

Walter Maciel, CEO da AZ Quest, não perdeu o otimismo com o Brasil. Em outras entrevistas ao E-Investidor, feitas em diferentes momentos do mercado, o executivo tinha análises mais positivas do que a média vista à época. Nas eleições presidenciais de 2022, por exemplo, a visão era de que os investidores estavam mais pânico do que o necessário. Depois, em 2023, a gestora embarcou na proposta do arcabouço fiscal e conseguiu um dos melhores retornos da indústria de multimercados graças ao otimismo com o mercado local. Em 2024, no entanto, sofreu junto dos gestores que haviam apostado no “pacote Brasil”.
Hoje, Maciel reconhece que a regra fiscal foi uma decepção; não porque a proposta era ruim, mas pela falta de disposição do governo federal de cortar gastos para entregar os resultados prometidos. A avaliação do CEO à frente de um negócio de R$ 36,4 bilhões em ativos sob gestão é que este é o único problema do Brasil. Grave, mas solucionável, se houver disposição.
Cético com as intenções da atual gestão, a possibilidade de resolução do fiscal fica para 2027, após a disputa presidencial do próximo ano. É o que o mercado tem chamado de trade de eleição, um posicionamento mais favorável para ativos domésticos caso o cenário político dos próximos meses indique que o presidente Lula (PT) tem menos chances de se reeleger. “Nós temos um problema fiscal grave que não vai ser tratado nesse governo. Me resta achar que quanto maior a chance de vir uma outra administração, maior a probabilidade desse problema ser encarado”, diz.
Publicidade
Ainda assim, Maciel mantém o tom positivo com o País no longo prazo. “A assimetria atual é para cima e tenho uma visão ultra otimista. Se consertar o problema fiscal, o Brasil vai decolar.”
E-Investidor – Temos visto um início de ano mais positivo para o Brasil em 2025, com a Bolsa indo bem e alívio no câmbio. Esse movimento vai continuar ou o fiscal ainda voltará a pesar?
Walter Maciel – É complexo. O governo Bolsonaro e o governo Temer, juntos, fizeram reformas que mudaram a produtividade do Brasil. Tanto que, durante cinco anos, a economia cresceu 3% a mais do que os economistas esperavam. Mas a aversão a risco durante o governo Lula retraiu os investimentos, levou as pessoas para a renda fixa. Isso tudo tirou a força do crescimento econômico, que acabou sendo substituído pelo aumento da massa salarial. De um lado, o fiscal está metendo o pé no acelerador, enquanto, do outro, a política monetária está com o pé no freio. O carro fica só dando solavancos e não sai do lugar. Projetamos um PIB de 1,7% em 2025 e de 1,2% para o ano que vem, enquanto a inflação deve ficar em 5,5% este ano e em 4,5% no próximo. Agora, após as tarifas de Trump, ainda é preciso analisar como ficará o crescimento global. Se a gente conseguir se dar bem pelo setor externo, aí sim tenho uma visão ultra otimista para o Brasil daqui a cinco anos. É só não estragar demais o fiscal agora.
Gestores têm apontado que o trade de eleição já está fazendo preço, justamente pela possibilidade de mudança na condução da política fiscal. Qual a sua avaliação?
Publicidade
A situação do governo hoje é de gastos obrigatórios já quase do mesmo tamanho que a arrecadação. É um problema seríssimo? É. Mas é um problema só, resolvível, desde que haja boa vontade e boa execução. O mercado vai melhorar quando achar que as chances de resolução do problema aumentaram; e é com a alternância de poder. E só não está decolando ainda, porque há um entendimento de que podem vir barbaridades fiscais para o atual governo tentar se reeleger. Todos os presidentes, sem exceção, no último ano de mandato, fizeram alguma em algum nível. A assimetria hoje é para cima, se a popularidade continuar caindo e reforçando a perspectiva de alternância de poder. No entanto, se no início de 2026 vier o aumento de salário mínimo, Bolsa Família e gastos parafiscais, aí o dólar volta para R$ 6,5, o juros tem que ir a 16% e a Bolsa cai para 90 mil.
É por isso, então, que está positivo com o futuro, mas não com o momento.
Exatamente. O Brasil vive hoje uma transformação no setor externo que já está acontecendo. A nossa produção do pré-sal continua crescendo e nos próximos anos seremos o quarto maior produtor e terceiro maior exportador de petróleo do mundo. E há uma perspectiva de aumentar em 35% a produção agrícola até o fim da década, uma estimativa da Embrapa que vemos como conservadora. Diferente daquele ciclo de minério e aço, que veio da infraestrutura chinesa, mas passou, comida e petróleo não passam. Dá para transformar um país pelo setor externo. Se consertar o problema fiscal, o Brasil vai decolar.
De que forma isso se traduziria no mercado de investimentos?
Publicidade
Em tudo. O dólar já deveria estar a R$ 4. A inflação projetada para o ano que vem é de 5,5%, com os juros indo para 15%, estamos falando de 10% de juro real. Com uma política fiscal decente, o juro real brasileiro deveria estar em 4%, 4,5%. É um outro País e um outro preço de Bolsa. Temos um problema fiscal grave e não vai ser tratado nesse governo. Me resta achar que quanto maior a chance de vir uma outra administração, maior a probabilidade desse problema ser encarado. É racional. E o mercado está olhando assim e esperando para voar nos ativos. Enquanto isso, com juros de 15% ao ano, o investidor não quer o pôr risco, pois consegue produtos bons, em alguns casos isentos. É muito assimétrico esse nível de juros real comprando título do governo, onde não se corre risco nenhum.