Em mais um ano em que a renda fixa reinou, os papéis prefixados do Tesouro Direto foram os grandes campeões de rentabilidade em 2025, batendo a performance dos pós-fixados, mesmo com a Selic a 15% ao ano, e dos títulos atrelados à inflação.
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Em mais um ano em que a renda fixa reinou, os papéis prefixados do Tesouro Direto foram os grandes campeões de rentabilidade em 2025, batendo a performance dos pós-fixados, mesmo com a Selic a 15% ao ano, e dos títulos atrelados à inflação.
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O ano começou com os juros nas máximas e foi cedendo ao longo do tempo, num movimento que beneficiou quem comprou os títulos prefixados com taxas de retorno mais altas no início de 2025.
No fim de 2024, havia um forte pessimismo sobre a economia. O auge foi o anúncio do ministro Fernando Haddad (Fazenda) do pacote fiscal na televisão, uma medida que, em vez de acalmar, foi vista como expansão de gastos, reduzindo a confiança sobre o ajuste fiscal do governo.
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O dólar chegou a bater R$ 6,40, o que elevou o medo de inflação mais alta nos meses seguintes. Com isso, os investidores passaram a pedir juros muito elevados para emprestar dinheiro ao governo. Os prefixados chegaram a pagar 16%. E, quando os juros sobem, o preço dos títulos cai.
Na prática, os juros funcionam como uma taxa de desconto: quanto maior, mais barato fica o papel. E esse movimento foi particularmente forte nos títulos prefixados, que são os mais sensíveis às mudanças nos juros futuros.
Ao longo dos primeiros meses de 2025, o clima mais pesado começou a aliviar. O câmbio passou a ceder, a percepção sobre a inflação futura ficou menos pressionada e o mercado passou a enxergar uma trajetória de juros mais moderada do que aquela projetada no auge da turbulência.
“A sinalização firme do Banco Central de que a Selic permaneceria em nível suficientemente restritivo deu previsibilidade ao mercado e ajudou a estabilizar expectativas”, contextualiza Pedro Ros, CEO da Referência Capital.
Com essa nova perspectiva, os juros projetados entraram em movimento de queda. Com isso, os preços dos títulos prefixados passaram a subir, chegando a uma valorização média de 17,79% no acumulado do ano até novembro, pelo Índice de Renda Fixa (IRF-M) da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
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O IRF-M acompanha a variação de preços dos títulos públicos prefixados em diversos vencimentos. O Tesouro Prefixado 2032, por exemplo, valorizou mais de 20% este ano. O preço unitário (PU) do título saiu de R$ 392,83 no início do ano para R$ 471,67 em novembro.
Já o títulos de prazo mais curto, com vencimento em 2028, que têm uma sensibilidade menor à variação de juros (duration), valorizaram 15,57% . “Com a curva de juros elevada, títulos prefixados, ou de prazo mais longo, captaram boa parte do prêmio de risco de juros”, observa Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
No mesmo período, o Tesouro Selic, captado pelo IMA-S remunerou em 13%. O IMA-S é o índice da Anbima que reflete a performance de títulos públicos pós-fixados que acompanham a taxa básica de juros do Brasil.
Já os papéis do Tesouro IPCA+ renderam em linha com a Selic, na base de 12,9%, medidos pelo IMA-B, indicador que acompanha o desempenho dos títulos públicos atrelados à inflação. Enquanto isso, os títulos do IPCA+ com vencimentos acima de 5 anos, acompanhados pelo IMA-B 5+, renderam um pouco mais, 14,5%.
“As [antigas] LTNs [atuais Tesouro Prefixado] ganharam força porque a expectativa de juros futuros caiu de forma consistente ao longo do ano”, reforça João Ferreira, especialista em Renda Fixa da ONE Investimentos. As projeções para mudança de ciclo começaram a se consolidar com a chegada dos últimos meses do ano.
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“O mercado passou a enxergar a possibilidade de início dos cortes de juros para o primeiro trimestre de 2026”, diz Ferreira, referindo-se às interpretações sobre última ata do Copom de novembro. “Com isso, alguns prazos da curva (de juros futuros) chegaram a ser negociados abaixo de 13%, algo que não víamos há meses.”
No caso dos títulos pós-fixados, as antigas LFTs (atuais Tesouro Selic), o comportamento é mais previsível. Seguem a taxa básica de juros, que chegou ao seu maior patamar de 15% em junho. Agora, com a perspectiva mais de que o Banco Central vai iniciar o ciclo de cortes em 2026, a tendência é que passem a pagar menos, mas, mesmo assim, em patamares ainda muito altos acima de dois dígitos.
O movimento de queda dos juros futuros, que beneficiou os prefixados, não foi refletido com a mesma intensidade na chamada curva de juros real (rendimento descontado da inflação), que influencia diretamente os preços das NTN-Bs [atuais Tesouro IPCA+].
O efeito de valorização desses papéis foi mais limitado. Na prática, os títulos de IPCA+ com vencimento em 2029 passaram o ano na faixa acima de 7,7% e não cederam. Apesar da expectativa de inflação ter diminuído ao longo do ano (inflação implícita), o juro real ficou travado por causa do risco fiscal, que não saiu do radar do mercado.
Mas esse efeito não foi apenas de expectativa. A própria inflação passou a pressionar menos ao longo do ano. Houve até registro de deflação em agosto (-0,11%) pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “Isso acabou impactando o carrego desses ativos”, comentou João Ferreira. “Esse movimento limitou os ganhos de marcação a mercado”, completa Pedro Ros.
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A marcação a mercado é a atualização diária do preços de um título conforme as oscilações dos juros. É assim que a renda fixa varia antes do vencimento e explica os ganhos mais robustos dos prefixados.
Essa dinâmica diária também foi influenciada pela entrada dos investidores estrangeiros, que operam ações, câmbio e contratos de juros nominais. Os estrangeiros geralmente não aplicam nos juros reais, atrelados à inflação.
No Brasil, a demanda por papéis indexados ao IPCA é interna, principalmente vinda de fundos de previdência. “Esses investidores, porém, já chegaram ao limite de alocação permitido em títulos públicos”, comenta Ferreira. Ao mesmo tempo, o Tesouro Nacional continuou aumentando a oferta de NTN-Bs (Tesouro IPCA +).
“Com mais oferta do que demanda, e um cenário fiscal ainda pressionado, as taxas reais permaneceram altas”, completa. Com maior oferta, esses papéis valorizaram menos, refletindo a dinâmica clássica de mercado.
Os títulos de vencimento mais longo, no entanto, reagiram melhor, valorizando com uma queda nos juros reais. Os títulos de IPCA + 2050 começaram o ano pagando acima de 7% além da inflação e terminam 2025 na casa dos 6,8%.
Apesar de o mercado ainda enxergar espaço para mais redução de juros, com o Banco Central sinalizando um ciclo de cortes no primeiro trimestre de 2026, as eleições adicionam incertezas e a dinâmica desse ano poderá não se repetir em 2026.
“Em anos de eleição, o governo tende a ampliar gastos, o que pode pressionar a inflação, afetar o câmbio e, consequentemente, empurrar a curva de juros para cima”, alerta Ferreira, especialista da ONE.
Ao mesmo tempo, a entrada de capital estrangeiro, que ajudou a derrubar os juros nominais em 2025, é um fator que depende de muitas variáveis externas, o que adiciona mais incertezas.
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Por outro lado, os títulos de Tesouro IPCA+ preservam o poder de compra para quem leva o investimento até o vencimento, eliminando, assim, os efeitos de marcação a mercado. “Para 2026, juros ainda elevados mantêm a renda fixa atrativa. Tesouro Prefixado e IPCA+ de médio prazo seguem opções relevantes”, diz Lima, da Ouro Preto.
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