As ações da Azul (AZUL4) despencaram 9,74% nesta terça-feira (29), negociadas a R$ 1,76. No acumulado de abril, os papéis acumulam um prejuízo de 46,5%, a maior perda entre os ativos que compõem o Ibovespa. O principal gatilho para essa desvalorização expressiva no período foi uma oferta subsequente de ações, finalizada na semana passada e que provocou uma forte correção nos ativos. O “follow on“, como essas ofertas são popularmente chamadas, era necessário para trocar dívidas em dólar em ações da companhia aérea e levantou R$ 1,6 bilhão, abaixo do potencial máximo da operação, estimado em R$ 4,1 bilhões.
A falta de apetite dos investidores na oferta entrou no radar do mercado. De acordo com João Daronco, analista da Suno Research, a companhia é hoje uma empresa bastante endividada, com alavancagem financeira elevada e que atua em um setor desafiador. A aviação é um segmento em que as empresas precisam de capital intensivo para lidar com as margens pressionadas, forte concorrência e os impactos da volatilidade dos preços dos combustíveis, que representa uma parcela relevante dos custos. “No longo prazo, a Azul não tem conseguido gerar valor significativo para seus acionistas, seja por meio do pagamento de dividendos, crescimento consistente ou recompra de ações”, afirma o especialista.
Nesse cenário, o anúncio de uma nova oferta de ações foi recebido com frustração por parte do mercado. Esse tipo de operação é entendido como um pedido da empresa ao investidor por mais capital para continuar operando. “Quando, na visão de muitos analistas, o papel da companhia deveria ser justamente o oposto: devolver valor ao acionista”, afirma Daronco. Um follow on também tende a ser prejudicial para quem investe com foco no longo prazo, segundo o analista, pois dilui a base acionária e impacta métricas importantes, como lucro por ação e valor patrimonial por ação. “Diante disso, o que temos observado é uma crise de confiança por parte dos investidores, que estão cada vez menos convictos de que a Azul será capaz de entregar resultados sustentáveis no futuro”, diz.