- As fintechs trouxeram novas possibilidades de serviços bancários e sem custos adicionais que os bancos normalmente possuem
- O desafio dessas empresas não é ganhar espaço no mercado, mas se tornar em um negócio sustentável
- Por isso, é importante diversificar a carteira e ficar atento ao desempenho dos bancos antes de investir
(Carlos Pegurski/Especial para o E-Investidor) Há apenas dez anos, era mandatório pagar por TEDs, DOCs, anuidades e outras taxas de serviços bancários — nem sempre satisfatórios. Não à toa, as fintechs (união das palavras “financial” e “technology”) chegaram com tanta força, oferecendo o conceito de banking as a service.
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O cenário mudou de tal forma que o banco líder no segmento não tem uma única agência física e conta com mais de 40 milhões de clientes em absolutamente todos os 5.568 municípios brasileiros. Aliás, o Nubank, líder no setor, não para de crescer: quando você terminar de ler este texto, o banco terá cerca de 100 novas pessoas se somando a ele.
Afinal, as fintechs vão substituir os grandes bancos? Qual é a diferença entre eles? Vale a pena investir nesse tipo de instituição?
Entenda como as fintechs entraram no nicho bancário
O setor bancário tem mudado muito rapidamente. Há dez anos, ele era ainda mais concentrado, e as instituições tinham a cara dos anos 1990, sendo bastante analógicas, pouco focadas nas necessidades dos usuários e com taxas altíssimas.
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As fintechs cresceram nessa lacuna de mercado e criaram serviços com foco na gratuidade, na rapidez, na qualidade de atendimento e, é claro, na tecnologia. Se antes da pandemia usar serviços bancários pelo celular e pelo computador era um hábito de poucas pessoas, passou a ser uma necessidade em algumas semanas.
A transformação digital acelerada ajuda a explicar o boom do setor. O Banco Inter cresceu 100% do 1T2020 ao 1T2021 e o Nubank, 63% em menos de dois anos, alcançando 40 milhões de pessoas.
Quer dizer que os bancos tradicionais vão acabar? De jeito nenhum.
Primeiro porque em razão da pressão das fintechs eles também melhoraram a qualidade de seus serviços pela internet. Depois porque, embora as novas financeiras digitais não tenham nada de nanicas, elas ocupam nichos específicos. Assim, os bancos tradicionais ganham por serem mais completos, diversificados e com maior porte.
O desafio das fintechs
O desafio das fintechs não é ganhar terreno, e sim ser sustentável. O Nubank, por exemplo, cobre a maior parte do mercado financeiro, mas apresenta resultados negativos: em 2019 e 2020, o banco deu prejuízo, mesmo sendo o quarto maior da América Latina.
Para reverter o quadro, aposta em seguro de vida e na Easynvest, sua plataforma de investimentos. E tudo indica que a fintech roxinha vai conseguir virar o jogo, afinal ainda não fez seu IPO (abertura de capital) na Bolsa brasileira. E, a princípio, precisa apenas que os resultados apontem saúde financeira para dar esse salto.
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Enquanto o Nubank espera o momento ideal para avançar, o Banco Inter parece já ter conseguido se estabelecer com solidez. Com um crescimento mais orgânico, ele dobrou o número de clientes no último ano e tem conseguido casar uma cartela de produtos que tornam as operações vantajosas.
Graças a isso, entrou em 2021 com previsão de lucro líquido na casa de R$ 76 milhões, de acordo com a Ágora Investimentos. Para 2022, a margem é estimada em mais de R$ 450 milhões. Isso coloca a empresa em condição de oferecer o melhor dos dois cenários, além de mais dividendos para investidores (ainda um ponto fraco).
Conheça as fintechs negociadas na B3
Banco Inter
Fundado em 1994, ainda como Intermedium, o Banco Inter entrou na Bolsa brasileira em 2018 com as ações BIDI3, BIDI4 e BIDI11. As ações iniciais foram vendidas a R$ 18,50 e captaram R$ 722 milhões. Um ano depois, a instituição já tinha crescido 246% e desde então a aposta na diversificação de produtos e serviços, mais do que na mera expansão de clientes, fez a instituição se destacar. É o único banco digital na B3.
Cielo
A Cielo é uma empresa brasileira que trabalha intermediando pagamentos em crédito e débito. Seu IPO foi em 2009, e as ações foram cotadas próximo a R$ 9. Teve seu pico em 2015, quando passou dos R$ 30 e desde então vem caindo vertiginosamente com a perda de boa parte do mercado para concorrentes. Atualmente, as ações são cotadas a R$ 3,64.
PagSeguro
Uma das concorrentes da Cielo é o PagSeguro, fundado em 2006, que fez sua entrada na B3 no início deste ano. As ações PAGS34 iniciaram custando R$ 60, atingiram R$ 66 e hoje estão perto de R$ 50.
BTG Pactual
Especializado em capital de risco e de investimento, o banco fundado pelo atual Ministro da Economia, Paulo Guedes, tem apresentado bons resultados: as ações BPAC11 cresceram mais de 60% nos últimos 12 meses. Desde sua entrada na Bolsa, em 2017, as ações foram de R$ 18 a R$ 122.
Saiba em qual dos modelos investir e o que considerar
As fintechs vieram para ficar, e os bancos tradicionais não vão embora tão cedo. Nesse cenário, em qual dos modelos investir? Vale a pena investir nas fintechs?
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As ações dos bancos tradicionais vão bem (todas no azul, no histórico deste ano), acompanhando a performance dos quatro maiores do setor, que somaram sozinhos um lucro líquido de mais de R$ 18 bilhões no 1T2021. Esse crescimento se refere a 35% em relação ao mesmo período do ano passado.
Mas, ao olhar para o único banco digital da B3, é fácil entender por que as fintechs oferecem um horizonte diferente: nos últimos 12 meses, as ações BIDI4 do Banco Inter subiram incríveis 413,12%. Quem investiu R$ 5 mil há um ano teria hoje R$ 25.656,25.
Por isso, faz cada vez mais sentido incluir as fintechs na carteira de investimentos. É necessário apenas observar algumas questões.
Escolha o momento certo
As ações do Banco Inter seguem subindo, mas é difícil saber até quando, por isso é importante saber o momento de saltar para dentro desse barco — ou, se o objetivo for fazer investimentos de curto ou médio prazos (até mesmo de day trade), de saltar fora.
Entenda que as fintechs não são uma panaceia
Nem tudo que reluz é ouro. As ações da Cielo são um exemplo de que é necessária alguma cautela na hora de olhar para as fintechs. Nos últimos cinco anos, as ações caíram 87%.
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Diversifique as apostas
A saída, portanto, não é muito diferente do que ocorre em outros setores: é necessário diversificar a carteira de investimentos e dar menos chance ao azar. Por isso, nem tanto ao céu, nem tanto à terra: conciliar fintechs e bancos tradicionais pode ser uma boa saída.
Pesquise os fundamentos
Por fim, é fundamental pesquisar os fundamentos do investimento antes de comprar qualquer título. Conheça o setor, leia sobre a companhia, seja cuidadoso na escolha. Investimento envolve risco, mas está longe de ser uma loteria; em vez disso, envolve método.
Com essas precauções em mente, vale a pena investir nas fintechs. Mas tenha cuidado para não queimar a largada. Além das quatro empresas que já estão no páreo, outras logo chegarão. O PicPay é uma fintech com IPO bastante aguardado, e o Nubank também, embora possa demorar um pouco mais.