

As tarifas de importação dos Estados Unidos para todos os países, que devem ser anunciadas nesta quarta-feira (2), podem causar um impacto acima de US$ 10 bilhões para a balança comercial do Brasil, em 2026. A estimativa é do BTG Pactual, que calculou o quanto a economia brasileira estaria expostas às medidas protecionistas do governo de Donald Trump. Segundo o banco, o Brasil está entre os países mais fechados do mundo, com uma tarifa média ponderada pelo volume de importações no País de 5,8%, contra 1,3% dos EUA.
Se o critério para a aplicação das novas tarifas de Trump incluir os países com barreiras comerciais superiores às dos EUA, o mercado brasileiro será diretamente afetado. “O impacto sobre a balança comercial tende a ser limitado, com perda estimada em cerca de US$ 3 bilhões em um cenário de tarifa média similar à que o Brasil impõe aos EUA (de 5,8%), podendo ultrapassar US$ 10 bilhões em 2026 no caso extremo de tarifa linear de 25%”, diz o BTG Pactual.
Os números contemplam apenas os efeitos diretos das medidas e não consideraram o possível redirecionamento do comércio brasileiro para outros mercados. O impacto também seria significativo se o governo americano direcionar as tarifas para setores específicos, como ocorreu com o aço. Embora a diversificação das exportações do Brasil limite o peso geral das medidas sobre a balança comercial, os segmentos dependentes do mercado americano seriam os principais penalizados pela medida.
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“Produtos como semimanufaturados de ferro e aço (que destinam 72,5% de suas exportações aos EUA), aeronaves (63,2%), materiais de construção (57,5%), etanol (48,5%), madeira e derivados (43,3%) e petróleo e derivados (27,9%) estão entre os mais vulneráveis à aplicação de tarifas”, diz o BTG. No entanto, se os EUA direcionarem as novas taxas apenas para os países com os maiores déficits comerciais, o BTG acredita que o Brasil não será impactado diretamente.
Na quarta-feira (2), o presidente americano prometeu anunciar as tarifas recíprocas para todos os países que cobram taxas de importação sobre os produtos americanos, além de classificar a data como o “Dia da Libertação da América”. As incertezas sobre a magnitude das alíquotas e os critérios da aplicação trouxeram volatilidade para os mercados, que temem os efeitos das ações de Trump.
Isso porque as taxas sobre os itens de importações têm potencial de pressionar a inflação dos Estados Unidos, atrasar o ciclo de queda de juros e, consequentemente, desencadear uma recessão econômica no país. No dia 19 de março, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decidiu manter inalteradas as taxas de juros nos intervalos de entre 4,25% e 4,5% ao ano. A decisão reforça a postura cautelosa do BC americano sobre qualquer mudança na trajetória da política monetária dos EUA no atual momento.
Na segunda-feira (31), os contratos futuros de ouro renovaram suas máximas históricas e fecharam em alta, acima dos US$ 3.150 por onça-troy. Na medida em que os investidores absorvem a escalada de tensões geopolíticas ao redor do mundo e se posicionam para as tarifas recíprocas dos EUA, o metal precioso se fortalece como porto seguro e proteção contra a inflação. Já o dólar sobe 0,44% na sessão de terça-feira (1) após a alcançar a máxima de R$ 5,7303.
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Para o Barclays, o cenário em torno do esperado pacote tarifário de Trump é caracterizado por uma “ansiedade de libertação”. O banco prevê que os EUA adotem tarifas recíprocas a 15 ou a 25 países, com efeitos quase imediatos. Por outro lado, o Goldman Sachs elevou sua previsão de recessão nos EUA, aumentando as chances para 35%, de 20%, e também revisou suas estimativas de crescimento do PIB para 2023, agora projetando um crescimento de apenas 1,5%.