônio em dólar e se proteger dessa incerteza sobre os gastos públicos, tributação e taxações; todas essas inseguranças que acabam fazendo as pessoas mandarem o dinheiro para fora”, explica Castro Alves.
Na direção contrária, os gringos estão voltando à B3. Veja nesta reportagem.
Mas é preciso cuidado – e principalmente conhecimento – antes de fazer esse movimento. Para Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos, muitos dos investidores podem estar agindo na “irracionalidade”, o que abre espaço para decisões menos acertadas. “A grande maioria dos que chegam aqui não sabem nada sobre os riscos de mandar o dinheiro para fora. Não entendem como funciona o câmbio, as aplicações no exterior”, pontua.
Em um momento em que a Selic está a 13,75% ao ano e a cotação do dólar está elevada, o custo de oportunidade fica duas vezes maior. Por isso, a importância de deixar de lado a “emoção” e entender bem no que está investindo e como está montando essa posição, explica Costa.
“A pessoa pode acabar dolarizando um dinheiro caro e comprando um produto que vai cair lá fora; um cenário horroroso. Ter uma parte do patrimônio no exterior é super importante, a questão é começar devagarzinho, aprenda como funciona a tributação, os títulos”, diz o sócio da Fatorial.
Por onde começar
A parcela internacionalizada do portfólio deve ser uma posição estrutural, independentemente do cenário político e econômico do País, dizem os especialistas. Isso pode proteger o investidor daqueles riscos ligados à economia doméstica, além de oferecerem certa proteção por estarem atrelados a uma moeda forte.
Para quem quiser começar a enviar dinheiro ao exterior, seja incentivado por razões políticas ou outras estratégias, duas coisas precisam ficar no radar: a cotação do dólar e o momento do mercado nos EUA.
A moeda americana encerrou esta terça-feira (29) cotada a R$ 5,28, um patamar relativamente mais baixo se comparado aos R$ 5,48 visto há cerca de duas semanas. A oscilação é um exemplo de como a volatilidade vinda da política tem pressionado o câmbio, tornando difícil dizer o momento ideal para montar posições dolarizadas. Por isso, uma boa opção pode ser fazer aportes graduais, destaca Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
“Temos um monte de incerteza e o câmbio tanto pode ir para R$ 5 quanto para R$ 5,50, a depender de qual será a postura do próximo governo”, diz. O economista explica que, dada a dificuldade de prever a trajetória da moeda no curto prazo, baixas como a desta terça-feira podem abrir uma oportunidade. “De repente, pode fazer sentido usar esses picos para mandar aos poucos o dinheiro para lá e ir fazendo a carteira”, pontua.
Quanto ao cenário nos EUA, também é preciso ficar atento para não sair do “risco Brasil” e acabar caindo desavisado no meio de um mercado tomado pela aversão ao risco. Em 2022, as bolsas americanas estão bastante penalizadas pelo início do aperto monetário. Desde março, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) já fez seis ajustes consecutivos na taxa de juros americana para conter a maior inflação em mais de 40 anos no país.
Mas, se por um lado a renda variável sofreu, por outro, a renda fixa ganhou destaque – e é aí que estão as oportunidades do momento para os investidores brasileiros que quiserem investir por lá, na visão de William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
O especialista explica que os ativos que mais tem sugerido para o atual momento são os bonds, os títulos de renda fixa no exterior emitidos por empresas ou um país. Não só porque o brasileiro já possui a cultura de investimentos desse tipo, mas porque há uma boa janela de oportunidade no mercado.
“A alta de juros precificada pelo mercado fez com que o preço de diversos bonds sofressem uma queda significativa via marcação a mercado, que não víamos há muito tempo. As ações também caíram, mas já vimos quedas até piores”, afirma. Com a queda dos preços, o investidor pode lucrar de duas formas: com os yields entre 5% a 8% em dólar e eventualmente com a valorização do título via marcação a mercado, no médio prazo quando o Fed iniciar o movimento de corte nos juros, destaca Alves.