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Nasdaq desvaloriza 15% em um ano. É hora de desmontar posição?

Índice é usado como termômetro para compreender como estão as companhias de tecnologia dos Estados Unidos

Nasdaq desvaloriza 15% em um ano. É hora de desmontar posição?
Fachada da bolsa Nasdaq com o icônico painel animado. (Foto: Shutterstock/Goran Vrhovac/Reprodução)
  • Para que protótipos tecnológicos sejam feitos, as companhias precisam pegar dinheiro via crédito, por exemplo. E como o custo do capital está caro por conta dos juros, o caixa das empresas fica pressionado
  • Apesar do índice desvalorizar em tamanha magnitude no acumulado anual, janeiro de 2023 foi um respiro para os investidores
  • Isso porque o Nasdaq terminou os primeiros 31 dias do ano com alta de 10%, aos 11.513,00 pontos, ganho cinco vezes maior que o Dow Jones e duas vezes superior ao S&P 500, no mesmo período

O Federal Reserve (Fed, ou banco central dos EUA) reduziu o ritmo de aperto monetário, ao subir os juros em 0,25 ponto percentual na semana passada, para o intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano, mas já indicou que a taxa continuará subindo. Na última terça-feira (7), o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou a tese de que os juros devem seguir em alta ao longo dos próximos meses.

Entre os motivos citados por Powell estão os dados do mercado de trabalho, que vieram bem acima do esperado e devem impactar a inflação. Vale lembrar que o movimento recente do Fed se soma às oito altas que ocorreram desde março de 2022, quando a economia norte-americana foi fortemente prejudicada pela Guerra na Ucrânia e pelos casos de Covid-19 no país – que chegou a bater 769 mil há um ano (cinco vezes mais que o pico no Brasil).

A fala de Powell não foi suficiente para que o Nasdaq tombasse no pregão de terça-feira, porém, a constante sinalização do banco central norte-americano de alta na taxa de juros prejudicou o índice nos últimos meses. O benchmark caiu cerca de 15% em um ano, ou 12,15%, desde que os juros tiveram a primeira alta.

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O Nasdaq é usado pelos investidores como termômetro para compreender como estão as companhias de tecnologia. E esse setor é o mais prejudicado com os movimentos mais hawkish (duros) do BC porque, segundo Felipe Pontes, diretor operacional da Economatica, as empresas precisam de capital para construir novas tecnologias, e que deverão gerar retornos ao caixa somente no futuro.

“Para que os protótipos tecnológicos sejam feitos, as companhias precisam pegar dinheiro via crédito, por exemplo. E como o custo do capital está caro por conta dos juros, o caixa dessas empresas fica pressionado”, diz o especialista.

Felipe Reymond Simões, diretor da gestora de fundos WIT Asset, pontua que o índice recuou no último ano por um fator histórico: “Desde a crise de 2008, houve uma alta quase que ininterrupta. Toda vez que ameaçava ter alguma recessão ou problema na economia que a bolsa pudesse reagir negativamente, o Fed injetava mais dinheiro e estimulava a compra de mais ações”, afirma.

Dessa forma, segundo Simões, o nível de precificação das ações americanas estava realmente em um patamar alto. O investidor pagava múltiplos muito elevados por várias ações de tecnologia, então “nada mais natural que uma correção, ainda mais coincidindo agora com um período em que várias empresas estão sofrendo as consequências da inflação”.

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Portanto, explica o especialista, o que está sendo feito agora para combater a inflação é uma elevação da taxa de juros. Como consequência, com a taxa de juros mais alta, a renda fixa se torna mais atrativa e, relativamente, a bolsa de valores perde espaço.

Especialistas foram categóricos em afirmar que a região caminhava para uma possível recessão. Relembre aqui.

Veja o desempenho do índice desde 2013:

É hora de sair da Nasdaq?

Apesar do índice desvalorizar em tamanha magnitude no acumulado anual, janeiro de 2023 foi um respiro para os investidores. Isso porque o Nasdaq terminou os primeiros 31 dias do ano com alta de 10%, aos 11.513,00 pontos, ganho cinco vezes maior que o Dow Jones e duas vezes superior ao S&P 500, no mesmo período.

Porém, esse é um dado no curto prazo; e os investimentos de renda variável são vistos em um período maior. Tanto que, segundo o diretor da WIT Asset, “se analisar o histórico das bolsas, os ciclos de baixa costumam ser mais breves e mais acentuados que os ciclos de alta”. Então, se considerar que a desvalorização do índice começou há menos de um ano, na visão do especialista, ainda haverá alguns meses de movimento negativo.

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Para Simões, o melhor a se fazer em momentos como este é esperar a turbulência passar, pois, em seguida, haverá uma recuperação das ações. “Só não dá para saber quando, isso que é o complicado da renda variável”, brinca.

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, por sua vez, indica que esse não é o momento de desmontar posição, visto que em 2023, o Nasdaq apresentou uma alta considerável, “muito porque as companhias realizaram medidas, como as demissões em larga escala, para tentar controlar os gastos”. O que, segundo ele, foi visto pelo mercado como uma boa medida.

Além disso, essas empresas tem “grande” capacidade de se reinventar, criar produtos e tecnologias, que geram crescimentos. “O que é um grande diferencial se comparado com outros investimentos”, declara.

Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, também considera interessante ter empresas de tecnologia na carteira de investimentos, mas como um ‘mecanismo de diversificação de portfólio’. No entanto, destaca a diversificação, lembrando que é importante olhar para companhias de outros setores.

Para o especialista, ter posições de compra somente em empresas de tecnologia não é recomendável, visto que ainda pode haver alta nos juros e esse mercado é o mais sensível ao movimento dos bancos centrais.

Já o dirigente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, cujas projeções de onde os juros precisariam ir em 2023 foram as mais agressivas de todas as autoridades do Fed, declarou que agora sua previsão é de que o juro chegue a 5,4% – uma alta de quase 1 ponto percentual em relação ao atual patamar.

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