

Depois de quatro sessões seguidas de alta volatilidade e “circuit breakers” consecutivos, o Tesouro Direto abriu esta sexta-feira (20) com uma ligeira queda nas taxas dos títulos prefixados e IPCA+. A curva de juros tem alívio com a aprovação de quase todo o pacote fiscal de R$ 70 bilhões no Congresso e com a redução da disparada do dólar. Como mostramos aqui, o Banco Central já injetou US$ 13 bilhões no mercado de câmbio e está conseguindo reduzir a cotação da moeda americana.
Mas o alívio durou pouco. Por volta de 10h15, as negociações já tinham sido interrompidas e assim permaneceram até às 12h. Depois, entre 15h e 15h50, foram paralisadas novamente. É o 5º dia seguido de “circuit breaker” no Tesouro.
Na abertura da sessão, o Tesouro Prefixado 2027 era oferecido a 15,25% ao ano. Ainda que seja um nível de retorno elevado para o investidor, era a menor taxa da semana. Na véspera, os ativos prefixados chegaram a ultrapassar a máxima de 16% ao ano.
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Os títulos indexados à inflação também passaram por correção nesta sexta-feira. O Tesouro IPCA+ 2029 fechou negociado a um retorno anual de 7,81% além da variação de inflação. Na quinta-feira (19), as taxas chegaram a IPCA + 8,25% ao ano.
Geralmente, o site do Tesouro Direto sai do ar quando a volatilidade de juros está muito alta. Nesses casos, o Tesouro Nacional interrompe a negociações de ativos prefixados e indexados ao IPCA, sendo possível apenas a negociação do Tesouro Selic. Mas isso tem se tornado cada vez mais recorrente.
Como mostramos aqui, na quinta-feira, a negociação de títulos prefixados e IPCA+ passou quase todo o pregão interrompida em meio à disparada das taxas. Mas a suspensão também aconteceu em todos as outras sessões desta semana.
Caos no mercado
O mercado brasileiro vive pregões de turbulência. Na quarta-feira (18), o dólar fechou a R$ 6,26, o maior valor de fechamento da história. A disparada do câmbio se deve principalmente ao auge do estresse fiscal no País, mas a decisão de juros nos Estados Unidos também ajudou a definir a alta da cotação na sessão. E isso puxa junto a curva de juros brasileira.
A piora das condições macroeconômicas faz peso nos ativos de investimento, com o aumento da percepção de que a trajetória da dívida pública pode se tornar insustentável nos próximos anos. A desconfiança em relação à condução das contas públicas faz com que os investidores peçam mais prêmio para financiar a dívida, o que explica a disparada das taxas dos títulos públicos do Tesouro Direto.
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Como mostramos aqui, agentes econômicos começam a falar de “dominância fiscal“, um quadro de crise em que subir ou baixar os juros deixa de ter efeito sobre a inflação em função de um cenário fiscal descontrolado. Tudo isso em meio às dificuldades do governo federal de aprovar no Congresso as medidas para reduzir os gastos. Na noite da quinta-feira (19), o Senado aprovou duas das três propostas, mas o pacote fiscal como um todo foi desidratado, como mostra esta reportagem do Estadão.
Com o mercado precificando juros mais altos, os títulos do Tesouro oscilam muito. Papeis indexados à inflação, como Tesouro IPCA+, com ou sem juros semestrais, e prefixados (LTNs), estão sujeitos à marcação a mercado. Por causa disso, sempre que a taxa de mercado varia, os preços desses títulos também flutuam.