Tesouro Renda+ pode ser boa opção para o planejamento da aposentadoria. Foto: Adobe Stock
Um título público criado recentemente, ainda pouco recomendado no mercado, pode ser uma boa opção para o planejamento da aposentadoria. O Tesouro Renda+, disponível no rol de produtos do Tesouro Direto, vem pagando IPCA + 7,18%, uma taxa considerada bastante atrativa por especialistas.
Para quem está começando agora no mundo dos investimentos, a taxa IPCA + 7,18% é composta por duas partes: a primeira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do país, que garante que o investidor não perca poder de compra; a segunda são os 7,18% adicionais, juros “extras” pagos pelo título além da inflação, representando o ganho real do investimento.
Criado em 2023, o Renda+ tem duas fases. Na primeira, o investidor faz os seus aportes no título. Na segunda, ele começa a receber de volta o montante aplicado ao longo dos anos, acrescido dos juros e corrigido pela inflação. Todo o valor é pago ao longo de 20 anos, em 240 parcelas mensais.
Se o investidor optar pelo Tesouro Renda+ com vencimento em 2030, por exemplo, ele começará a receber as parcelas a partir de 15 de janeiro de 2030 até 15 de dezembro de 2049.
Título ainda é pouco recomendado no mercado
Especialistas ouvidos pelo E-Investidor afirmam que o Tesouro Renda+ ainda tem potencial para ganhar maior espaço no mercado, impulsionado pelo crescimento do modelo de consultoria. Nesse formato, como a remuneração dos profissionais não depende de comissões sobre os produtos, a gestão das carteiras tende a ser mais independente e alinhada aos interesses do cliente.
Produtos baratos, que não envolvem taxas de administração, devem ter maior aderência com o avanço das consultorias. “Faz sentido pagar mais por um produto que custa caro só se ele realmente valer a pena: se entregar resultados, tiver um estudo por trás e fizer sentido para você. Caso contrário, o melhor é optar por um produto mais barato”, diz Tiago Ranalli, sócio da CX3 Investimentos.
Por ser recente, o título tende a ganhar popularidade conforme mais investidores o conheçam. Em julho, último dado disponível, registrou R$ 724,8 milhões em vendas — bem abaixo dos R$ 3,8 bilhões do líder Tesouro Selic.
Jurandir Sell, consultor da Warren Investimentos, também vê a necessidade de o Tesouro Direto realizar mais divulgações sobre o produto. “Infelizmente, a comunicação do Tesouro ainda é frágil. Não explica com clareza o funcionamento do Renda+, e as campanhas, a meu ver, continuam excessivamente simplistas”, diz.
Segundo ele, seria interessante que o programa trouxesse mais explicações sobre o funcionamento do título, que apresenta maior complexidade do que o Tesouro Selic ou o Tesouro IPCA+, por envolver o pagamento da remuneração em parcelas mensais.
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Como mostramos aqui, o Tesouro tem buscado dialogar mais com o investidor iniciante. Neste mês, o programa estreou oficialmente um site reformulado, que traz páginas com informações detalhadas sobre cada um de seus títulos. Mas a nova versão também tem gerado críticas entre antigos usuários.
As vantagens do Renda+
O título tem baixo custo: não exige o pagamento da taxa de carregamento nem da taxa de administração. A primeira, apesar de estar caindo em desuso, consiste num percentual cobrado sobre movimentações realizadas em planos de previdência privada, quando o investidor faz um aporte ou resgate, por exemplo.
Já a taxa de administração é cobrada por diversos fundos de investimento, como forma de remunerar a instituição responsável pela gestão, administração e estruturação do produto.
No caso do Renda+, há a taxa de custódia. Ela é isenta para quem mantiver os títulos até o vencimento. O pagamento só acontece em duas situações: quando os títulos são vendidos antes do prazo ou, no momento da conversão em renda, se o valor das parcelas mensais superar seis salários mínimos. Nesse caso, incide uma taxa de 0,1% ao ano apenas sobre o que exceder esse limite.
Caso o investidor decida resgatar a aplicação antes da data de vencimento, a taxa de custódia sobre o valor escolhido será regressiva:
Resgate de 0 a 10 anos: 0,5% ao ano;
Resgate de 10 a 20 anos: 0,2% ao ano;
Acima de 20 anos: 0,10% ao ano;
Somente na data de vencimento: 0%.
Ranalli, da CX3, comenta que agora é um momento muito favorável para investir no Renda+, já que as taxas de rentabilidade estão em níveis historicamente altos, acima do patamar de 7%. “O investidor que começar a fazer aportes hoje terá um retorno muito positivo no futuro”, diz.
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Ao E-Investidor, a Warren Investimentos montou uma simulação de quanto seria necessário investir para ter um renda de R$ 10 mil por 20 anos com o Renda+. O levantamento considera todos os vencimentos disponíveis: 2030, 2035, 2040, 2045, 2050, 2055, 2060 e 2065:
Enquanto o título apresenta uma rentabilidade historicamente alta, os fundos de previdência privada, em termos de desempenho, têm deixado a desejar, como mostramos nesta reportagem. Pelo menos 3,6 mil fundos (84% do total) renderam menos de 7% no primeiro semestre de 2025, quando o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) do período foi de 6,4%.
Os riscos que você deve prestar atenção
Embora seja um produto de baixo custo, o Renda+ não está livre de riscos. O primeiro ponto é a liquidez: embora o título possa ser vendido antes do vencimento, o resgate antecipado está sujeito à marcação a mercado e pode gerar perdas. Quanto maior a sua data de vencimento, maiores tendem a ser as oscilações das taxas.
“O investimento tem prazo muito longo, o que exige disciplina e disposição para manter os recursos aplicados por décadas”, afirma Rafaela de Sá, planejadora financeira CFP pela Planejar.
De acordo com a especialista, o Renda+ funciona bem para quem consegue fazer aportes regulares e não pretende usar o dinheiro investido no curto prazo. Por outro lado, não é o produto ideal para o investidor que necessita de flexibilidade total ou que pode precisar dos recursos de forma inesperada.
Renda+ ou previdência privada?
Na previdência privada, fundos do tipo Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) oferecem vantagens tributárias, permitindo o abatimento de até 12% da renda bruta tributável no Imposto de Renda (IR) — benefício que não existe no Renda+.
Também há uma questão sucessória: fundos PGBL ou Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) não costumam entrar em inventário quando há beneficiários indicados. Além disso, no final do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucional a cobrança do ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação), o chamado imposto sobre herança, em fundos de previdência privada.
O Renda+, por sua vez, entra no inventário, o que pode atrasar o recebimento dos valores por herdeiros. Patrícia Palomo, planejadora financeira CFP pela Planejar, afirma que o ideal é combinar as duas estratégias – título e fundos – como soluções complementares, aproveitando as características únicas de cada um para construir uma renda futura diversificada.
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De um lado, a previdência oferece benefícios fiscais, planejamento sucessório facilitado e diversificação em fundos multimercado ou de ações. “Do outro, o Tesouro Renda+ traz previsibilidade e custos baixos, mas exige que o investidor tenha clareza de seus objetivos de longo prazo e resiliência frente às oscilações de mercado”, afirma.