A holding está com a dívida sob controle e planeja reduzi-la ainda mais em 2025. Com os juros elevados (14,75% ao ano), vê poucas oportunidades de investimento no curto prazo. Além disso, mantém a prática de repassar 100% dos dividendos recebidos do Itaú aos seus acionistas. E com a expectativa de um anúncio de dividendo robusto pelo banco no fim do ano, a Itaúsa também deve entregar uma remuneração parruda. De quebra, a ação ainda negocia com desconto frente à média histórica.
Será que a holding deu a volta por cima e vai voar em 2025? O E-Investidor conversou com analistas e traz os detalhes nesta reportagem.
Um olhar do portfólio
A Itaúsa é uma holding que investe em outras empresas e depende do desempenho delas para gerar lucro. Não tem atividade operacional própria: seus resultados são fruto do lucro, dividendos e crescimento das subsidiárias.
Atualmente, a holding investe em sete companhias: Itaú (ITUB3), Alpargatas (ALPA4), Dexco (DXCO3), Motiva (MOTV3), Aegea (saneamento), Copa Energia (gás) e NTS (transporte de gás). O Itaú responde por 90% a 95% das receitas da holding. No 1º trimestre de 2025, o banco gerou R$ 3,95 bilhões do total de R$ 4,17 bilhões de resultado recorrente das investidas, ou 94,7%.
Esse peso do Itaú faz com que muitos analistas enxerguem a Itaúsa como uma forma mais barata de se expor ao banco, devido ao desconto de holding. E essa realidade deve seguir assim por pelo menos três anos, segundo a própria gestão, quando as subsidiárias não financeiras passarem a contribuir mais com a receita e o fluxo de dividendos.
A concentração não preocupa os analistas no curto e médio prazo. “O Itaú tem qualidade, lucros consistentes e boa geração de caixa, o que assegura dividendos da holding”, afirma Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos.
Mas, do ponto de vista da diversificação, ela ainda é limitada. Na pandemia, o Itaú foi mal e a Itaúsa sentiu. Mas já há avanço. “O lucro das investidas não financeiras cresceu 62% no trimestre”, lembra o analista.
Chinchila cita que NTS, Aegea e Alpargatas estão evoluindo, enquanto a Dexco ainda sofre com juros altos e setor de construção desaquecido. “A diversificação é positiva, mas hoje pesa pouco. A permanência das investidas depende da recuperação nos próximos trimestres”, diz.
Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, concorda: o foco deve seguir no Itaú. “Se alguma investida não financeira piorar, pouco impacta. E o contrário também, mesmo com forte alta no lucro, o efeito será pequeno”, explica, reforçando que o investidor não deve se preocupar tanto com o desempenho dessas empresas.
Com o bom desempenho do Itaú em 2025, analistas esperam um ano forte para a Itaúsa. “Vai ser um resultado robusto, pelo banco, mas também pela qualidade de gestão de portfólio e estrutura de capital da Itaúsa. Ciclo de investimentos encerrado e foco agora é redução de dívida”, conclui Oliveira.
Como ficam os investimentos da Itaúsa
A Itaúsa dificilmente fará novos investimentos em 2025. A empresa exige retorno mínimo de 20% e, segundo explicou ao E-Investidor, adota como regra projetos que rendam pelo menos 2 pontos acima do custo de capital, a holding não divulga públicamente o patamar desse índice. Para ativos mais arriscados, a exigência é ainda maior. Apesar disso, o CEO mencionou interesse no agronegócio, embora não veja nada atrativo no radar.
Para Renato Reis, da Blue3, o setor está descontado e pode ajudar na diversificação, mas alerta: “O importante é não pagar caro pelas empresas, como aconteceu com Alpargatas, Dexco, Motiva.” Ele ressalta que “o agro tem muitas empresas inadimplentes”, o que eleva os riscos.
Jayme Simão, do Hub do Investidor, vê potencial na ação. “A própria gestão da Itaúsa reconhece que há uma lacuna na holding quando se trata de agronegócio, mas ainda acho que, no curto prazo, o foco da empresa é reduzir dívida e otimizar a carteira atual”, diz. Para Fernando Bresciani, analista do Andbank, o foco no agro deve ser em companhias ligadas à infraestrutura. Já Oliveira vê espaço em setores resilientes, como seguros e mineração.
E a dívida?
A Itaúsa já deixou claro que, em 2025, o foco é reduzir o endividamento. Com a dívida principal amortizada até 2028, restam apenas juros a pagar nos próximos três anos, o que alivia o caixa. A holding tem R$ 4,4 bilhões e só volta a quitar principal em 2029, cerca de R$ 1 bilhão ao ano — valor que cai pela metade em 2032.
“Isso mostra que a gestão da holding está comprometida com uma estrutura de capital saudável e entende a importância da Itaúsa como veículo de geração de dividendos”, diz Simão, destacando o dividend yield próximo de 8%. Para Chinchila, “o foco em manter a dívida controlada e priorizar investimentos com retorno seguro fortalece a sustentabilidade dos resultados no longo prazo”.
Muito barata ou é pegadinha?
Até o 1°TRI25, o desconto da holding era de surpreendentes 24,2%, ou seja, o valor de mercado das 7 empresas investidas somava R$ 135,2 bilhões, contra R$ 102,5 bilhões de valor de mercado da ação Itaúsa (ITSA4) na Bolsa. Esse desconto está acima da média histórica, que é de 21,5%.
Para Milton Rabelo, analista da VG Research, o desconto “parece exagerado”, mas deve cair com a reforma tributária, que acaba com o imposto sobre JCP a partir de 2027: “A Itaúsa será beneficiada, já que recebe muito JCP do Itaú.” A ação já subiu 34,55% no ano até 22 de maio, e os múltiplos se alinharam à média de 10 anos. “As ações da Itaúsa não parecem mais uma barganha, porém não estão caras”, afirma.
Mas há controvérsias. Oliveira alerta que o cálculo do desconto é inflado ao se usar ITUB4, mais cara que a ITUB3, que é o papel que a Itaúsa de fato detém. “Isso distorce muito o valor de mercado”, diz. Reis concorda: “Se fosse usado ITUB3, o desconto seria de apenas 5%, considerando também os custos da holding. Isso induz o investidor ao erro.”
E os dividendos vão voar?
Todos os analistas consultados estão otimistas com os dividendos da Itaúsa e esperam retornos elevados e consistentes. A holding deve se beneficiar do forte resultado do Itaú em 2025 e ainda tem potencial de valorização no médio e longo prazo.
Quanto ao payout (parcela do lucro destinada a proventos), há divergência: os mais conservadores apontam 30%, e os mais otimistas, até 70%. O dividend yield estimado varia entre 7% e 10%. Todos recomendam compra.
A lógica do mercado é que, com pouca dívida, sem investimentos no radar e caixa relevante, favorecida pelo Itaú, a Itaúsa vai voar.
Ação |
Dividend yield projetado para 2025 |
Payout |
Recomendação |
Quem recomenda |
Itaúsa (ITSA4) |
8% |
— |
Compra |
Hub do Investidor |
Itaúsa (ITSA4) |
9% |
65% |
Compra |
VG Research |
Itaúsa (ITSA4) |
8,51% |
60% |
Compra |
Vida de Acionista |
Itaúsa (ITSA4) |
8% até 10% |
40% |
Compra |
Terra Investimentos |
Itaúsa (ITSA4) |
7% até 8% |
70% |
Compra |
Andbank |
Itaúsa (ITSA4) |
8,50% |
40% |
Compra |
Blue3 Research |
Fonte: levantamento E-Investidor com analistas
Segundo o consenso do TradeMap, seis instituições recomendam compra, com dividend yield médio esperado de 9,59% para 2025 e preço-alvo médio de R$ 12,74 até dezembro, alta de cerca de 15,28%.
Nos últimos cinco anos até o fechamento de 22 de maio, ITSA4 valorizou 120,33%, acima do Ibovespa (67,05%), mas abaixo de ITUB3 e ITUB4, que subiram 175,87% e 178%, respectivamente.
Quem recomenda? |
Recomendação |
Preço-alvo |
Dividend yield projetado 2025 |
Data da Recomendação |
UBS |
Compra |
R$ 13,00 |
11,50% |
09/04/2025 |
Santander |
Compra |
R$ 12,00 |
—- |
22/05/2025 |
Ágora |
Compra |
R$ 13,70 |
9,90% |
22/05/2025 |
Terra |
Compra |
R$ 12,50 |
8,39% |
01/05/2025 |
Genial |
Compra |
R$ 12,73 |
— |
16/05/2025 |
PagBank |
Compra |
R$ 12,50 |
8,58% |
01/05/2025 |
Fontes: TradeMap, bancos, corretoras e researches
Itaú ou Itaúsa
Apesar do otimismo com a Itaúsa, muitos analistas ainda preferem Itaú para investir, e se dividem entre as ações preferenciais ITUB4 e ordinárias ITUB3, estas geralmente mais baratas.
Para Fernando Bresciani, do Andbank, “quem busca dividendos deve preferir Itaú, mas para quem também quer valorização, a Itaúsa seria melhor.” Milton Rabelo discorda: prefere Itaúsa para dividendos, citando o desconto da holding que eleva o yield.
Jayme Simão destaca a consistência e a política clara de dividendos do Itaú, mas reconhece que “a Itaúsa, pelo desconto, pode oferecer maior retorno para investidores mais pacientes.”
Já Oliveira recomenda o Itaú para iniciantes, por ser mais simples de acompanhar e por ter uma operação própria. “Se um dia o Itaú for ruim, a Itaúsa terá resultado ruim. É uma forte dependência.”
A Itaúsa (ITAS4) distribui no mínimo 25% do lucro em proventos e paga R$ 0,02 por ação a cada trimestre. O Itaú paga R$ 0,015 mensais e costuma liberar dividendos adicionais mais robustos ao fim do ano.
Preferência para dividendos |
Dividend yield projetado para 2025 |
Payout |
Recomendação |
Quem recomenda |
Itaú (ITUB4) |
8% |
30% |
Compra |
Hub do Investidor |
Itaúsa (ITSA4) |
9% |
65% |
Compra |
VG Research |
Itaú (ITUB3) |
7,56% |
60% |
Compra |
Vida de Acionista |
Itaúsa (ITSA4) |
8% até 10% |
40% |
Compra |
Terra Investimentos |
Itaú (ITUB4) |
8% |
70% |
Compra |
Andbank |
Itaú (ITUB3) |
9,50% |
40% |
Compra |
Blue3 Research |
Fonte: levantamento E-Investidor com analistas