O que este conteúdo fez por você?
- O futuro dos papéis da aviação deve continuar incerto nos próximos meses, assim como a recuperação do setor
- Guerra na Ucrânia e a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) de diminuir a produção de petróleo, o que consequentemente eleva o preço da commodity, podem impactar negativamente as empresas
- Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, afirma que se os ativos das companhias aéreas subirem, não devem chegar a um terço do que eram antes da pandemia
Para os proprietários de ações de companhias aéreas, o futuro sobre os ativos deve continuar incerto nos próximos meses, assim como a recuperação do setor.
Leia também
O Brasil assiste ao fim da alta dos juros, queda na inflação, população com mais recursos para gastar e petróleo recuando das máximas pós-início da guerra da Ucrânia, fatores que poderiam puxar os papéis para cima.
Porém, o agravamento da crise no hemisfério norte, fruto do conflito, e a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) de diminuir a produção de petróleo, o que consequentemente eleva o preço da commodity, podem impactar negativamente o setor. O que indica um cenário difícil pela frente para as companhias, apontam especialistas entrevistados pelo E-Investidor.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, afirma que se os ativos das companhias aéreas subirem, não devem chegar a um terço do que eram antes da pandemia. “É complicado pensar em recuperação com a pressão externa sobre o setor”, diz Luis Novaes.
Para Novaes e outros analistas da Terra Investimentos, a elevação dos juros dos EUA para conter a inflação por lá e a alta do dólar também prejudicam as aéreas neste momento.
O querosene de aviação (QAV), produto derivado do petróleo, é o principal combustível dos aviões. Seu preço vem protagonizando diversas quedas nos últimos meses. A Petrobras anunciou uma redução para as distribuidoras de 0,84% em setembro e 2,6% em agosto.
Dados da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), porém, mostram que o preço do combustível registrava alta de 170% em julho na comparação com o mesmo período de 2019. A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) considera positivas as recentes reduções do preço do QAV anunciadas pela Petrobras, mas elas ainda são insuficientes para cobrir a alta acumulada neste ano, de 47,64%. O QAV corresponde a cerca de 40% dos custos totais do setor.
Publicidade
A Abear destaca que para melhorar o futuro do mercado, é fundamental a criação de políticas públicas para reduzir os custos estruturais do setor aéreo, principalmente em relação à precificação do querosene de aviação da Petrobras. A companhia precifica em dólares um insumo produzido quase integralmente no Brasil. “Ao enfrentar os custos, a aviação terá capacidade para transportar mais passageiros, voando cada vez mais para destinos ainda desatendidos”, declara a associação.
Vale lembrar que o mercado de petróleo foi e ainda é o setor mais afetado pela guerra na Ucrânia, especialmente pela elevação da cotação do petróleo, o que impacta a dinâmica interna de combustíveis.
Dessa forma, tendo em vista que os custos são, a maior parte, em dólar e combustível, as empresas devem ter suas margens ainda mais restritas nos próximos meses, já que são variáveis que não estão no controle das companhias.
E mesmo que as receitas e demandas das companhias tenham avançado – Gol realizou 30,1% a mais de decolagens no terceiro trimestre deste ano se comparado com 2021 – ou que alguns custos nacionais diminuam, não deve ser o suficiente para apontar uma recuperação, dizem os analistas.
Publicidade
Viccenzo Paternostro, gestor de renda variável da Gap Asset, explica ainda que a estrutura de capital das empresas não está robusta em um momento de juros e inflação altos. “Este contexto não é apropriado para ter exposição comprada de forma estrutural no setor”, ressalta, salientando que as companhias aéreas terão dificuldade em se recuperar.
Porém, ele afirma que após o resultado da eleição presidencial pode haver uma perspectiva favorável para a economia, assim como juros mais baixos e real mais forte, o que pode favorecer o Ibovespa,
Movimentos na bolsa
Os últimos dois anos não foram fáceis para quem pretendia investir nesses ativos. Os papéis da Gol (GOLL4) e da Azul (AZUL4) recuaram cerca de 70% desde o primeiro caso de covid-19 no Brasil (26 de fevereiro de 2020) até segunda-feira (17).
Publicidade
As companhias internacionais também seguiram o mesmo caminho. A Delta Air Lines (DEAL34) caiu cerca de 25%; a American Airlines (AALL34), 28%; a Southwest Airlines (S1OU34), 18%; e a United Airlines, 46%.
A equipe de analistas da Terra Investimentos explicou que a concorrência das companhias nacionais com as internacionais é muito limitada.
Além disso, as americanas, por exemplo, não sofrem com o câmbio desvalorizado, pois suas receitas são em dólar, uma grande vantagem sobre as brasileiras. “Essas empresas sempre vão estar à frente das brasileiras”, afirma Novaes.
O dólar frente ao real subiu aproximadamente 19% desde 26 de fevereiro de 2020 até o pregão desta segunda-feira, fechando na casa dos R$ 5,30.
Publicidade
A moeda norte-americana se valorizou nos últimos meses devido ao fortalecimento da economia dos Estados Unidos, destacou Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.
No curto prazo, a Gol anunciou que estima um recuo por ação de aproximadamente R$ 1,81 no terceiro trimestre de 2022. Já para cada “ação depositária americana”, a perspectiva é de US$ 0,71 de prejuízo.
No último relatório divulgado pelo BTG Pactual, os especialistas apontaram que já esperavam o período de julho a setembro fraco, “dado os preços de câmbio e combustível continuarem sendo ventos contrários para o setor aéreo”. De todo modo, os analistas afirmaram que “a Gol continua sendo nossa escolha relativa no setor, dada sua maior exposição ao mercado interno”.
Publicidade
A Azul, questionada pelo E-Investidor se estima alguma desvalorização no preço de suas ações, optou por não comentar. A divulgação do próximo balanço será divulgado em 10 de novembro.
Os analistas do UBS BB, em relatório divulgado na última quinta-feira (13), utilizaram os resultados preliminares da Gol como referência para atualizar os números da Azul. “Aumentamos as premissas de preço de combustível para Azul e mantivemos os yields estáveis no trimestre (ajustado pela sazonalidade)”. Para 2023, o banco elevou o Ebitda da Azul para R$ 5,5 bilhões.
O banco também manteve recomendação de venda para Azul e Gol, mas elevou o preço-alvo de Azul de R$ 11,50 para R$ 12,50 e de Gol de R$ 8,60 para R$ 8,80. Os analistas entrevistados pelo E-Investidor, por sua vez, apontaram que esse é o momento de ficar de olho nos papéis, mas não ter posições nas carteiras.