Paulo Marques, coordenador-geral do programa Tesouro Direto. Foto: Washington Costa/MF
O Tesouro Direto atingiu a marca de 3.099.146 investidores ativos, um avanço de 16,5% em um ano, segundo os dados mais recentes. Agora a meta é ampliar o crescimento e conquistar o público iniciante que não conhece os títulos públicos — desafio que tem exigido uma agenda contínua em termos de inovações.
“3 milhões de investidores é pouco para o potencial do Tesouro Direto. O título público representa o ativo mais seguro do mercado em termos de risco de crédito, e precisamos reforçar isso na nossa marca”, afirma Paulo Marques, coordenador-geral do Tesouro Direto.
Para popularizar o programa, o Tesouro lançou neste mês, em parceria com a B3, uma nova campanha estrelada pela atriz Renata Sorrah – mostramos os detalhes aqui. O site do Tesouro também foi atualizado. Agora, cada tipo de título tem uma página própria, com explicações sobre seu funcionamento.
E mais mudanças já estão a caminho: em 2026, o Tesouro deve operar 24 horas por dia, além de contar com um aplicativo para celular reformulado. A criação de um título específico para reservas de emergência, atrelado à Selic e sem risco de perdas com a marcação a mercado, também está nos planos.
Tesouro Direto muda site, gera debate entre investidores e prepara novidades; veja o que vem aí
Ao E-Investidor, Marques antecipou que o programa deve recolocar no ar, já na primeira quinzena de outubro, o simulador na área aberta do site. Hoje, a ferramenta, que permite comparar títulos públicos com outras opções de renda fixa, está acessível apenas para usuários logados. O Tesouro desenvolverá ainda, com a B3, cursos educativos na plataforma.
E-Investidor – Por que mudar o site do Tesouro Direto?
Paulo Marques – No começo do ano passado, contratamos a consultoria Irrational Labs, do Dan Ariely, um “Papa” da ciência comportamental que já escreveu diferentes livros sobre o tema. A equipe ajudou a reformular o site, que ainda deixava muito a desejar. O investidor chegava na plataforma e se deparava logo de cara com uma tabela com mais de 30 títulos. Isso já representava uma barreira. Por mais simples que pareça, o processo de investimento é cheio de incertezas, principalmente para aquela pessoa que está saindo do perfil poupador para o investidor. Antes, não conseguíamos trazer a simplicidade do programa para o site. Existia uma série de ferramentas que não conversavam entre si. Com a atualização, nós desenvolvemos uma jornada para o usuário iniciante. Agora entendemos que a plataforma deve atender todos os investidores, do mais simples ao mais arrojado.
O novo formato tem recebido críticas nas redes sociais. Como o Tesouro tem lidado com as reclamações?
Estamos escutando e discutindo internamente o que faz ou não sentido alterar. Mas o foco deste novo site são os milhões de brasileiros que não conhecem o Tesouro Direto. Quem conhece, por mais que tenha algum atrito inicial, já é um investidor. Temos recebido muitas queixas em relação ao preço unitário (PU), um dado que foi retirado da plataforma. Mas o PU estava mais próximo do investidor experiente, que ficava acompanhando esse número para ver se ele aumentava ou diminuía. Para o investidor que está chegando, o preço unitário não traz uma noção de rentabilidade da taxa do título. Vamos voltar com o PU? Ainda não sabemos. A única coisa que eu posso dizer neste momento é que esse dado para o investidor novo não é interessante e gera confusões.
O foco agora está no investidor iniciante. Mas como fica o usuário que já conhece a plataforma?
Não estamos atendendo só o iniciante. Praticamente todas as informações anteriores continuam no site ou vão voltar em breve, como o simulador. Essa foi uma das principais críticas quando lançamos o novo portal, mas vale lembrar que a ferramenta segue acessível na área logada, que não foi alterada. Também criamos a seção “Dados sobre Títulos”, que reúne tudo o que o investidor experiente já tinha antes e ainda traz dados extras. A plataforma foi pensada para atender a todos, mas nosso foco é conquistar o iniciante.
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Alguma limitação ainda pendente em termos da experiência digital no Tesouro Direto?
Acredito que o tempo de cadastro na plataforma pode ser reduzido. Isso é uma construção que realizamos com as instituições financeiras parceiras e com as outras que podem se associar a nós. Mas precisamos garantir segurança. Não adianta nada ter um cadastro muito simples se ele começar a facilitar fraude. Dentro das nossas parcerias, é preciso convencer as corretoras, já que são elas as responsáveis pelo cadastro do investidor. Primeiro, verificamos se aceitam o cadastro simplificado e explicamos os riscos. Depois, reforçamos que esse modelo vale apenas para o Tesouro Direto – para comprar outros ativos, o usuário precisará completar o processo tradicional da instituição financeira.
Além das mudanças no site, o que tem sido feito para atrair o investidor iniciante?
O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, tem nos provocado nos últimos anos a construir com a B3 iniciativas muito focadas em crianças e adolescentes. Esse público pode levar conhecimento para dentro de casa e influenciar suas famílias. Estamos buscando várias formas de proporcionar educação financeira para esse perfil. Uma das iniciativas é a Olimpíada do Tesouro Direto de Educação Financeira (OLITEF), que passou de 6,5 mil escolas inscritas no ano passado para mais de 15 mil em 2025. Queremos que o Tesouro Direto seja referência. Se alguém oferecer um produto de maior risco, a pessoa já saberá que ele precisa render mais que o título público, o ativo mais seguro do País.