As projeções da EQI para 2026: IBOV a 174 mil pontos e um risco que pode minar o otimismo
Depois de um 2025 dominado pelo macro e pelo exterior, a expectativa é que o próximo ano seja pautado pelo cenário doméstico; nos investimentos, as boas teses micro vão prevalecer
Para corretora, cenário é majoritariamente positivo para a Bolsa. O risco está nas eleições. (Foto:
Tânia Rêgo/Agência Brasil)
O ano de 2025 caminha para se encerrar muito distante de como começou no mercado de investimentos, com o Ibovespa na máxima histórica e o dólar no menor valor em 17 meses. O desafio agora é traçar as projeções para 2026 em meio a esse novo momento, tentando destrinchar o que é ruído, o que pode ser otimismo exagerado e o que é fundamento; e tendo em vista a agenda cheia que o próximo ano promete.
A EQI Research se antecipou nessa tarefa e divulgou nesta terça-feira (12) o seu relatório temático sobre onde investir em 2026.
Para os especialistas da corretora, é preciso começar 2026 entendendo que o bom 2025 se deve mais a um vento externo favorável, somado a um mercado doméstico deprimido, do que a qualquer “milagre doméstico”. Lá fora, o ciclo de corte de juros nos Estados Unidos e os questionamentos em relação à dominância do dólar e ao valuation elevado das ações de tecnologia fizeram investidores globais buscarem novos mercados. E o Brasil foi beneficiado.
Com dados de inflação convergindo em direção à meta, a expectativa agora é que o Banco Central brasileiro também possa reduzir a taxa Selic dos atuais 15% ao ano no começo de 2026. É um pano de fundo construtivo, mas que, com a volatilidade do ano eleitoral, não deve permitir que investidores aumentem o risco estrutural da carteira.
“O driver passa a ser mais micro do que macro. Fizemos a migração para risco ao longo de 2025. Para 2026, o trabalho é maturar posições e capturar assimetrias específicas”, escreveram Carol Borges, João Neves, Nícolas Merola e João Zanott.
Na prática, isso significa maior seleção setorial e de cases específicos em ações, enquanto a seleção de qualidade, duration e governança vai ditar a alocação em fundos imobiliários (FIIs).
“É um momento de maturação, monitoramento e refinamento dos ativos escolhidos, e não de grandes migrações. Para quem está começando agora, trata-se de uma boa porta de entrada em um ponto ainda favorável do ciclo de longo prazo”, diz o relatório.
A alocação macro recomendada varia de acordo com o perfil do investidor:
Para os conservadores: 85% em renda fixa, sendo 57% em pós-fixados, 19% em IPCA+ e 9% em prefixados; 15% no exterior;
Para os moderados: 60% renda fixa, sendo 22% pós, 17% IPCA+ e 11% pré; 15% exterior, 15% FIIs e 10% ações;
Para os arrojados: 45% renda fixa, sendo 19% pós, 16% IPCA+ e 105 pré; 15% no exterior, 20% FIIs e 20% ações.
IBOV a 174 mil pontos
Quando o assunto é Bolsa, a EQI mantém o otimismo apesar das máximas recentes e da volatilidade que as eleições presidenciais de 2026 devem trazer à mesa. Será um ano para observar os fatores domésticos voltarem a fazer preço, depois de um 2025 em que o exterior ditou o tom.
Mas há uma série de fatores que podem sustentar a continuidade da boa performance das ações brasileiras. O preço segue atraente, apesar da máxima do IBOV e o início do ciclo de corte de juros no Brasil deve favorecer as ações. O cenário mais positivo também tende a atrair de volta investidores locais que ainda não voltaram para a Bolsa, como a pessoa física e os institucionais – apesar dos recordes em sequência do Ibovespa, os fundos de ações, por exemplo, continuam a receber resgates.
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“O mercado acionário brasileiro tem potencial de valorização superior ao retorno esperado da renda fixa, especialmente para o investidor que adotar uma abordagem seletiva, diversificada e de longo prazo. O risco de queda é limitado, uma vez que a bolsa segue negociando em níveis atrativos de valuation e representa um ativo real, capaz de oferecer proteção em um eventual cenário de pressão inflacionária”, diz o relatório.
A projeção da EQI Research é que o Ibovespa chegue aos 174 mil pontos ao final de 2026, uma valorização potencial perto de 20% frente aos patamares atuais.
O risco local de volta ao radar
Essa é a parte positiva da história. O risco, no entanto, está justamente na volta das pautas domésticas ao radar de investidores, que devem ganhar mais peso a medida que as eleições de outubro se aproximem.
No documento, os analistas da EQI destacam que o processo político deve afetar a oscilação dos papéis na Bolsa. Atualmente, a volatilidade está nas mínimas de 10 anos. O risco é que isso afaste aqueles investidores que ainda não voltaram para a renda variável, especialmente em um contexto que ainda deve ser de juros de dois dígitos.
A medida que o processo eleitoral tenha mais visibilidade, com candidatos e pautas econômicas definidas, o mercado deve reagir (e cobrar) principalmente às propostas de enfretamento do dilema fiscal. No fim de 2024, foi a interpretação de que o atual governo federal não tinha intenção de reduzir os gastos públicos e, assim, controlar o crescimento da dívida que levou os ativos de risco ao auge do estresse – um pessimismo ilustrado sobretudo no câmbio, com o dólar chegando a históricos R$ 6,26.
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Esse é o grande risco que poderia minar a alta do IBOV e as projeções otimistas. “Caso o presidente eleito não consiga endereçar adequadamente essas questões, entendemos que as expectativas deverão ser revistas, tornando o cenário consideravelmente mais adverso — com revisões negativas nas projeções de lucro das empresas, aumento do custo de capital e das taxas de juros de longo prazo, além de possíveis efeitos depreciativos sobre a moeda”, diz a EQI.