

O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros brasileira em 1 ponto percentual para 14,25% ao ano nesta quarta-feira (19). A decisão já havia sido anunciada no fim de 2024, mas eleva a Selic para o maior patamar desde 2016, época da crise econômica que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
O Banco Central retomou os ajustes na Selic em setembro de 2024, quando a taxa ainda estava em 10,5% ao ano. O movimento era uma resposta da instituição a um pacote de deterioração macroeconômica que inclui desancoragem das expectativas de inflação, alta do dólar e postura fiscal expansionista do Executivo. A projeção do Boletim Focus para o IPCA em 2025 subiu por mais de 15 semanas consecutivas e indica uma inflação de 5,6% em 12 meses; muito acima da meta de inflação a ser perseguida pelo BC, de 3%.
“O cenário é marcado por alta inflação, juros elevados, crescimento econômico modesto e desafios fiscais, exigindo uma postura cautelosa”, define Caio Camargo, estrategista de investimentos do Santander.
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Mas esta cautela por parte do BC tem um preço alto. A elevação da Selic encarece o custo da dívida das empresas, reduz o ritmo da economia nacional e afeta diretamente a capacidade de consumo e o endividamento das famílias.
Para Álvaro Frasson, estrategista macro do BTG Pactual, é o custo de oportunidade que está ficando cada vez maior. “Quando isso acontece, os projetos da vida real, das empresas, dos negócios, vão perdendo atratividade. Um projeto tem que dar um retorno muito maior para valer a pena, do contrário, você pode simplesmente botar o dinheiro em um título público pós-fixado que pagará, a partir de agora, 14,25% ao ano”, explica.
A estratégia vencedora: renda fixa
Do ponto de vista de investimentos, o aumento da Selic é um prato cheio para os retornos da renda fixa. Sem precisar aumentar a parcela de risco dos portfólios, investidores conseguem mais de 1% ao mês de retorno em ativos de baixa volatilidade.
“É uma rentabilidade de cerca de quase 14% ao ano sem precisar de grandes esforços. O Brasil continua sendo o País da renda fixa”, diz Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter.
O consenso entre os especialistas é de que os ativos da renda fixa acabam chamando mais atenção, até mesmo para aqueles investidores de perfil mais arrojado. Uma alocação interessante para além do CDI. No Inter, por exemplo, a preferência é pelos títulos IPCA+ com vencimentos longos. “As taxas estão tão elevadas que, no longo prazo, não tendem a performar aquém do CDI. Você não pode deixar de ter isso em carteira”, destaca Rafael Winalda, especialista em renda fixa do banco.
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A alta na Selic desta quarta-feira pode não ser a última deste ciclo de aperto monetário, mas o Banco Central deve estar perto da taxa terminal. A projeção do Boletim Focus é de que a taxa de juros brasileira termine 2025 em 15% ao ano. Para 2026 e 2027, a projeção é de 12,5% e 10,5%. Se as medianas do mercado estiverem certas, a Selic está muito próxima do pico – o que abre espaço para os títulos de renda fixa prefixados.
Essa não é a alocação majoritária da Ágora Investimentos, dado o nível de risco mais elevado da estratégia, mas esses ativos vêm aos poucos ganhando mais espaço na carteira. “Sempre tivemos uma exposição a prefixados, mas estamos aumentando especialmente nos dois últimos meses. A predileção maior é por pós-fixado, algo próximo a 24,5% da carteira, mas a parte prefixada está chegando a 10%”, afirma Ellen Steter, head de alocação e fundos da Ágora.
Leia com detalhes as estratégias de cada casa:
- Ágora: “Decisão do Copom reforça o domínio da renda fixa nas carteiras”
- BTG Pactual: “É melhor que os investidores fiquem mais conservadores do que arriscados”
- C6 Bank: “Só esperamos um novo ciclo de baixa nos juros em 2027”
- Inter: “O Brasil continua sendo o País da renda fixa”
- Por que o Itaú (ITUB4) diminui pessimismo com a Bolsa, mesmo com Selic em 14,25%
- Santander vê Ibovespa sem gatilhos para se manter positivo e aposta em Selic de 15,5%