Assembleia anual de acionistas da Berkshire Hathaway, de Warren Buffet, acontece neste sábado (3). Foto: Adobe Stock
A tradicional assembleia anual de acionistas da Berkshire Hathaway, comandada por Warren Buffett, acontece neste sábado (3). Investidores de diferentes regiões do planeta se reúnem em Omaha, no estado de Nebraska, nos Estados Unidos, para o megainvestidor, no evento que é conhecido como o “Woodstock para Capitalistas”.
O encontro deste ano marca o 60º aniversário da liderança de Buffett na empresa e é o segundo sem o sócio de longa data do investidor, Charlie Munger, que faleceu no final de 2023. Greg Abel, presidente do conselho da Berkshire Hathaway Energy e sucessor de Buffett, participará de perguntas no palco. O diretor de seguros, Ajit Jain, também marcará presença com a dupla em parte do evento.
A reunião acontece em meio às tensões globais com o pacote de tarifas recentemente anunciado por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Até o momento, Buffett não se pronunciou sobre as taxas e sobre a potencial desaceleração da atividade econômica. “Os investidores estarão de olho para entender qual é a visão dele a respeito do impacto que essas tarifas podem ter na economia americana e nos resultados das companhias”, destaca Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, também acredita que Buffett deverá ser questionado em relação à sua visão sobre a economia americana. O especialista ressalta, no entanto, que o megainvestidor não costuma fazer previsões macroeconômicas. “Como sempre, ele deve ressaltar que os investimentos da Berkshire não são baseados no cenário macro, em um presidente A ou B, ou pensando numa guerra tarifária, mas ele deve ser questionado sobre as tarifas, o déficit comercial americano e as perspectivas para a economia olhando à frente”, afirma Alves.
Outras perguntas que devem ser levantadas estão relacionadas à perda de confiabilidade em relação aos Estados Unidos e à própria segurança do dólar. Como mostramos nesta matéria, a moeda americana perdeu força globalmente desde o anúncio das tarifas de Trump. O índice DXY – que compara o dólar com uma cesta de divisas fortes – chegou a recuar abaixo dos 100 pontos em abril, atingindo o menor nível desde 2022.
Política monetária nos EUA
Alves, da Avenue, também acredita que Buffett será questionado sobre as expectativas para cortes de juros nos Estados Unidos em 2025. Segundo ele, investidores podem querer saber quais os planos da Berkshire para os mais de US$ 300 bilhões em caixa caso a rentabilidade dos títulos do Tesouro americano diminua. “As pessoas podem perguntar onde Buffett pretende alocar esse capital. Será que há aquisições no radar?”, questiona.
Visão da Berkshire sobre a Apple
Outro expectativa é em relação às ações da Apple – posição que a Berkshire vem diminuindo nos últimos anos. “Se ele mostrar de novo uma redução na posição na companhia, isso pode alimentar especulações de que ele enxerga um impacto significativo das tarifas de Trump sobre a empresa ou que acredita que o papel já está totalmente precificado, com pouco potencial de ganho”, afirma Zogbi.
Sucessão na Berkshire Hathaway
Perguntas sempre presentes na reunião da Berkshire dizem respeito ao que deve acontecer com a empresa quando Buffett deixar seu comando. Greg Abel, presidente do conselho da Berkshire Hathaway Energy, é quem deve suceder o megainvestidor. “O evento será uma oportunidade dele também demostrar sua liderança, assim como a empresa pode sinalizar como será a transição”, afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
A expectativa é de que Buffett reforce a confiança que tem nos executivos que escolheu para liderar a Berkshire, ressaltando que eles estão preparados para manter a filosofia e a estrutura da empresa. “O principal objetivo de sua fala deve ser passar segurança aos investidores — especialmente porque, a cada edição do encontro, há a possibilidade de que possa ser sua última participação presencial, já que está com 94 anos. Apesar da idade, Buffett ainda carrega toda a credibilidade da empresa, o que torna esse discurso de transição seu maior desafio e o ponto mais aguardado do evento”, destaca Bruna Allemann, head de Investimentos Internacionais da Nomos.
O que o investidor brasileiro deve acompanhar?
Para o investidor brasileiro, a recomendação é de observar os setores nos quais Buffett está posicionado. “A Berkshire é uma empresa muito conhecida por entender bastante as dinâmicas do mercado, então isso pode ajudar o investidor brasileiro a entender como investir melhor e como olhar para o mercado americano neste momento. Buffett é um investidor focado no longo prazo, mas as posições táticas sempre existem”, ressalta Zogbi.
Arbetman, da Ativa, ressalta a importância de acompanhar sinais sobre alocação global, especialmente em setores como energia, commodities e financeiro, que têm um forte peso no Brasil. “Também pode ser interessante notarmos se haverá menção à criação de novos produtos da casa, como um ETF (fundo de índice) com as maiores posições da Berkshire Hathaway, o que facilita o acesso ao estilo de investimento de Warren Buffet“, diz.