- A partir de outubro, pessoas físicas vão poder investir em cotas sênior de FIDCs
- Os FIDCs fornecem liquidez a empresas e instituições que fornecem crédito
- A rentabilidade dos FIDCs é, geralmente, mais alta do que a oferecida em opções de renda fixa
Se você já investiu em um Fundo de Investimento em Direito Creditório (FIDC), provavelmente você é milionário. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) só permite que investidores qualificados – aqueles com mais de R$ 1 milhão de patrimônio – ou profissionais – com mais de R$ 10 milhões – apliquem nessa classe de ativos no Brasil. Porém, a partir de 2 de outubro, uma nova resolução entra em vigor e vai democratizar o acesso e permitir que todas as pessoas físicas invistam nos direitos creditórios. Mas, afinal, o que são os FIDCs?
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Os FIDCs são fundos que compram créditos de empresas e os transformam em títulos que podem ser negociados no mercado financeiro. Isso significa que uma empresa que precisa de dinheiro pode vender seus créditos a um FIDC, que por sua vez vende títulos lastreados nesses créditos para investidores.
Ou seja, um FIDC fornece liquidez a empresas que, no geral, têm dificuldade para acessar dinheiro rapidamente. “Esse tipo de investimento costuma ser interessante porque você pode ganhar um retorno financeiro maior do que em formas mais tradicionais, como poupança ou títulos de renda fixa. Estamos falando de mais de 120% do CDI. E para quem escolhe o fundo certo, o risco não é tão elevado assim”, explica Bruno Lund, gestor da Ecoagro, empresa securitizadora de direitos creditórios voltada ao agronegócio.
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Os FIDCs podem ser abertos ou fechados. Os fundos abertos permitem que os investidores entrem e saiam do ativo a qualquer momento, enquanto os FIDCs fechados têm um prazo determinado para investimento e resgate. Além disso, os FIDCs podem investir em diferentes tipos de créditos, como recebíveis de cartão de crédito, cheques pré-datados, contratos de financiamento, entre outros. Cada tipo de crédito tem sua própria rentabilidade e risco associado.
Hoje, a indústria de fundos de investimentos em direito creditório tem tamanho de cerca de R$ 350 bilhões no Brasil, financiada apenas por aqueles investidores profissionais e especializados, e pelos fundos multimercado de crédito privado. Lund avalia que, após a Resolução 175 entrar em vigor e permitir investimentos de pessoas físicas, a oferta de produtos em direito creditório tende a aumentar exponencialmente.
De acordo com Cristiano Greve, sócio da Integral Investimentos, a expectativa é de que este mercado mais que duplique nos próximos cinco anos. “A resolução vai ser transformacional para o mercado. Porque a nova resolução também dá muitas possibilidades para os FIDCs se organizarem de forma mais transparente e segura”, explica.
O risco é muito elevado?
Investir em FIDC é semelhante a comprar uma dívida, explica o gestor da Integral, e por isso pessoas podem ter a visão equivocada de que é um investimento muito arriscado. Porém, as pessoas físicas vão poder aplicar seus recursos somente nas cotas mais seguras dos fundos, isto é, as chamadas Cotas Sênior.
Em caso de inadimplência do devedor, quem arca com as consequências da dívida são os investidores das Cotas Júnior e, caso exista, a Cota Mezanino, antes de estender o prejuízo à Sênior. As duas primeiras cotas, que oferecem retorno maior – e, consequentemente, mais risco – ainda serão restritas aos investidores qualificados, à gestora do fundo e aos cedentes dos recebíveis. A lógica é que, com essa divisão por cotas, o risco maior seja absorvido pela própria gestora.
Outro fator que deve pesar na análise de risco: FIDCs abertas às pessoas físicas devem ter, obrigatoriamente, notas de classificação de risco de agências de rating, o que garante ao investidor maior transparência sobre o tamanho do risco ao qual vai se expor.
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Greve destaca, também, que o risco não é muito elevado para quem escolher fundos com governança. “Embora o crédito esteja sempre associado à inadimplência, os FIDCs estão estruturados como qualquer fundo de investimento, e portanto é possível escolher fundos com governança e gestão rigorosa, que acompanham e fiscalizam as taxas de inadimplência das instituições que captam seus recursos”, pondera.
Vale a pena investir?
Na avaliação dos especialistas, trata-se de uma ótima forma de diversificação. Com rendimentos acima do oferecido na renda fixa, o risco é tolerável até mesmo por alguns investidores conservadores. Em momentos de estresse do mercado, como aconteceu recentemente com a redução da oferta de crédito por bancos, após a crise bancária nos EUA e na Europa, os FIDCs podem assumir protagonismo e oferecer rentabilidade ainda maior aos investidores.
Além disso, é possível aplicar seu recurso em fundos que apoiam causas sociais e ambientais. A fintech de crédito educacional Elleve, por exemplo, já beneficiou mais de 50 mil alunos de baixa renda com crédito acessível, e no primeiro trimestre de 2023 emitiu seu primeiro FIDC. O fundo captou R$ 100 milhões de reais e vai permitir que a empresa estenda suas operações a mais escolas parceiras.
“Nosso FIDC, além de seguro e com baixa inadimplência, é uma forma de investir em educação, transformação e alavancagem social”, conta André Dratovsky, CEO da Elleve. Dratovsky explica que a empresa pretende emitir um segundo FIDC no segundo semestre deste ano, e que vão estudar a possibilidade de constituir um fundo aberto a pessoas físicas.
Porém, é preciso que o investidor fique atento ao funcionamento do fundo, pondera Dratovsky. “Por se tratar de uma modalidade mais complexa de investimento, e já que cada fundo opera de sua maneira e tem sua própria composição, a dica é para que o investidor acompanhe o fundo e compreenda como ele é gerido antes de aplicar seu recurso”, recomenda.