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O yuan digital da China pode romper a soberania mundial do dólar?

Banco Popular da China publicou que mais de 5,6 milhões de estabelecimentos comerciais já aceitam yuan digital

O yuan digital da China pode romper a soberania mundial do dólar?
yuan foi criado para reduzir os custos da infraestrutura de se ter dinheiro impresso e garantir maior dinamismo nos meios de pagamento
O que este conteúdo fez por você?
  • Nos últimos 70 anos, após o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos assumiu de vez o posto de economia de primeiro mundo
  • Rafael Franco, CEO da Alphacode, companhia especializada em criar aplicativos, afirma que a moeda digital tem sido vista como uma ameaça à hegemonia do dólar
  • “Se todo comércio chines fosse realizado em yuan, já veremos a substituição da moeda hegemônica mundial para yuan digital", diz André Miceli, coordenador do MBA da FGV

Nos últimos 70 anos, após o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos assumiu de vez o posto de economia de primeiro mundo e sua moeda, o dólar, naturalmente se tornou o câmbio de soberania mundial. No entanto, com o avanço tecnológico e econômico da China, o país asiático passou a se tornar o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB), criando possibilidades de romper a hegemonia da moeda norte-americana, com o yuan digital.

Também conhecida como Central Bank Digital Currency (CBDC ou Moeda Digital Emitida por Banco Central), o yuan digital foi criado para reduzir os custos da infraestrutura de imprimir notas de dinheiro e garantir maior dinamismo nos meios de pagamento.

A moeda está em testes desde 2019, tendo transacionado mais de US$ 14 bilhões. O Banco Popular da China (PBoC, na sigla em inglês) publicou, em 10 de outubro, em sua página oficial no aplicativo WeChat, que mais de 5,6 milhões de estabelecimentos comerciais já aceitam o yuan digital como moeda legal.

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Rafael Franco, CEO da Alphacode, companhia especializada em criar aplicativos, afirma que a moeda digital tem sido vista como uma ameaça à hegemonia do dólar justamente pela lentidão do governo norte-americano em adotar novas tecnologias de digitalização da divisa. Os Estados Unidos demonstraram preocupações com o uso da moeda chinesa, principalmente porque poderia ser um meio de furar sanções e bloqueios econômicos que hoje são regulados pelo dólar”, explica.

Em fevereiro, o senador norte-americano Pat Toomey, membro do Comitê Bancário do Senado, alertou sobre o impacto do yuan digital nos interesses econômicos e na segurança nacional dos EUA em uma carta à secretária do Tesouro, Janet Yellen, e ao secretário de Estado, Antony Blinken.

André Miceli, coordenador do MBA em Marketing e Inteligência de Negócios Digitais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que a questão geopolítica pode ser motivadora para que a moeda chinesa consiga interromper a preponderância do dólar. Ele afirma que nos últimos 20 anos, ao todo, os países reduziram de 70% para 60% as reservas e moeda norte-americana. “É uma substituição que acontece porque os chineses passaram a ser um dos maiores parceiros comerciais em grande parte do mundo”, diz.

O patamar de 60% representa o nível mais baixo das reservas em dólar nos últimos 25 anos, apontou um levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a Composição em Moedas das Reservas Cambiais Oficiais (Cofer).

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“Se todo comércio chinês fosse realizado em yuan, já poderíamos ver a substituição da moeda hegemônica mundial para yuan digital. Até o momento, o dólar é utilizado na grande maioria das transações”, afirma Miceli.

Nelson Mitsuo Shimabukuro, mestre em administração em ambientes digitais da Universidade Presbiteriana Mackenzie, do campus Alphaville, aponta um estudo realizado pelo International Monetary Fund (IMF) em 2019, que demonstra que 93% das importações e 95% das exportações chinesas eram feitas em dólar em 2016.

Ele acredita também que a moeda chinesa pode se tornar protagonista, mas não no curto prazo. “A China tem um longo caminho pela frente, não só em questões tecnológicas, mas em práticas econômicas e conjunturais que o governo precisa ter”, diz.

Contudo, mesmo com o Banco Popular da China estar liderando os testes no quesito de moedas digitais, Shimabukuro destaca que o yuan tem alguns desafios sendo uma moeda controlada pelo governo chinês que não tem toda transparência e governança que o mercado internacional requer. “A posição de uma moeda [no mercado] depende da credibilidade que se cria”, explica.

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“Se a China, eventualmente, estiver controlando as questões de câmbio, pode ser que a valorização ou a efetiva relação das transações seja controlada pelo governo e o mercado pode se sentir incomodado”, diz o especialista.

Davi Ramos, CEO e sócio-fundador da Vante Invest, discorda com o futuro posicionamento do yuan. O analista afirma acreditar ser pouco provável que o dólar perca o seu posto de moeda global. “Não só é moeda usada para a transações globais, como é também uma moeda de emissão de muitas dívidas  corporativas mundo afora”, afirma.

Para ele, os números são a prova de tudo. Enquanto o dólar está cada vez mais forte frente aos seus pares globais, visto que o US Dollar Index (DXY) está nas máximas dos últimos 40 anos, o yuan sofre forte desvalorização frente ao dólar, a maior dos últimos dez anos. “Por mais que a economia chinesa esteja ganhando espaço nos últimos anos, os EUA ainda se mostram com uma qualidade institucional superior”, diz.

Segundo a agência de notícias Reuters, o enfraquecimento do yuan é agravado pelo crescente diferencial de juros com os Estados Unidos, enquanto o PBoC mantém política de relaxamento monetário, na contramão do aperto conduzido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

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O coordenador do MBA da FGV acredita então que, por conta de todas as dificuldades que o yuan apresenta para se tornar protagonista, a hegemonia do dólar não será rompida nos próximos cinco ou dez anos, o que pode ocorrer em um futuro longínquo, em que todas as condições estejam favoráveis.

Shimabukuro, da Mackenzie, afirma que ainda haverá espaço no mercado tanto para o yuan quanto para o dólar. “Vai ter uma redistribuição dos meios de pagamento [...] seja pensando em moeda física ou digital”, conclui.

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