Avanço da população idosa deve reconfigurar hábitos de consumo e o desempenho de ações na América Latina (Foto: Adobe Stock)
O envelhecimento populacional já é uma realidade em diversos países. O aumento da proporção de pessoas idosas em relação aos mais jovens impacta não apenas a economia, mas também os padrões de consumo — tendência destacada em relatório do Santander obtido pelo E-Investidor. No longo prazo, esse movimento pode influenciar o desempenho de ações na América Latina.
Com base em um levantamento da McKinsey de 2023 — que analisou dados de China, Alemanha, Japão e Estados Unidos e foi citado no relatório do Santander —, pessoas acima de 65 anos tendem a direcionar uma parcela maior da renda para saúde, alimentação em casa, equipamentos domésticos, moradia e utilidades. Assim, consumidores mais velhos destinam uma fatia maior da renda a necessidades básicas (exceto educação) e reduzem gastos com itens supérfluos.
Em contrapartida, ainda segundo a pesquisa, o grupo etário reduz despesas com educação, vestuário e calçados, restaurantes e hotéis, bebidas alcoólicas e tabaco, além de transporte. Já os gastos com serviços de comunicação e com atividades recreativas e culturais permanecem relativamente estáveis.
O impacto do envelhecimento populacional em ações da América Latina
Setores de saúde, supermercados e imóveis devem ser beneficiados
De acordo com Maria Paula Cantusio, Caio Moscardini e Ruben Couto, do Santander, caso os idosos na América Latina sigam padrão semelhante aos países analisados na pesquisa, o impacto seria positivo para supermercados como Assaí (ASAI3), Cencosud, Chedraui, GPA (PCAR3), Grupo Mateus, Tiendas 3B e Walmex.
Empresas de eletrodomésticos e varejo de bens duráveis também devem ser beneficiadas, como El Puerto de Liverpool, Falabella, Magazine Luiza (MGLU3), Mercado Livre (MELI34) e Walmex, assim como companhias de energia e serviços públicos.
No mercado imobiliário, o efeito também deve ser positivo para as construtoras, impulsionadas tanto pelo déficit habitacional ainda elevado na América Latina, quanto por possíveis mudanças no perfil da demanda — seja por imóveis menores, mais acessíveis, ou, em alguns casos, residências mais amplas e adaptadas.
O setor de saúde, por sua vez, tende a ser um dos mais impactados pelo envelhecimento populacional. O avanço das doenças crônicas e degenerativas aumenta a pressão sobre sistemas públicos e privados, abrindo espaço para expansão e consolidação do segmento.
Entre as companhias latino-americanas que podem se beneficiar desse cenário, segundo projeções do Santander estão: redes hospitalares (Rede D’Or); farmacêuticas (Hypera); redes de farmácias (RD Saúde e Pague Menos); empresas de diagnósticos (Fleury); operadoras focadas em doenças crônicas (Oncoclínicas); e até academias (Smart Fit), impulsionadas pela crescente busca por bem-estar e prevenção.
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Já no caso das empresas verticalizadas — que integram hospitais e planos de saúde, como a Hapvida (HAPV3) — o efeito tende a ser misto: positivo pelo aumento da taxa de ocupação hospitalar, mas negativo devido à maior utilização dos planos e ao avanço da sinistralidade. Como a divisão de planos tem maior peso nos resultados da Hapvida, o impacto líquido para a companhia pode acabar sendo negativo.
Setores de educação, turismo vestuário podem sofrer retração
Por outro lado, o envelhecimento populacional na America Latina deve trazer reflexos negativos para o setor educacional, pressionando empresas como Ânima (ANIM3), Cogna (COGN3) e YDUQS (YDUQ3). Empresas de vestuário também devem ser penalizadas, como Azzas 2154 (AZZA3), C&A (CEAB3), El Puerto de Liverpool, Falabella, Guararapes (GUAR3) e Lojas Renner (LREN3).
Já as fabricantes de bebidas alcoólicas — como Ambev (ABEV3) e Becle — redes de alimentação fora de casa – como Alsea e Arcos Dorados — e companhias aéreas e de turismo — a exemplo CVC e Latam Airlines — também devem sofrer retração com o envelhecimento populacional, segundo o Santander.